Capítulo Dois

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MOLLY

Demorei-me alguns minutos imaginando como Melany sabia o nome dele de maneira tão rápida e o porquê o chamou para sentar ao lado dela quando o médico colocava sua perna no lugar. O que Melany via de tão espetacular na presença de Alexander, o secretario que dispensei?

— Já quebrei a perna antes e sei como é a sensação — Parada ao canto da sala eu observava os dois conversando atentamente. Alexander sentava-se ao lado da maca em uma cadeira e falava como se fosse um garoto da idade dela, mas aos meus olhos assemelhava-se a um especialista em crianças.

Melany estava linda apesar de pálida pela dor que sofreu o dia todo. Sua saia da escola ainda permanecia lá junto ao gesso que subia por sua perna. O longo cabelo preso para trás e a franja caída em seus olhos verdes traziam um ar cansado. Ainda assim seguia atenta em Alexander e suas palavras que lhe soavam interessantes.

— E você ficou quanto tempo com o gesso na perna? Demorou muito para poder voltar a brincar? — Encostou a cabeça na maca olhando-o com o rostinho lívido. Cruzei os braços e apenas assisti o modo como ele sorriu.


— Não querendo te desanimar, mas não trabalho com mentiras. Fiquei três meses com o meu gesso e demorou sim para que eu voltasse a brincar — Mel torceu os lábios — Mas a parte legal nisso tudo é que minha mãe fazia tudo o que eu queria. Durante todo o tempo levava as coisas em minha cama e me comprava chocolate para que eu ficasse feliz — Os dois sorriram juntos — Meus amigos assinavam em meu gesso e tenho ele guardado até hoje com os nomes e os desenhos. Foi até divertido.


— Maneiro! — Ergueu os olhos para mim — Mamãe, os meus amigos vão poder assinar em meu gesso também?


— Claro Mel, todos eles poderão assinar! — Assenti — Mas é melhor deixar isso para depois. Pelo que disseram você poderá ir para casa hoje mesmo.


— Que bom! Pensei que iria ter que ficar nesse lugar estranho por mais um tempo! — Suspirou aliviada — Vai conosco tio Alexander?

Tio Alexander? Apenas abaixei o olhar.


— Não, não poderei ir — Se ergueu e virou-se para que eu pudesse ver seu rosto — O que tinha que fazer acabou por aqui. Fico feliz que esteja bem, Melany, e espero que possa se recuperar rápido e sem traumas — Esticou a mão e pegou a de Mel. Abaixou-se e beijou a palma pequena sorrindo.


— Tio Alexander, não vá embora! — Pediu com carinha de pena e se recusando a soltá-lo — Gosto de você! Vá lá em casa me visitar! Ele pode ir, não pode mamãe?


Nós dois trocamos um olhar longo e profundo, algo apenas entre Alexander e eu. Permanecemos em silêncio por um momento apenas nos encarando. Ao menos percebi o que dissemos em meio ao vácuo e concordei em silêncio. A prioridade ali era Melany e nossas diferenças deveriam ser postas de lado por ela.


— Você será bem-vindo em nossa casa — Assenti e ele pareceu confuso, sem acreditar no que ouviu.


— E você irá me ver, tio Alexander? — Insistiu. Olharam-me mais uma vez e pelo primeiro momento notei que os dois pares de olhos verdes eram realmente muito semelhantes.


— Prometo que aparecerei.

— Promete? — Usou seu melhor tom pidão.


— Prometo... — Sorriu de um modo deslumbrante e tive de virar o rosto para ignorar a guerra que se fazia presente dentro de mim.


Teria que fazer isso.

Seria necessário passar por cima de meu orgulho e reconhecer tudo o que esse homem havia feito por minha filha nas últimas horas.

Em Nome do Amor - Querido Secretário (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora