Capítulo Dez

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Um dia, talvez, em meus mais incríveis devaneios, sonhei em ter filhos e ser pai de uma menina. Não podia dizer que se tratava de um projeto de vida, mas algo a ser considerado em um futuro qualquer. A garotinha de meus sonhos secretos era muito parecida com Melany, a pequena sorridente filha de Molly Bern, o furacão que ultimamente movimentava minha vida.

O sorriso da pequena era contagiante e delicioso, quase como uma canção aos ouvidos próximos. Melany surgiu como uma terapia para minha vida há muito tempo vazia... Uma lição, talvez, que me recordava o verdadeiro sentido da vida.

— De pensar que existem crianças minhas espalhadas por ai... — Sussurrei para mim mesmo enquanto assistia Melany tagarelando.

— O que disse, Alex? — Voltou-se para mim um tanto confusa por meus murmurinhos.

— Nada, estou pensando alto — Sorri e baguncei seu cabelo em um carinho rápido.

Não podia conversar com Melany coisas tão adultas e intimas como minha doação de sêmen há alguns anos. Mesmo que tenha sido algo importante para a época, – usei o dinheiro para pagar parte da faculdade de administração – não era algo do qual me orgulhava e tão pouco abria para muitas pessoas.

Sequer minha família sabia dessa história, uma vez que a limitei a amigos íntimos.

— Você sabia que tenho um sobrinho? — Os olhos espertos de Melany se dirigiram a mim quando tentei mudar o rumo da conversa.

— É verdade? — Concordei e a pequena rapidamente se interessou — Quantos anos ele tem?

Cansada de tanto falar, Melany praticamente adormecia deitada em meu colo. Seus olhinhos pesados em encaravam em busca de respostas e a cabeça descansava sobre meu ombro. Há pouco tocávamos violão, mas os bocejos se intensificaram.

— Tem seis anos como você — Melany sorriu abertamente — É filho de minha irmã Eve.

— Ele tem um papai? — Molly entrou na sala no exato momento da pergunta e sentou-se para observar a conversa.

— Não tem não. O pai foi embora antes que o bebê nascesse — Melany parecia cada vez mais sonolenta e o fato, de alguma maneira, parecia preocupar Molly na outra extremidade da sala — Vocês dois tem muito em comum. Acredito que seriam grandes amigos. Se sua mãe deixar eu te levo para brincar com Ethan um dia... Sou como o pai dele, entende?


— Ethan tem sorte de ter você — Olhou-me rapidamente de baixo com os olhos verdes muito pesados — Mas aposto que eu te amo mais do que ele — Seu tom de voz era sonolento e sincero. Molly me encarava sem saber o que dizer e visivelmente desconcertada pelas palavras da filha.

Nosso olhar era tímido e um tanto desafiador. Molly se envergonhada de ver o carinho que Melany sentia por mim e, por minha vez, queria que as coisas apenas melhorassem. Uma parte de meu coração também amava aquela garotinha.

— Você me ajuda a colocá-la no sofá? — Concordei e rapidamente ajudei Molly a tirar a pequena de meu colo. A ajeitamos sobre o sofá e foi um pouco tenso percebemos que estávamos... Sozinhos — É uma pena que tenha dormido bem na hora da sobremesa.

— Isso não é um problema. Ainda estou aqui — Molly cruzou os braços diante do peito e ajeitou o cabelo atrás da orelha.

Minha chefe autoritária em nada se parecia com a moça nervosa e sem rumo que me encarava naquele instante. Se pudesse, certamente Molly se esconderia para sempre atrás da cortina grande de seus cabelos castanhos.


— Sim, você ainda está.

— E não me importo em comer uma sobremesa — Dei de ombros — Sabe... Dizem que é a melhor parte.

Em Nome do Amor - Querido Secretário (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora