Capítulo Oito

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Os dias se estendiam de maneira lenta ao lado de uma chefe durona e trabalhos acumulados. Molly se empenhava em tornar minha vida impossível na Delux e eu, por minha vez, buscava driblar suas vãs tentativas de transformar o trabalho em um calvário.

Algo realmente sobrenatural me conectava a Molly Bern, algo tão forte e avassalador que me assustava em determinados momentos.

"Você jamais se submeteria a uma chefe como essa normalmente, filho."

Dissera minha mãe ao me ver pensativo e atolado em trabalho em uma tarde ensolarada de domingo.

"Realmente Molly é apenas uma chefe?". Lançou a pergunta final em tom de brincadeira, mas deixando no ar a tensão que se acumulava a dias em meus pensamentos.

Obviamente não.

Obviamente Molly representava muito mais do que isso a essa altura. Todo seu mistério significava algo muito maior do que seu temperamento forte no trabalho. O que existiria por trás da rainha da Delux? Qual seria seu segredo?

— Bom dia... — Assim que sai do elevador vi Alice parada ao lado de fora e pela experiência que adquiri ao longo dos dias isso não era um bom sinal!

— Bom dia. Está tudo bem? — Beijei sua bochecha repleta de maquiagem em um cumprimento amigável.

— Olhe para minha cara... — Apontou para o rosto — Acha que está tudo bem? — Suspirei diante de sua expressão cansada.

— Acho que não... — Coloquei as mãos nos bolsos de modo a me preparar para a avalanche que viria a seguir.

— É claro que não! — Segurou em meu braço com se implorasse apoio — A megera está na sala.

— Como assim? — Consultei o relógio de prata em meu pulso. Eram oito e cinquenta da manhã e Molly estava realmente adiantada — A que devemos a honra?

— Hoje é dia de ajuste final — Sussurrou enquanto caminhávamos juntos entre as mesas do departamento. Todos me cumprimentavam e praticamente ignorei para prestar atenção nas palavras de Alice — Pierre e Sebastian entregaram os modelos. Estamos no dia em que a poderosa avalia e reajusta toda a coleção da próxima estação. Basicamente o dia de inferno para todos aqui no departamento...

As palavras dela fizeram todo o sentido. Molly não deveria experimentar um bom humor, dado o momento. Tudo tinha de sair perfeito para a próxima coleção pegar no mercado e as vendas decolarem. Tudo dependia dela.

— Oh... — Olhei em volte e todos se dedicavam ainda mais ao trabalho naquela manhã. Não havia ninguém disperso, uma vez que todos os olhares se concentravam no computador, na tesoura, nos panos, nos papéis ou nas pequenas discussões. Os nervos saltavam em plena manhã de uma sexta-feira — E qual é a dica de sobrevivência básica? — Paramos frente à sala de Molly. Alice colocou a mão em meu ombro com os olhos tristes.

— Esse é o dia, cara. O dia do fim da linha! Aquele dia que ninguém sobrevive a mais de um ano — Sussurrou com a expressão transtornada — Te desejo boa sorte, amigo.

— Animador, amiga — Removi o terno e arregacei as mangas da camisa — Vou ver o que posso fazer para ajudar e tentar manter meu emprego, afinal, vivo do meu salário! —Pisquei e ela sorriu.

— Basta arranjar uma coroa bacana para te bancar que tudo se resolve para você, cara — Brincou e gargalhamos — Boa sorte! — Quando entrei na sala ainda pude ver o rosto de Alice se contorcendo em uma expressão de pena. Fechei a porta atrás de mim e respirei profundamente.

Os últimos dias ao lado de Molly não foram de todo o mal.

Claro que na maioria do tempo ela estava estressada e às vezes exagerava, mas, ao que parecia, estava tentando se controlar. Não me atrapalhava e sequer me dirigia à palavra... Era como se tentasse me evitar o máximo que pudesse ou quisesse fugir de minha presença a todo o custo.

Em Nome do Amor - Querido Secretário (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora