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Wonwoo. 2° C

Foi Sanha quem abriu a porta da sala de exames.

— Wonwoo, vamos. Temos que ir... Junhui não está muito bem.

Levantei, constrangido por ser encontrado com o rosto banhado em lágrimas. Me virei para jogar a seringa usada no perigoso recipiente de lixo tóxico junto à bancada.

— Preciso de ajuda para carregá-lo.

Ele me olhou de cara amarrada.

— Foi para isso que Jeonghan me mandou aqui.

Olhei para baixo, e meu coração parou. Chão vazio. Girei, torcendo a cabeça para olhar debaixo da mesa.

— Gyu?

Sanha tinha deixado a porta aberta. A sala estava vazia.

— Me ajude a encontrá-lo! — gritei para Sanha, empurrando-o para alcançar o corredor.

Não havia sinal de Mingyu. Enquanto eu corria até o vestíbulo, podia ver a porta escancarada no final, a noite negra por trás dela. Era o primeiro lugar para onde um lobo correria, quando o efeito da droga passasse. A fuga. A noite. O frio.

Vasculhei o estacionamento, procurando qualquer sinal dele na estreita faixa do Bosque da Fronteira que se estendia atrás da clínica. Mas a escuridão era mais do que total. Nenhuma luz. Nenhum som. Nenhum sinal de Mingyu.

— Mingyu!

Eu sabia que ele não viria, mesmo se me ouvisse. Gyu era forte, mas os instintos eram ainda mais fortes.

Era intolerável imaginá-lo lá em algum lugar, meia seringa de sangue infectado misturando-se lentamente ao seu.

Mingyu! — Minha voz era um lamento, um uivo, um grito na noite. Ele tinha desaparecido.

Faróis me cegaram: era o carro de Jeonghan rangendo a meu lado e estremecendo até parar. Ele se inclinou e abriu a porta; seu rosto era fantasmagórico sob as luzes do painel.

— Entre, Wonwoo. Depressa, merda! Junhui está se transformando e já ficamos aqui tempo demais.

Eu não podia deixá-lo.

— Wonwoo!

Sanha foi para o banco de trás, tremendo. Seus olhos me imploravam. Eram os mesmos olhos que eu vira logo no início, quando ele havia se transformado pela primeira vez. Antes que eu soubesse de qualquer coisa.

Entrei e bati a porta, olhando pela janela a tempo de ver uma loba branca em pé à margem do estacionamento. Sohye. Viva, exatamente como Mingyu imaginara. Encarei-a pelo espelho retrovisor. A loba ficou no estacionamento olhando diretamente para nós. Pensei ter visto triunfo em seus olhos quando ela se virou e desapareceu na escuridão.

— Que lobo é aquele? — perguntou Jeonghan.

Mas não consegui responder. Tudo o que eu conseguia pensar era Mingyu, Mingyu, Mingyu.

sohye vivíssima

CalafrioOnde histórias criam vida. Descubra agora