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Wonwoo. 5° C

Quando meu pai chegou em casa, eu ainda estava perdido no mundo silencioso dos lobos, rememorando inúmeras vezes a sensação dos pelos ásperos do meu lobo na palma das mãos. Ainda que, contra minha vontade, eu as tivesse lavado para terminar o jantar, seu cheiro almiscarado entranhara em minhas roupas, mantendo o encontro vivo em minha mente. Foram precisos seis anos para que ele me deixasse tocá-lo. Abraçá-lo. E ele agora tinha me protegido, exatamente como sempre me protegera. Eu queria desesperadamente contar a alguém, mas sabia que papai não compartilharia da minha animação, ainda mais com os jornais falando incessantemente sobre o ataque. Fiquei de boca fechada.

Papai entrou batendo os pés. Mesmo sem me ver na cozinha, disse alto:

— O jantar está com um cheiro bom, Wonwoo.

Foi até a cozinha e me deu tapinhas na cabeça. Seus olhos pareciam cansados atrás dos óculos, mas ele sorriu.

— Cadê sua mãe? Pintando?

Jogou o casaco numa cadeira.

— Ela para, alguma vez? — olhei para o casaco, apertando os olhos — Eu sei que você não vai deixar isso aí.

Ele o apanhou com um sorriso amável e chamou, em direção ao topo da escada:

-— Trapinho, hora de jantar!

O fato de ele chamar mamãe pelo apelido confirmava seu bom humor.

Mamãe apareceu na cozinha amarela dois segundos depois. Estava sem fôlego por ter descido a escada correndo – aonde quer que fosse, ela nunca andava –, e havia um traço de tinta verde em seu rosto.

Papai beijou-a, evitando a tinta.

— Você foi uma boa menina, minha gatinha?

Ela bateu as pálpebras. Tinha no rosto uma expressão como se já soubesse o que ele iria dizer.

— A melhor de todas.

— E você, Wonwoo? Se comportou?

— Melhor do que a mamãe.

Papai limpou a garganta.

— Senhoras e senhores, meu aumento sai nesta sexta-feira. Então...

Mamãe bateu palmas e girou em círculo, observando-se no espelho da saleta enquanto rodopiava.

— Vou alugar aquele lugar na cidade!

Papai fez uma careta e assentiu.

— E você, menino Wonwoo, vai trocar aquela lata-velha que você chama de carro assim que eu conseguir tempo para ir com você até o revendedor. Estou cansado de levar aquilo pro conserto.

Mamãe riu, fútil, e bateu palmas outra vez. Ficou dançando pela cozinha, cantarolando uma musiquinha sem sentido. Se ela alugasse o ateliê na cidade, era provável que eu nunca mais visse nenhum dos meus pais. Bem, a não ser para jantar. Eles apareciam para comer.

Mas isso parecia sem importância em comparação com a promessa de um meio de transporte confiável.

— De verdade? Meu próprio carro? Quer dizer, um que funcione?

— Um que pelo menos não esteja caindo aos pedaços — prometeu papai. — Nada de mais.

Abracei-o. Um carro assim significava liberdade.

Naquela noite, me deitei em meu quarto, os olhos fechados bem apertados, tentando dormir. O mundo do lado de fora da minha janela parecia silencioso, como se tivesse nevado. Era cedo demais para neve, mas todos os sons pareciam abafados. Quieto demais.

Prendi a respiração e me concentrei na noite, atento a qualquer movimento na escuridão inerte.

Fui os poucos aos poucos que leves estalos quebraram o silêncio exterior, me deixando em estado de alerta. Para qualquer um, aquilo soava como pequenas unhas no deck do lado de fora da minha janela. Haveria um lobo no deck? Talvez fosse um guaxinim. Então houve mais arranhões leves, e um rosnado – definitivamente, não era um guaxinim. Os pelos da minha nuca se eriçaram.

Colocando a colcha em volta do corpo como uma capa, pulei da cama e andei devagar pelas tábuas do assoalho iluminado por uma meia-lua. Hesitei, me perguntando se tinha sonhado com o barulho, mas o tec tec tec veio outra vez através da janela. Levantei a persiana e olhei para o deck lá fora. Na linha perpendicular ao meu quarto, eu podia ver que o quintal estava vazio. Os troncos negros das árvores projetavam-se como uma cerca entre eu e a floresta cerrada lá no fundo.

De repente, surgiu um focinho exatamente diante de meu rosto, e dei um pulo de surpresa. A loba banca estava do outro lado do vidro, as patas sobre o peitoril externo. Estava tão perto que eu podia ver as gotas de umidade em seus pelos. Seus olhos, azuis como o céu, me fitavam com ferocidade, me desafiando a desviar o olhar. Um ronco baixo atravessou o vidro e eu senti como se pudesse ler o seu significado, com tanta clareza quanto se estivesse escrito na vidraça: Você não é dele para que ele o proteja.

Encarei-a. Então, sem pensar, arreganhei os dentes num rosnado. O ronco que escapou de mim me surpreendeu tanto quanto a ela, e ela pulou para longe da janela. Me lançou um olhar sombrio por cima do ombro e, antes de voltar para o bosque, urinou no canto do deck.

Mordendo o lábio para apagar a estranha marca que o rosnado deixara em minha boca, apanhei meu suéter do chão e engatinhei de volta à cama. Empurrando o travesseiro para o lado, enrolei o suéter para botá-lo debaixo da cabeça.

Adormeci com o cheiro do meu lobo. Pontas de pinheiro, chuva fria, perfume de terra, cerdas ásperas em meu rosto.

Era quase como se ele estivesse ali.



esse capítulo era pra ter saído semana passada, eu sei.

mas, porém, todavia, entretanto, eu tive motivos!!!!

eu morava sozinha em um estado vizinho e por imprevistos da vida eu voltei a morar com os meus pais no meu estado de origem

enfim, foi uma correria atras de dinheiro pra pagar a multa da quebra de contrato e um frete, depois eu tive que ir atrás de um frete pra trazer minhas coisas e depois montar tudo aqui de novo e isso acabou atrasando a postagem, mas foi só uma semaninha!!!!!

(como se isso importasse lol)

o importante é que cá estou eu novamente pedindo pra clicar na estrelinha c:

comenta também nessa joça

(tenho a impressão que as notas ficaram maiores que o capitulo ué)

eh nois <3

CalafrioOnde histórias criam vida. Descubra agora