sky

4 0 0
                                    

Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma ideia vale uma vida.

-titãs

Não sei como subi na laje desse prédio,só sei que estou aqui e que provavelmente vou pular. Nunca tive medo de altura,muito pelo contrário, lugares altos me inspiram,provavelmente por isso escolhi esse prédio, a altura dele deve ser de uns 820 metros a constatar pela vista. Não sei se estou sendo covarde ao fazer isso, sei que minha mãe desaprovaria veemente, mais se ao menos ela estivesse aqui, eu não precisaria fazer isso. Pois ainda ia ter esperanças de que a vida não me tiraria mais ninguém.
Caminho mais um pouco ficando a poucos centímetros da beirada de onde eu logo irei me jogar e observo a paisagem lá em baixo.
-É realmente incrível.
Me viro rapidamente ao escutar uma voz masculina ecoando atrás de mim,a surpresa me faz perder um pouco o equilíbrio e quase caio para trás, porém braços longos_ e bastante fortes, me seguram. Rapidamente me recomponho,sem saber o que dizer,é então que realmente reparo no rapaz que acabou de me "salvar". Não que tenha algo para reparar, pois seu rosto está coberto de tinta falhando em alguns cantos,seu nariz está coberto por uma enorme bolinha vermelha e seus cabelos escondidos em uma peruca engraçada, então percebo que ele está _ou pelo menos estava,fantasiado de palhaço.
Tento recuperar a fala que o susto de ter mais alguém alí me roubou,mas é em vão.
-Ufa! Ainda bem que eu estava aqui se não ,você teria caído.
Tento disfarçar minha cara de descontentamento, pois se não fosse ele,eu já teria me jogado dalí e em fim estaria em paz, para não perder mais ninguém.
-e então? Não mereço um ' obrigado'?
Olho para ele com cara feia e me viro novamente para observar as luzes da cidade, não sei se ainda consigo pular daqui, estava submersa de uma coragem insana em que esse palhaço bobalhão me roubou.
-é muito lindo aqui de cima ne?!
Ele continua falando como eu fosse alguma colega que  compartilha dos mesmos interesses que ele.
-você por acaso é muda?, ou apenas ficou sem palavras pela beleza desse palhaço aqui?
Me viro novamente,Não escondendo minha raiva.
- casos você não percebeu,eu estou ocupada!
- ah! _Ela fala. Sim,eu percebi que você está muito ocupada olhando essa paisagem incrível, também faço isso com frequência.

Alguma coisa em mim, me dizia que esse cara sabia o que eu estava fazendo_ou o que eu estava prestes a fazer,quando ele me interrompeu.

- sim,estou olhando a paisagem,se me der licença...
- desculpe,mas estou tomando um ar fresco que só esse lugar pode me oferecer, então...
- então nao me responsabilizarei casos você fique traumatizado com o que estou prestes a fazer .
- Você vai fazer um strip tease pra todo mundo vê, ou o que? Se bem que não seria nada mal..
- você sabe o que eu vou fazer
- É,na verdade eu sei sim
- bom,então é isso, espero que você não tente me impedir como qualquer outra pessoa faria.
- eu não ia fazer isso.
Aquilo me surpreendeu um pouco mas logo voltei ao meu estado normal.
-então é isso ...
Me virei novamente e aproximei da beirada do prédio.
-sabe? Você poderia ao menos me dizer seu nome. Pra quando os policiais perguntar eu souber dizer.
- Skay
- como o céu?!
Aquilo me fez lembrar minha mãe, uma vez cheguei da escola primária chorando e ela me perguntou o que tinha acontecido,entre soluços eu disse que meus colegas estavam zoando meu nome, pois segundo eles era nome de algo eletrônico_na época eu não entendia direito,e outros disseram que no céu viviam uns pássaros feios e eu era igual a eles. Ela enchugou as lágrimas do meu rosto e disse;
- o aparelho eletrônico tem esse nome,pois quem o criou achou um nome muito interessante, e quanto aos animais...todos têm sua beleza própria, o céu é lindo e nos proporciona infinidade de coisas maravilhosas, sem ele não teríamos chuva,arco-Íris,estrelas,lua nem nada. Por isso eu coloquei esse nome em você minha filha, pois você é preciosa como o céu.
Aquela lembrança fez escorrer uma lágrima pelo meu rosto,mas logo a afastei,Não queria que esse estranho me visse chorar.
- sim,como o céu.
- É um nome bastante interessante! Queria que meus pais tivessem uma criatividade legal também.
Sei que não deveria,mas fiquei curiosa para saber o nome dele.
- qual é seu nome?
- acho que não importa muito,você vai se jogar daí,Não vamos nos vê outra vez... Talvez em outro plano,quem sabe?!.
Isso me lembrou o que eu realmente estava fazendo alí.
- bom, eu vou me sentar alí_ e apontou para onde tinha algumas sacolas desenhadas o símbolo do Mcdonalds.
Meu estômago roncou um pouco,fazia mais de 24 horas que não tinha comido nada, desde que... bom desde que tiraram mais uma razão minha de viver. Mais depois que eu me jogasesse dalí,não importaria se sentisse fome ou não.
- você não quer um pouco? antes de..
Ah! como eu queria! Decidi que não seria justo para o corpo em que abitei 17 anos morrer sem ao menos comer um último Mcdonalds.
- Sim,quero sim.
Me aproximei e sentei ao seu lado.
-aqui_ ele me ofereceu um pedaço do qual eu nem parei para pensar que vinha de um completo estranho.
- qual é a dessa fantasia de palhaço?
Me rendi a curiosidade.
- sou voluntário naquele hospital_ apontou para um prédio branco que se encontrava de frente para o que a gente estava. Por que será que a maioria dos hospitais são branco?!É tão triste.
- legal! E você faz o que lá?
- participo do programa doutores da alegria,cuidando de crianças que portam alguma doença.
- Ah! Muito interessante.
É então que meu celular toca novamente.
- você não vai atender?
- não,acho que não.
Porém continua tocando insistentemente uma música do three gray, bom pelo menos o meu toque de celular é legal. Decido atender.
- aonde você está? _ é marck,como eu já imaginava.
- e isso importa?
- claro que sim skay eleanora, você tem que vir para casa agora!_ ele desliga na minha cara,aquilo me ferve por dentro.
Me levanto bruscamente e percebo que estou decidida a ir embora, desisti de me jogar daquele prédio e nem sei bem porque.
- eu tenho que ir
- desistiu de se jogar?
- por hora,sim
- fico feliz!
Saio andando sem ao menos dizer obrigada ou perguntar seu nome novamente, eu não consegui me jogar dalí, mas essa ideia não saiu completamente da minha cabeça. Porém se existir hora para suicídio,sem dúvidas não era aquela.

Art & Soul - No Céu É Mais PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora