Escócia

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O período na Escócia foi maravilhoso. Fiquei hospedada na casa da minha amiga e irmã Helen. Havíamos trabalhado juntas no Moçambique. Helen é a minha irmã escocesa! A nossa amizade começou durante um encontro entre os expatriados e começamos a conversar e nunca mais paramos!! Ela era uma ex atriz que havia renunciado a tudo para seguir Alistair ,seu marido, pela África onde ficaram por dez anos. Criativa e amiga, as conversas com Helen eram sempre sobre arte e sentimentos. Ela tinha duas filhas na época: Molly e Fiona. Tara nasceu após a minha saída do Moçambique. Quando soube que ela estava grávida fiquei muito feliz. Fizemos uma festa onde cada expatriado deveria levar algo sobre o próprio país e foi a festa mais linda da minha vida. Simples e significante. Os cubanos cantaram, os ingleses dançaram, os escoceses foram vestidos a caráter, os africanos recitaram enfim... uma colcha de retalhos. Eu levei algumas bananas fritas com açúcar e canela. Foi um sucesso!

A casa da Helen é linda e encontra-se envolta por uma paisagem exuberante. Fui para lá num momento de transição. Eu não queria mais ficar casada e não sabia como sair de um casamento sem magoar ao outro e a mim mesma. Uma ilusão terrível! Eu ficava deitada no quarto que ela me deu e olhava para as estrelas. Sob o teto havia uma pequena janela de vidro transparente que ajudava a ver as estrelas nas noites de lua cheia. Meus pensamentos voavam longe. Eu estava pensando o que faria da minha vida. O casamento acabando e eu me sentia acabada. Não havia mais uma moradia fixa e o destino estava nas mãos divinas e em parte em minhas mãos.

Minha grande companheira era Megan, a linda cadelinha da família Danter. Megan e eu nos demos bem desde o primeiro encontro. Ela dormia de fronte ao meu quarto. Uma decisão dela que interpretei como proteção a mim. Como sempre amei os cães, fiquei feliz em tê-la por perto. Durante todo o período escocês ela foi a minha doce sombra.

A rotina começava cedo e o chá quentinho era servido para todos. Não comíamos nada até o meio dia quando o almoço era servido. Um hábito que absorvi durante o tempo que lá estive. Longas conversas com Helen me fez ver o quanto ela era uma pessoa forte e linda. Fiona, a mais velha sonhava em ir para Londres. Molly era vegetariana e disse-me que desde pequena resolveu não comer mais carne porque ela convivia com muitos animais em sua casa (vacas, bois, cavalos) e não concebia a ideia de ingerir um alimento assim. Tara, por sua vez me dizia que amava a Escócia. Porém, ela adoraria conhecer um shopping center e me perguntava sempre como eram os grandes prédios cheios de lojas em meu país. Na Ilha de Sky não havia grandes centros comerciais. A vida era cadenciada pela luz do sol. Cuidávamos dos animais, das plantas e das meninas. A televisão era uma distração que se intercalava com momentos de leitura. À noite íamos para a sala de estar e conversávamos. Molly tocava harpa para nós. Helen me dizia que aquele era o momento da família e não da televisão. Megan estava sempre por perto.

No dia que fui embora Helen me levou à praça principal onde eu tomaria o ônibus que me conduziria para Glasgow. Megan me olhava pelo vidro. Chamei-a com alegria. Mas Megan não desceu do carro, contrariamente das outras vezes em que ela descia velozmente ao ouvir o meu chamado. Megan sabia que eu estava partindo. Chorei muito e ainda vejo o seu olhar triste e fixo diante de mim. Os animais simplesmente sabem. Nós tentamos sempre interpretar os fatos e muitas vezes nos enganamos.

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