Capítulo 8

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Christian suspirou, xingando-se mentalmente. Ele não gostava nem gostava da garota. Não sabia nada para ter uma linha de raciocínio sobre ela. Mas com certeza ela não tinha culpa de nada, não merecia ouvi-lo descarregar suas irritações sobre ela daquele jeito. Ela foi criada para aquilo, então não tinha nenhuma objeção. Foi ensinada que teria um marido escolhido por seus pais, e estava bem com aquilo. Ele não podia simplesmente se irritar com algo que nem era culpa dela.

Bufou e levantou-se da cadeira, jogando o guardanapo na mesa sem a menor cerimônia.

_ Com licença - pediu, e se pôs a ir atrás da menina.

Não precisou procurar, a porta dupla do hall estava aberta, direto para uma varando espaçosa, onde Ana estava sentada no banco balançante.

_ Hey - chamou sua atenção, encostado no vão da porta.

A garota, que admirava o jardim, virou-se para ele.

_ Sim? - questionou, a expressão vazia.

Ele não sabia dizer se ela estava triste, irritada, com raiva, ou apenas sem sentimentos.

Droga, aquilo iria ter que mudar.

Inspirou o ar e se aproximou da menina.

Mesmo com toda a situação, ela tinha apenas dezoito anos, todos podiam apostar nela como uma mulher adulta e madura, mas ele apenas conseguia ver uma garota.

_ Me desculpe por aquilo, não tem nada a ver com você. Às vezes os meus pais me irritam um pouco.

_ Tudo bem - murmurou ela.

Ele mordeu o lábio.

Talvez ela achasse que era mais fácil apenas deixar para lá, o que para ele era a pior coisa.

_ Eu não queria ter dito aquilo - disse.

_ É a verdade... - ela sussurrou.

A garota não o olhava mais, mantinha o olhar apenas nas flores, na grama.

_ Isso não quer dizer que tenha que ser dito - disse Christian. - Você não tem culpa de nada disso. Eu não vou mentir, não aceito nada dessas coisas. Mas isso não quer dizer que eu vá culpar você. Eu quero que isso dê certo, e eu acho que você também. Afinal, não será algo que podemos repensar.

Claro que não.

O divórcio só era aceito para os homens, aqueles que não estiverem satisfeitos com suas mulheres, ou por traição da parte das mesmas. Um homem poderia se casar quantas vezes quisesse, mas uma mulher divorciada nunca seria bem vista na sociedade da Bulgária.

_ Uhum - ela murmurou.

Christian começou a achar que ela talvez estivesse irritada. Algumas mulheres tendem a ser monossilábicas quando estão com raiva.

Ele suspirou.

_ Acho que devíamos conversar a sós, resolver isso entre a gente antes de falar com nossos pais.

_ Isso?

_ É, nosso casamento.

Ela franziu o cenho.

_ Eu realmente não vou ficar aqui - falou firme. - Eu sei que vai ser complicado para você no início, mas logo se acostuma. E você vai adorar Nova York.

_ Tudo bem, Sr. Grey - ela disse.

Não estava tudo bem, mas logo ficaria. Ela sabia.

Ele bufou.

_ Okay, tem umas coisas que vão ser diferentes entre nós - falou ele.

_ Quais? - questionou, se virando para o outro.

_ Primeiro, não quero que me chame de senhor, isso é realmente desconfortável - confessou.

_ Como devo chamá-lo então?

_ Christian? Marido? Amor... - ele revirou os olhos divertidamente. - Como preferir, menos de senhor. Se bem que, talvez, em algumas ocasiões você possa me chamar assim.

A garota franziu as sobrancelhas.

_ Que ocasiões?

_ Hã...

Ele podia dizer uma piadinha de duplo sentido, podia dar em cima dela, uma cantada certeira talvez. Era o que faria com qualquer mulher e ganharia uma noite com ela em sua cama. Mas aquela ali, bem, ela seria a sua mulher, ele não poderia transar e depois não lembrar de seu nome, não poderia sair e não ligar no dia seguinte. Então optou por apenas esperar.

_ Esquece - murmurou ele.

Ela sorriu e concordou com a cabeça.

_ Também... - continuou - hã... quero que convença nossas mães à fazer um casamento mais simples, você sabe, sem quinhentas pessoas que nós nem mesmo conhecemos.

_ Isso vai ser difícil, sabe que nossos pais nunca fariam isso.

_ É o seu casamento, precisa ser do seu jeito. E eu tenho certeza que assim como eu você não quer o país inteiro no nosso casamento.

Ela suspirou.

Ela não tinha um jeito mesmo, hein.

_ Eu vou tentar - prometeu aquela promessa vazia e sem nenhuma sustância.

_ E eu odeio que me tratem como inválido, não seja o tipo de mulher que acha que tem que colocar até o prato do marido na mesa.

_ Mas... - protestou.

Não que ela tivesse que fazer aquilo, aquela era uma tarefa das empregadas, mas havia entendido o ponto da conversa.

_ Eu sei, você foi criada com esses princípios, mas eles não vão ser usados comigo. Também não aceito submissão obrigatória, se você tiver uma opinião contrária, argumente. Nunca, é sério, nunca abaixe a cabeça para mim em alguma conversa. Rebata e discuta.

Ela abriu a boca e fechou em seguida. Não havia o que dizer, sua cabeça já estava uma confusão.

Ela nem sabia rebater e discutir.

_ E por último: você sempre pode dizer não. Sabe, à qualquer coisa.

Ela franziu o cenho.

_ Desde o lugar ao sexo - completou ele.

Ela engoliu em seco.

Ela poderia dizer não? Como? Falar sobre sexo não era algo constrangedor, apesar de tudo. Era até natural demais. Então ela sabia toda a dinâmica da coisa. Naquela relação, ela tinha que satisfazer o marido, teria que dar prazer sempre que ele quisesse. Não podia simplesmente dizer não ao homem.

Não comentou. Não era uma promessa que poderia fazer depois de dezoito anos sendo ensinada ao contrário daquilo.

_ Só assim isso vai funcionar - disse ele.

_ Eu vou fazer o possível, Sr... Hã, Christian.

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