59

125 25 1
                                    

Wonwoo. 3° C

Uma fina camada de neve cobria o chão quando Vernon chegou ao quintal. Dentro de casa, Jeonghan e Jun olhavam pela janela comigo, prontos para ajudar, mas eu me sentia como se estivesse sozinho, observando Vernon mergulhar lentamente em seu último dia como humano. Numa das mãos tinha um pedaço de carne crua e vermelha empapada de Benadril; na outra, um tremor incontrolável.

A uns 10 metros da casa, Vernon parou, largou a carne no chão e deu vários passos na direção do bosque. Por um momento ficou ali, a cabeça inclinada de um jeito que eu reconhecia. Atento a sons.

— O que é que ele está fazendo? — perguntou Jeonghan, mas não respondi.

Vernon fez uma concha com as mãos em torno da boca e, mesmo lá dentro, eu podia ouvi-lo com clareza.

— Mingyu! — ele gritou de novo. — Gyu! Eu sei que você está aí! Mingyu! Mingyu! Lembra-se de quem você é? Mingyu!

Tremendo, Vernon continuou gritando o nome de Mingyu para o bosque vazio e gelado, até cambalear e recuperar o equilíbrio pouco antes de cair.

Cobri a boca com a mão, as lágrimas desciam pelo meu rosto.

Vernon gritou por Gyu mais uma vez, e então seus ombros se arquearam, envergando e se retorcendo, mãos e pés descontrolados riscando a camada de neve em volta. A roupa ficou pendurada nele, grande e embolada, e ele então recuou e se livrou dela, sacudindo a cabeça.

O lobo cinzento ficou no meio do quintal, olhando na direção das portas de vidro, os olhos nos vendo observá-lo. Ele se afastou das roupas que jamais usaria outra vez e então se imobilizou, virando a cabeça na direção do bosque.

Por entre os pinheiros despidos e negros surgiu outro lobo, de cabeça baixa e cauteloso, o pelo coberto de neve como um pó branco. Seus olhos me encontraram atrás do vidro.

Mingyu.

CalafrioOnde histórias criam vida. Descubra agora