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Wonwoo. 12° C

Mingyu e eu éramos como cavalos num carrossel. Seguíamos a mesma trilha vezes sem conta – casa, escola, casa, escola, livraria, casa, escola, casa etc. –, mas, na verdade, estávamos girando em torno da grande questão sem nunca nos aproximarmos nem minimamente. O verdadeiro ponto central: Inverno. Frio. Perda.

Não falávamos sobre a possibilidade que se aproximava, mas eu sentia que sempre podia perceber a sombra gelada que era lançada sobre nós. Uma vez, numa coletânea realmente terrível de mitos gregos, li uma história sobre um homem chamado Dâmocles, que tinha uma espada pendurada sobre seu trono, presa por um único fio de cabelo. Assim estávamos nós – a humanidade de Mingyu pendurada por um fio a ponto de arrebentar.

Na segunda-feira, ainda levado pelo carrossel, voltei à escola, como sempre. Embora apenas dois dias se tivessem passado desde que Sohye me atacara, até o hematoma tinha desaparecido. Parecia haver em mim um pouco da capacidade de cicatrização dos lobisomens, afinal de contas.

Fiquei surpreso ao notar a ausência de Jun. No ano anterior ele não tinha faltado à aula nem um dia.

Continuei a esperar que ele entrasse na sala durante a primeira das duas aulas que fazíamos juntos antes do almoço, mas ele não apareceu. Fiquei olhando para a carteira vazia. Ele poderia só ter ficado doente, mas uma parte de mim que eu tentava ignorar dizia que havia algo mais. Na quarta aula, deslizei para o meu lugar habitual atrás de Soonyoung.

— Ei, Hoshi, você tem visto o Jun?

Ele olhou para mim.

Ahn?

— Jun. Ele não faz ciências junto com você?

Soonyoung deu de ombros.

— Não sei dele desde sexta-feira. Quando eu liguei, a mãe me disse que ele estava doente. Mas e você, fofinho? Por onde andou esse fim de semana? Nunca liga, nunca manda mensagem.

— Fui mordido por um guaxinim — respondi. — Tive que tomar vacina antirrábica e tirei o domingo para dormir. Para ter certeza de que não ia começar a espumar pela boca e atacar os outros.

— Que nojo. Onde ele mordeu?

Apontei para a calça jeans.

— No tornozelo. Quase não aparece. Mas estou preocupado com Jun. Não tenho conseguido falar com ele pelo telefone.

Hoshi franziu a testa e cruzou as pernas. Como sempre, usava listras, dessa vez um par de meias listradas apareceu pela barra do jeans. Respondeu:

— Eu também não. Você acha que ele está nos evitando? Ainda está zangado com você?

— Acho que não.

Soonyoung fez uma careta:

— Nós estamos bem, não estamos? Quer dizer, a gente não tem se falado. Sobre coisas, você sabe. Têm acontecido coisas. Mas a gente não tem, sabe, se falado. Ou aparecido um na casa do outro. Ou seja o que for.

— Com a gente, tudo bem — falei com firmeza.

Ele coçou a cabeça de fios roxos, mordeu o lábio e então disse:

— Você acha que a gente deveria, sei lá, ir à casa dele e ver se consegue encontrá-lo?

Não respondi logo, e ele não me pressionou. Aquele era um território pouco familiar para nós. Nunca tínhamos precisado fazer esforço para que nosso trio permanecesse unido. Eu não sabia se ir atrás de Jun era a coisa certa a fazer ou não. Parecia meio drástico, mas quanto tempo fazia que não o víamos ou falávamos com ele?

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