-Olá... Fanny... -Falou Tezi se aproximando da árvore em que Fanny estava sentada abaixo com um livro nas mãos.
Tinha que ser forte, aquele dia não começara tão animador com todos aqueles olhares estreitos e a única coisa que a deixara apaixonada foi a aula de história, com todos aqueles monumentos antigos, seria difícil não viajar mentalmente. Tezi estava tentando ser gentil, tal como era antes .
-Olá, Tezi. -Os olhos cor de mel de Fanny a encararam com receosidade.
-Bom... eu vim até aqui porque... - Tezi parou e enfiou as mãos nos bolsos de sua calça jeans azul e olhou para baixo. -Porque eu me senti culpada, culpada por deixar você sozinha e depois de aquilo tudo...
-Você acha que eu a matei? -Falou Tezi suave, porém firme.
-Na verdade não. Tenho certeza que não.
Aquilo soara estranho, como podia ter mais certeza que os outros?
-Sente-se. -Falou Fanny indicando para um lugar ao seu lado e assim Tezi o fez.
-É só que eu queria muito recomeçar e esquecer de tudo aquilo. Como no dia dos bolinhos.
Como se isso fosse possível. Voltar a ser como antes. Mas como uma Fanny cheia de flores na cabeça com ideias fixadas de que tudo iria dar certo se fosse gentil, uma hora outra talvez isso fosse possível.
-Podemos tentar... Só não garanto que vai funcionar. -Fanny tentou um sorriso falhado para Tezi.
-O que você está lendo? -Perguntou Tezi.
-A Odisséia. Bem antigo. -Falou Fanny se ajeitando, projetando seu corpo fino para frente.
-Por que você não lê isso? -Tezi tirou da bolsa uma revista cor de rosa e um batom avermelhado. Ela passou o batom em si mesma e apresentou a revista para Fanny.
-Onde você conseguiu isso? -Fanny perguntou intrigada.
-Ah... foi um presente da Cloe, já que os pais de Dani estão tirando algumas coisas da casa que não querem guardar.
-Você está andando com elas? -Fanny perguntou tentando manter-se neutra.
-Não, claro que não... é só que... - Os cabelos curtos de Tezi pareciam destacar o seu olhar apreensivo. -Tudo bem eu estou andando com elas. Depois da morte de Dani elas voltaram sua atenção para mim e eu apenas aceitei...
-Por que você ainda está aqui Tezi? -Falou Fanny se lavantando e Tezi após ela.
-Eu quero ter você por perto, também gosto da nossa amizade ou antiga amizade. Entende?
Fanny pôs-se andar para longe da árvore e Tezi foi atrás dela.
-Você não pode simplesmente tentar de novo? Tentar ser amiga de Cloe, Nina e eu? Elas estão precisando de ajuda Fanny! Ainda sentem a perda de Dani.
"Vi como sentem, já até arrumaram alguém para substituir".
-Não posso.
-Espera, tente, por favor. Se essa resposta for afirmativa, nos encontre depois da aula na arquibancada da quadra. Sabemos que você não pode sair de casa sem acompanhamento.
-Sabemos? Como é que você sabe disso?
-A polícia informou que manteria os suspeitos nessa ordem e imaginei que bom... -Tezi abaixou a cabeça. -Apenas me desculpe Fanny.
Fanny a deixou sem dizer nada e voltou ao interior do colégio de cabeça erguida.
______________________Todas aquelas fofocas e conversas não a incomodavam tanto quanto imaginava, mas era ruim. Enquanto lanchava, viu Willian se aproximar com uma bandeja.
-Posso me sentar com você?
Fanny apenas meneou que sim com a cabeça.
-Então... é eu não consigo me conter. Foi você que matou a Dani?
Não era possível que ele estava perguntando aquilo, mas ele tinha um motivo e ele era o único que não a fazia se sentir incomodada com uma presença ou olhar. Ele parecia ter boas intenções.
-Eu não a matei Willian. Eu me tranquei em um armário e fiquei lá e apenas ouvi o barulho dela... caindo.
Ele pareceu pensativo e então depois retomou com aqueles olhos azuis e leve sardas nas bochechas.
-Acredito Fanny.
Ele pareceu querer tocar sua mão, mas por receio, não o fez.
-Você quer sair um dia desses? Eu posso pagar um sorvete ou algo assim...
Como ele era bondoso. As bochechas de Fanny coraram.
-Claro, mas eu não posso sair das dependências da escola ou de minha casa sem acompanhamento. Se quiser me visitar um dia eu prometo que mostro minha coleção de livros. -Fanny sorriu para ele ajeitando os cabelos à frente de si.
Não era algo a se pensar, mas Dani estava morta, não havia como haver algo entre eles.
-Pode ser então. Eu levo o sorvete. O que você acha de ser nesse final de semana? -Ele parecia ter a testa suada.
-Com toda certeza!
_________________________-Não acredito que você veio mesmo! -Tezi sorriu ao lado das garotas sentadas na arquibancada com aquelas suas roupas sofisticadas.
"Eu mal acredito que vim..."
-Eu achei que você não viria... -Falou Nina sorrindo quase maliciosa.
-Eu pensei que você viria, mas que estivesse mais desesperada ou algo assim.
-Parem meninas! -Ordenou Tezi.
Era perceptível que Cloe e Nina fizeram de Tezi a nova líder, visto que todas elas escureceram os cabelos, semelhante a Tezi. Nina tinha os cabelos mais longos que o de costume, devia ter feito algo, e estavam ondulados. Cloe cortara o cabelo no ombro e fizera uma franja lateral, todo o seu cabelo estava liso. Eram como cópias pouco diferentes de Tezi, tal como foram de Dani.
-O que vocês vão fazer aqui? -Fanny perguntou se sentando ao lado delas.
-Con-ver-sar minha querida. -Falou Cloe.
Cada uma delas contou algo sobre si, Cloe contara que iria sair com o novo líder do time de futebol e depois se aprontaria para o enterro de Dani no dia seguinte. Nina contou que faria compras com sua mãe e depois iria ao enterro e Tezi afirmou que mudaria de visual e que seria uma surpresa.
-E você, garota das flores? Vai fazer uma nova coroa como essa que está usando? -Perguntou Nina, no entanto não debochava.
Na verdade não tinha que falar nada para elas, mas algo dentro de si queria dizer, queria ser como uma menina e ter conversas de menina.
-Willian vai à minha casa no final de semana.
Todas ficaram em silêncio e Tezi ergueu a sombrancelha.
-Sabe o que isso vai parecer não sabe? Que você matou a Dani para ficar com o Willian, vai dar mais um motivo para eles.
-Eu não me importo. Eu sou inocente. -Falou Fanny já se pondo de pé. -Eu sou mais do que uma simples menina assustada.
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As flores em minha cabeça
Teen FictionAs flores. O amor. A amizade e as intrigas. Tudo isso faz parte da vida de Fanny. Independente de como começou ou de como terminará essa história, uma coisa é fato: Fanny faz das flores e de sua própria mente o seu refúgio. Em meio à um turbilhão d...