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Mingyu. 0° C

Eu o observava, como sempre tinha observado.

Os pensamentos eram escorregadios e transitórios, cheiros vagos num vento gelado, distantes demais para serem captados.

Ele estava sentado, fora do bosque, perto do balanço, encolhido, até que o frio o fez tremer, e mesmo assim ele não se moveu. Por muito tempo, eu não soube o que ele estava fazendo.

Eu o observava. Parte de mim queria ir até ele, embora o instinto gritasse contra isso. O desejo acendeu uma fagulha de pensamento, que por sua vez trouxe a lembrança de bosques dourados, dias flutuando e caindo ao meu redor, dias deitados imóveis e amassados no chão.

Mas percebi o que ele fazia, encolhido ali, tremendo com o frio cruel. Ele esperava, esperava que o frio lhe desse outra forma. Talvez o aroma não familiar que eu sentia vindo dele fosse esperança.

Ele esperava se transformar, eu esperava me transformar, e nós dois queríamos o que não podíamos ter.

Afinal, a noite arrastou-se pelo quintal, esticando as linhas, puxando-as do bosque até cobrirem o mundo inteiro.

Eu o observava.

A porta se abriu. Eu me encolhi mais para a escuridão. Um homem saiu, pegou o garoto do chão. A luz da casa fazia cintilarem as marcas congeladas no rosto dele.

Eu o observava. Os pensamentos, distantes, fugiram em sua ausência. Depois que desapareceu dentro da casa, apenas uma coisa restou: saudade.

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