Wonwoo. 1,6° C
Nevava quando peguei o telefone pela primeira vez depois do acidente. Leves e delicados flocos vagavam pelo quadrado preto de minha janela, como pétalas de flores. Eu não teria atendido, mas ele era a única pessoa com quem eu vinha tentando entrar em contato desde o acidente.
— Jun?
— W-Wo- Won-woo?
Junhui, quase irreconhecível. Ele soluçava.
— Jun, calma, o que aconteceu?
Era uma pergunta idiota. Eu sabia o que lhe tinha acontecido.
— Le-lembra que eu falei que sabia dos lobos? — Ele puxava grandes lufadas de ar entre as palavras. — Não falei do hospital. Sanha...
— Ele mordeu você — eu disse.
— É — Jun soluçou a resposta. — Achei que nada iria acontecer, porque os dias passavam e eu continuava o mesmo!
Minhas pernas ficaram bambas.
— Você se transformou?
— Eu... eu não posso... eu...
Fechei os olhos, imaginando a cena. Meu Deus.
— Onde você está agora?
— No p-ponto de ônibus. — ele fez uma pausa, fungando. — Está f-frio.
— Ah, Jun. Venha para cá. Fique comigo. Vamos dar um jeito nisso. Eu iria até aí, mas ainda estou sem carro.
Jun voltou a soluçar.
Levantei e fechei a porta do quarto. Não que mamãe fosse me ouvir; ela estava no andar de cima.
— Jun, está tudo bem. Eu não vou me apavorar. Eu vi Mingyu se transformar e não me apavorei. Sei como é. Acalme-se, está bem? Eu não posso ir buscar você. Estou sem carro. Você vai ter que dirigir até aqui.
Acalmei-o por mais alguns minutos e lhe disse que a porta da frente estaria destrancada quando ele chegasse. Pela primeira vez desde o acidente, eu me senti outra vez mais parecido comigo.
Quando Jun chegou, os olhos vermelhos e descabelado, eu o empurrei para o chuveiro e fui buscar roupas para ele. Sentei na tampa fechada do vaso enquanto ele ficava debaixo da água quente.
— Eu conto a minha história se você me contar a sua — falei. — Quero saber quando Sanha mordeu você.
— Já contei como eu o encontrei, tirando fotos dos lobos, e como dei comida a ele. Foi tão idiota não contar a você... mas é que eu estava me sentindo tão culpado por ter brigado com você que não contei logo. Então comecei a matar aula para ajudar ele, e então achei que não podia contar a você sem... não sei o que pensei. Desculpe.
— São águas passadas — disse eu. — Como ele agia? Obrigou você a ajudá-lo?
— Não — disse. — Na verdade ele era bem legal quando as coisas corriam como ele queria. Ficou com muita raiva quando se transformou, mas aquilo parecia doer. E ele continuava a perguntar sobre os lobos, querendo ver fotos. E conversamos, e depois que ele descobriu que você tinha sido mordido...
— Descobriu? — repeti.
— Ok, eu contei a ele! Não imaginei que fosse ficar maluco por causa disso! A partir daí, ele falava sem parar numa cura, e tentou me obrigar a contar como resolver o caso dele. E então ele, ahn, ele... — Jun enxugou os olhos. — Me mordeu.
— Espere. Ele mordeu você quando estava humano?
— É.
Estremeci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Calafrio
Fanfiction[[ADAPTAÇÃO]] Não havia sol, não havia luz. Eu estava morrendo. Não conseguia me lembrar de como era a cor do céu. Mas eu não morri. Estava perdido num mar de frio e depois renasci num mundo de calor. Me lembro apenas disso: seus olhos amarelos. 》A...