Prólogo

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Ventava forte no campus, de forma que balançava as árvores e chegava até a derrubar algumas folhas. Os cabelos negros de Yongsun voavam assim como as folhas e o choque do vento frio com seu corpo quente a fazia se encolher minimamente. Mas mesmo com o frio, ela nem cogitava sair dali. 

Seus finais de semana eram baseados em fones de ouvido tocando alternative rock, um bom livro e a tranquilidade do campus. O bom de ficar no colégio nos fins de semana era que praticamente ninguém ficava e consequentemente o ambiente ficava bem calmo. Era um momento de descanso de toda a rotina agitada, um momento para ficar em paz consigo mesma.

Mas naquele dia, o sossego rotineiro daquele local foi interrompido por algo bem incomum. 

Yongsun geralmente ficava bem imersa quando estava lendo e ouvindo música, mas mesmo com seus fones de ouvido quase no último volume foi capaz de ouvir o baque alto seguido de um gemido de dor. Rapidamente tirou os fones e olhou ao redor assustada, em busca do que teria provocado aquele som.

— Devo estar louca. — Deu de ombros e voltou a colocar os fones e à sua leitura — Mas... e se não estiver?

Estava com um pouco de medo do que poderia ter escutado. Talvez devesse ir para seu dormitório e ver algum filme, afinal, ainda estava cedo, eram quase nove horas da noite. 

Mas estava curiosa. Aquele som não tinha vindo de tão longe, caso contrário ela nem ouviria. Sinal de que quem ou o que provocou aquele som estava dentro do colégio e talvez devesse se preocupar com aquilo, até porque podia ser perigoso, nunca se sabe!

Tendo isso em mente, apressou-se em levantar e sair dali. "Vai saber se um louco entrou aqui", pensou. Por via das dúvidas, era melhor ir para seu dormitório onde sabia que era seguro. 

Porém, ao se levantar e virar em direção ao prédio do dormitório feminino, surpreendeu-se ao encontrar uma garota no chão. Seus olhos repletos de medo estavam fixados em Yongsun, em alerta. Deu um passo a frente, e ela recuou imediatamente, tornando sua respiração vinte vezes mais ofegante. Com a pouca iluminação dos postes pôde notar alguns rasgos e manchas de sangue em suas vestes, o que fez com que se assustasse. 

— O-Oi... — Deu mais um passo, e novamente ela recuou — Meu nome é Yongsun, eu estudo aqui, está tudo b-

Dizia pausadamente enquanto aproximava e abaixava-se perto dela, mas antes que pudesse concluir a frase, em um movimento rápido a garota pegou a primeira coisa que viu por perto e atingiu a cabeça da outra, em uma forma de se defender.

— Porra! — Deu um grito alto de dor, levando a mão ao lugar atingido — Eu só ia dizer... merda... que não ia te machucar.

A desconhecida encarou sua própria mão e viu que o objeto utilizado para acertar Yongsun fora uma pedra. Depois voltou o olhar para ela, vendo que resultou apenas em um pequeno corte na testa. "Que garota exagerada...", pensou, lembrando do escândalo que ela fizera por conta do golpe.

— Desculpe. Foi só... reflexo.

Disse finalmente depois de um certo tempo.

— Está tudo bem, só está ardendo um pouco. Enfim...  

Voltou a encarar a desconhecida. Olhando mais de perto, pôde notar alguns hematomas em seus braços. Só conseguia se questionar aonde diabos ela conseguiu se machucar tanto e porquê ela agia de forma tão estranha. Mas o que podia ter certeza naqueles poucos segundos de convivência, era que aquela garota estava extremamente assustada e precisava de ajuda.

— Parece que precisa de ajuda. Suas roupas estão rasgadas, está cheia de hematomas... não pode ficar largada aí. — Ela mordeu o lábio inferior ao escutar a fala da outra, meio hesitante —Venha comigo. É melhor do que ficar aí jogada no frio, pelo menos no meu ponto de vista.

Estava relutante quanto a aceitar ir com a tal de Yongsun. Quer dizer, havia acabado de conhecê-lá — de uma forma nada convencional, a propósito—, sabe-se lá o que ela podia fazer consigo. E também... por que ela ofereceria ajuda para uma estranha que surgira no campus do nada? Não sabia se era porque não estava muito acostumada com gentilezas, mas achava que elas vinham com um grande preço a pagar.

— Por que me ajudaria?

— Huh? 

— Por que quer me ajudar? Você nem me conhece.

Ela tinha razão. Ela podia chamar a polícia ou algo do tipo, não precisava se comprometer a cuidar de uma estranha. Quase riu de si mesma na hora, como não havia pensado naquilo antes?

— É, você está certa. É melhor chamarmos a polícia, eles podem te levar pra casa e te ajudar no que precisar.

Pegou o celular e discou o número, mas quando foi se levantar, teve seu pulso agarrado com força, impedindo-a de se mover. Encarou a garota de imediato. 

— Eu vou com você, mas não chame a polícia. Eu te imploro.

Seu corpo arrepiou-se inteiro. A desconhecida apertava seu pulso com toda a força, o desespero era notório em seu tom de voz e ela conseguia ver o medo em seus olhos, que estavam cheios de lágrimas. Aquilo lhe deu medo. Naquele momento, Yongsun soube que devia ignorar o pedido e ligar para a polícia imediatamente, pois ela percebera que aquilo não podia ser bom. Ficara apenas alguns segundos ali, encarando a garota sem dizer uma palavra, mas pareceu uma eternidade.

A chamada foi atendida e as duas olharam para o aparelho assim que ouviram uma voz masculina chamar diversas vezes por quem estava do outro lado da linha. O dedo de Yongsun tocou a opção de encerrar chamada lentamente, como se não quisesse fazê-lo, mas foi rápida em ajudar a desconhecida a se levantar, colocando seu braço ao redor de seu pescoço e indo com ela até o dormitório lentamente ao perceber que ela machucara o pé.

Sabia que podia estar entrando na pior das confusões, mas aquilo não importava mais. 

A partir daquele dia, ela protegeria aquela garota a todo custo.

runaway ➳ moonsunOnde histórias criam vida. Descubra agora