Rosas azuis

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-Fanny, minha florzinha? Está acordada?
Uma voz masculina e grossa soava ao lado de sua cama. Era o seu pai. Ele estava vestido com um avental de jardineiro e tinha um pacote pequeno e azul nas mãos. Fanny se levantou, esfregou os olhos e olhou para sua coroa caída ao lado de sua cama e aos pés de seu pai.
-Há um tempo você não me chama assim, pai. -Fanny deu um sorriso para ele e o abraçou.
-E há um tempo você não cai na cama sem trocar de roupa. -Seu pai deu-lhe um sorriso largo.
Os dois se olharam e então, vendo que Fanny não diria nada ele continuou.
- Consegui sementes de rosas azuis...
-Espera, elas não existem naturalmente... Conseguiu sementes geneticamente modificadas? -Fanny se ergueu animada. Gostava de coisas laboratoriais, algum dia criaria algo novo e ganharia um prêmio por sua criatividade.
-Sim, na verdade, você poderia me acompanhar? - O pai de Fanny deu-lhe o braço e Fanny se entrelaçou neles.
Os dois desceram as escadas e os olhos de Fanny brilhavam. Quandi chegaram ao jardim Fanny se deparou com sete flores azuis quase desbotadas crescidas nos fundos de sua casa.
-Já cresceram? Como eu não vi? Eu... eu...
-Você tem andado ocupada e cheia de coisas ultimamente. Mas sem problemas, só não se esqueça de quem você é Fanny.
Fanny se aproximou das rosas e cheirou-as. Tinha cheiro de orvalho e um perfume doce. Era o cheiro de uma rosa.
-E quem eu sou pai?
-Oras, você é você Fanny. Somente você pode responder essa pergunta. -O pai apoiou a mão em seu ombro. -Está na hora de se arrumar para ir para a escola.
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O dia escolar naquela manhã fora produtivo como os outros, Fanny conversara com as meninas e percebeu que Tezi andava evitando-a. Falou com Willian que deu-lhe seu número e um beijo no canto dos lábios. Era o primeiro semi beijo de Fanny e ela se enrubeceu e afirmou que precisava ir embora. Como resposta Willian apenas sorriu para ela  e abaixou a cabeça, esperou que ela deixasse a árvore em que estavam e fizesse a curva atrás da escola desaparecendo de sua visão. Os dois se gostavam tanto... Era como se estivessem confortáveis juntos, era bom muito bom, pelo menos até aquele momento.
Fanny voltou a pé para casa e ficou imaginando como seria sua carreira e seus estudos mais à frente. Poderia se especializar em homeopatia, podia ser veterinária, podia ser tudo que quisesse, era tão boa em tantas coisas que as vezes isso dificultava um pouco a tarefa de escolher alguma coisa. Eram os sonhos que a faziam forte. Passou a tarde inteira estudando e então decidiu olhar pela janela o lado de fora, abriu-a e sentiu o ar pelas suas narinas. Fechou os olhos e depois abriu. O que era aquilo? Fanny sentiu seu coração se acelerar, havia uma menina com uma cabeça de unicórnio e vestido florido semelhante ao dela segurando as sete rosas azuis que cresceram no jardim de sua casa. As rosas foram completamente arrancadas e a menina usava uma luva grossa de jardinagem. Aquilo era estranhamente peculiar. Tinha que sair para ver de perto. Já era noite mas tinha que ver. Quando se afastou um pouco da janela, percebeu que a menina começara a correr.
-NÃO!! ESPERA!!! -Fanny tentou gritar-lhe.
A menina continuou a correr. Ela tinha algo a ver com Dani? Precisava saber. Fanny bisbilhotou a sala, onde seus pais estavam deitados no sofá quase dormindo. Eles não a veriam. Pegou um casaco preto pendurado na porta e pôs por cima de sua camiseta branca. Calçou as botas de jardinagem pretas de seu pai e disse para si mesma que precisava seguir aquela menina, independente da ordem policial. Precisava saber. Fanny abriu a porta vagarosamente e saiu de casa. A menina estava no fim da rua virando à direita. Fanny correu atrás dela pela rua, passou pela casa de Tezi que tinha as luzes do quarto acesas. "Ninguém vai me ver". Fanny correu deixando os cabelos escuros caírem atrás de si. A calça que usava era um tanto apertada e a impedia de ser mais rápida, porém, tinha que ser. Acelerou o passo e chegou até a curva que a menina fizera e mais uma vez ela estava longe. Fanny seguiu-a pelas ruas escuras, até chegar ao centro de sua cidade. A menina com cabeça de unicórnio entrou em  um Instituto de Criminalística e análises de corpos. Fanny sabia pois havia uma grande placa no topo de um lugar semelhante à uma clínica escura e pouco iluminada. Parecia que ninguém estava trabalhando lá. Já deveria estar tarde, muito tarde. Entrou devagar e viu o vulto da menina passar por um corredor à sua frente. Fanny a seguiu e então uma luz forte se acendeu e iluminou o seu rosto. De onde viera? Quem ligara aquilo? Fanny reabriu os olhos devagar e se deparou com uma sala cheia de mesas metálicas e gavetas. Então lá estava, bem em cima de uma mesa metálica, as sete rosas postas uma ao lado da outra. Fanny se aproximou. Aquilo era assustador . Pegou uma das rosas e as pétalas caíram à mesa, deixando à mostra um bilhete. Fanny tirou-o e desenrolou-o.

Você tem que ser a culpada. Não pode ser eu. Tem que ser você. Além do mais, sua amiga Tezi sabe quem foi que empurrou a Dani. Você devia perguntar para ela. Você tem que ser a culpada Fanny, minha querida rosa azul.

Fanny estava assustada com aquilo. Não podia ser. Quem estava fazendo aquilo? Fanny virou o bilhete e havia mais coisas escritas.

Se você não recolher as rosas, vão pensar mesmo que foi você quem sumiu com o corpo da Dani. É melhor começar agora Fanny.
Ah, já estava me esquecendo, será que o seu namoradinho vai perdoar você se souber que a culpa foi sua?

-EU NÃO FIZ NADA DISSO! PARE! PARE! -Fanny gritou. -QUEM É VOCÊ???

As flores em minha cabeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora