Capítulo III

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2 de Setembro

Cheguei na escola nada bem, atrasada e, para melhorar minha vida, Bella faltou. Como alguém falta no segundo dia de aula? Já tivemos três meses pra fazer o que quisermos e ela falta!

Todos estão na metade da segunda aula, eu poderia voltar pra casa, Noah não estaria lá, nem ninguém.
Olho por cima do ombro, a rua parecia clamar para que eu saísse da escola. E foi o que eu fiz.
Sai da escola sem que ninguém notasse ou soubesse que eu tinha entrado ali.
Encarei toda a extensão da rua da escola e comecei a correr.
O vento bagunçava meu cabelo, mas não importa!
Noah.
Noah.
Noah...
—Você é um babaca! - gritei no meio da rua, enquanto corria.
Em questão de vinte minutos, cheguei em casa.
Entrei, estou me sentindo exausta.
Fiquei parada no pé da escada e escutei o silêncio.
Subi as escadas rapidamente, entrei no quarto, me troquei e desci.
Abri a geladeira e peguei Nutella e morangos.
Cortei eles e joguei na Nutella, os misturando.
Comi uma colherada, enquanto subia as escadas.
Parei na frente da porta do meu quarto e analisei a entrada do sótão, faz muito tempo que eu não entro lá.
Pousei o pote em cima de uma mesinha, que tem no corredor, e puxei a cordinha para as escadas descerem.
Peguei a Nutella e subi.
Mamãe andara limpando aqui, quase não tem pó.
Por que eu estou aqui?
Olho ao redor e vejo uma caixa, com dizeres: Emilly e Noah.
Só nós dois? E Tyler?
Me aproximei e a abri.
Tinha inúmeras fotos minhas com Noah, quando crianças, até tinha umas atuais.
Alguns presentinhos que eu ganhava dele, como um ursinho marinheiro de 20 cm.
Sorrio ao ver uma foto nossa, muito linda!
Tyler estava doente e era meu aniversário.
Como mamãe e papai não podiam me levar e eu não poderia ficar em casa porque a doença era contagiosa, eu estava na minha tia e muito triste.
Noah, de alguma forma, descobriu onde minha tia morava e foi lá, com um presente e dois ingressos para um parque de diversões.
Fomos até o parque, minha tia conseguiu entrar como nossa responsável.
Na foto, nós dois seguramos um sorvete cada um e eu tinha um sorriso no rosto, ele beijava minha bochecha.
Algo cai sobre a foto, percebo que estava chorando.
Merda, por que estou chorando?
Por que estou me emocionando com isso? Éramos crianças e toda criança é legal!
Suspiro e guardo tudo na caixa de novo. Encaro o ursinho, que parecia implorar por carinho.
Comprimi os lábios e fechei a caixa.
Pego minha Nutella e o ursinho e desço.
Recolhi a escada e entrei no meu quarto, sento na cama e observo.
Vou pra sacada e fico vendo o farfalhar das folhas do quintal do vizinho.
—"Em todo lugar que eu tô, em todo lugar que eu vou, eu penso em você
Por quê? Eu quero entender... E na razão, não posso mais pensar em te rever e no coração, não aguenta mais ficar e quer fazer uma ligação pra te pedir perdão... - cantei minha música brasileira preferida - E será que você ainda pensa um pouco em mim? Será que só eu que estou sofrendo assim? Não teve pena do fim e o nosso tempo acabou e a solidão eu mandei vir... Porque pra mim" - sou interrompida.
"Não é mais, pra você tanto faz e agora sou eu quem voltar atrás, eu fiz tudo errado e eu sei que doeu, mas no fim o coração venceu..." - completou Noah.
Nos encaramos.
—Eu não preciso de ajuda pra cantar a música, ok? - falei - Por que não tá na faculdade?
—Emilly, essa pergunta é realmente importante? - se aproximou e rápido.
Me encurralou entre ele e a grade da sacada (aquele negócio que te impede de cair da sacada, sem ser rede de proteção e talz).
—E que pergunta seria realmente importante? - pergunto.
O que eu estava fazendo?
—Você queria que tivesse a beijado?
O que?
—Eu não... - comecei.
Ele afundou o rosto no meu pescoço e, ali, depositou um beijo leve.
—Não minta pra mim, Emilly! - falou, levantando o rosto e me olhando fixamente.

—Noah, o que você está fazendo? - questiono, cortando o contato visual - Pra quê isso? Pra Emilly Evans entrar em seu histórico de garotas que já pegou?! Pra me usar?! Eu nem gos...!
Sou surpreendida por um beijo de Noah.
Arregalei os olhos, ele me puxa pra mais perto e aprofunda o beijo.
Empurro ele, Noah cambaleou pra trás. Passo as costas da mão pelo meus lábios, fazendo uma cara de nojo.
—Por que fez isso, babaca?
—Porque era isso que você queria - falou com convicção.
O olho indignada. Não creio!
—Como? Você acha mesmo que eu queria que me beijasse mais cedo ou agora?!
Ele assente.
—Oh, meu Deus! Sério?! - comecei a andar em círculos - Noah, não! Eu não queria que me beijasse, ok? Eu não gosto de você, assim como você não gosta de mim. Fim.
—Emilly, você está mentindo.
Fico mais indignada do já estava.
—Ah, ok! Estou mentindo - digo debochada - Então, como vai ser? Vamos namorar escondido? Casar em Alasca? Ter três filhos, que vão morrer hipotermia dentro do meu útero?! - berrei.
—É uma ótima ideia! - exclamou.
—Meu Deus, Noah! Eu NÃO amo você, entendeu? Nunca amei e, creio eu, que nunca amarei!
—Emilly, Emilly, qual é? Sabemos que...
—EU JÁ DISSE QUE NÃO AMO VOCÊ!! - grito, me afastando - Você já tem idade o suficiente pra compreender o que é um "não", Noah Flynn! Só por que todas as garotas se apaixonaram por você, não quer dizer que vai acontecer a mesma coisa comigo!
E estávamos discutindo. Eu não gosto de discussões.
E eu estou com raiva, então logo as lágrimas rolaram.
Meus joelhos cederam.
Maldita fraqueza emocional!
—Emilly - ele se ajoelhou ao meu lado e me abraçou - Me desculpe, eu não...
Empurro ele.
—Não chegue perto de mim, Noah Flynn! - gritei com a voz embargada.
—Emilly...
—Vai embora, ok? - falei pra ele.
—Emilly, eu não...
Encarei ele, funguei.
—Quero ficar sozinha, na merda da minha casa, na porcaria do meu quarto! Por que não volta pra faculdade e pega a vaca da Daniela?!
Vejo a cara de surpresa dele e depois a indignação, em seguida, raiva. Ele iria gritar? Sim, ele iria, e depois iria embora.
—QUER SABER?! CANSEI! PODE MORRER SE QUISER! SE SEMPRE VAI PENSAR QUE SOU BABACA O TEMPO TODO, EU NÃO QUERO MAIS OLHAR NA CARA!
—ÓTIMO! VAI EMBORA! - gritei de volta, sem medo, mas com a voz embargada.
Ele se virou e foi pra porta, estacou lá, olhou por sobre o ombro.
Noah deu um suspiro profundo, com um olhar desolado, e se foi, fechando a porta do quarto.
Peguei a almofada e ataquei na porta.
—EU TE ODEIO, NOAH FLYNN!!! - berrei.

O Melhor Amigo Do Meu IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora