Amin

1 0 0
                                    

Tô tentando te encontrar,
Tô tentando me entender,
As coisas são assim.

-Detonautas.

- eu me chamo... Porque isso importa realmente?.
Ao dizer isso acelero o carro e sigo adiante.Não sei bem o porquê de não ter dito ainda meu nome a essa garota. Mas agora com ela trabalhando no beco, vou vê- la frequentemente e uma hora ou outra irei dizer.

Chego em casa pouco antes das uma, e caminho direto para o quarto,tenho apenas cinco hora de sono antes de ir para o hospital. Ouço papai tocir do quarto e imagino que foi uma espécie de bronca silenciosa. 'Isso é hora de chegar em casa, no meio da semana?'.
A noite passa rápido e os sons dos passarinhos junto com o meu despertador me acorda. Tomo o café da manhã,e sigo para o hospital.
Após fazer uma maquiagem de alguns anos de prática e colocar minha fantasia, vou ao encontro dos outros voluntários. Sou o mais novo daqui a olhar pela aparência de cada um. Todos parecem ter uns 30 a 40 anos diferente de mim que tenho 20.
Comecei a participar aos 16 anos, na época algumas pessoas não concordaram pois segundo eles  eu era muito "novo". Porém acabei conquistando os pais das crianças internadas aqui e continuei com o meu trabalho.
Agora com quase 21 pretendo seguir a carreira de médico__ papai não gostou muito pois  queria que eu trabalhasse em uma de suas empresas.
Mas esse era sonho de Aiden, não meu.
Ele estaria completando 21 anos logo,assim como eu. Meus pensamentos são interrompidos por uma garotinha de cabelos cor de mel e algumas sardas espalhadas pelo nariz.
- Doutor?
Gosto quando me chamam assim,mesmo que eu de fato ainda não seja um médico.
- ei que carinha é essa?__ ao falar isso aperto no meu nariz de palhaço produzindo um pom pom.
- não consegui dormir, os pesadelos me acordam.
- oh! Sente aqui__ me afasto para que a garotinha consiga se sentar. Eu não estou mais no horário de voluntário porém decido ficar mais um pouco para ajudar a garotinha.
- qual é seu nome?
- mallya
- que nome lindo!
- obrigada!
- e o que anda invadindo os pesadelos da mallya?
- a morte.
Aquela resposta me causa uma surpresa imediata. Como alguém tão pequeno pode ter pesadelos dessa forma? É muita crueldade do sr universo.
- você tem medo dela?, bom imagino que sim,quem não tem?
- sim eu tenho.
- pois veja bem mallya,vou te contar um segredo;
- a morte é um ciclo natural da vida, e o seu último suspiro só se dá,quando o Sr universo achar que você cumpriu tudo o que tinha a ser feito aqui na terra.
- mas e se eu não tiver cumprido ainda?
- ele sempre sabe a hora certa.
- mamãe disse que ele é muito mal!
- não posso discordar!__ após dizer isso a enfermeira Clay aparece e diz que mallya deveria está dormindo.
- tchau doutor
- Até mais garotinha.
Mesmo que esse assunto seja muito frequente em minha vida,  ainda não consigo explicar como funciona a morte. Caminho pelos corredores avistando salas de fitoterapia e o refeitório. Penso em parar pra tomar um café mais decido ir direto para casa.
Confiro meu celular, Joshua como já era previsto,enviou várias mensagens.
- e ae cara? Você vem hoje? Aquela sua amiga já tá aqui...
Percebo o que ele está tentando fazer.
- não,acho melhor ficar em casa hoje.
- qual é Amin! Aqui é o único lugar que você vai, além daquele hospital.
Decido me render, ele ficaria enviando mensagens a noite toda casos eu não fosse.
- ok chego aí em 10 minutos.
Ao chegar procuro Joshua onde sei que ele está__ perto do balcão onde sky está limpando.
- e ae cara_ digo me aproximando - oi sky. __ela se vira rapidamente, pela expressão em seu rosto,Não tinha percebido a minha ou até mesmo a presença de Joshua.
- oi__ela me olha interrogativamente como se esperasse eu lhe dizer meu nome. Joshua interrompe
- e então? Vai se apresentar hoje?
- não cara,tô bem assim.
- ah qual é! Faz tempo que não canta uma!
Percebo sky um pouco interessada no nosso assunto,olha para ela,que desvia o olhar.
- não ensaiei nada hoje
- e desde quando você ensaia? Vai lá.
Joshua tem esse dom de convencer as pessoas__ou pelo menos foi isso que eu tentei acreditar e não no fato de querer impressionar um pouco aquela garota.
Subo no palco e pego o violão que está descansando alí. Instantaneamente todos se viram para mim.
Então começo :

This world will never be
What I expected
And if I don't belong
Who would have guessed it
I will not leave alone
Everything that I own
To make you feel like it's not too late
It's never too late.

É uma das canções de three days grace 'never too late'. Continuo cantando e percebo os olhos de sky cravados em mim. A medida que os trechos vão se avançando,as pessoas começam a cantar também. Não sabia que tanta gente curtia three days grace.
Vejo sky saindo para fora do beco,termino a música rapidamente e vou atrás dela.
- ei Sky?
- porque está vindo atrás de mim?
- não sei..é..que você saiu de repente e deixou seu trabalho.
- eu não o deixei,só sai para tomar um ar.
Percebo então algumas lágrimas brotarem do rosto dela.
- aconteceu algo? Digo me aproximando.
- não! Me deixa,tá bem!
- eu não vou te deixar desse jeito.
- e porque não? Se quem eu gosto me deixa,porque um desconhecido não me deixaria também?
- porque eu não sou assim. Não deixaria uma garota chorando sozinha,ainda mais..
- uma garota que tentou suicídio?
- não, uma garota legal que tem um gosto interessante para música.
- Ah!como sabe que sou legal? Conversamos poucas palavras, e eu nem sequer sei o seu nome. E quanto ao meu gosto musical..bem.. isso eu concordo.
- dá para perceber se uma pessoa é legal pelo gosto música dela.
- Ah é?
- sim,veja bem, uma pessoa que curte música clássica ,eu não teria afinidade então ela não vai ser legal,uma pessoa que curte rock eu vou ter afinidade e vamos ter vários assuntos,então ela vai se tornar legal.
Ela parou por um momento,pensando no que disse.
- Nisso você tem razão.
- só nisso? Ou no fato de você ter abandonado seu trabalho e provavelmente Jorge está a sua procura. Aponto com a cabeça para onde Jorge está,olhando de um lado a outro.
- nisso também. Ela diz entre risos e caminhamos de volta ao beco.

Art & Soul - No Céu É Mais PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora