Capítulo 10

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A Delegada Park chegara cedo no trabalho aquele dia. Escondia as profundas olheiras com óculos de sol, recusando-se a tirá-los mesmo depois de adentrar a Delegacia. Os últimos dias não estavam sendo fáceis e toda equipe estava sentindo isso da pior forma, muitos chegavam atrasados ou passavam a noite ali mesmo. Até mesmo a delegada que todos consideravam uma mulher elegante e que estava sempre com a melhor aparência, não conseguia mais disfarçar o enorme cansaço que sentia. 

Chegou em sua sala e jogou a bolsa em um canto, despencando sob sua cadeira. Ligou seu computador e logo apareceu uma tela com o brasão da polícia estampada, com um fundo azul escuro. Seu ânimo não estava dos melhores, mas não podia deixar de trabalhar, até porque depois do caso atual ter chegado à imprensa, logo teriam mais notícias. Odiava ter que lidar com a mídia, mas foi a melhor forma que acharam. E de qualquer modo, não planejavam continuar informando-os à respeito. 

Ouviu batidas na porta, fazendo-a desviar o olhar do monitor. 

— Entre. 

Um dos policiais adentrou a sala. Era um homem jovem e um tanto baixo, como logo reconheceu como um dos que se juntara a equipe há pouco tempo. Ele fechou a porta e parou diante de sua mesa, fazendo uma reverência.

— Me pediram para avisá-la assim que possível. — Disse, um tanto nervoso — A garota... ela chegou pela manhã, quer dar seu depoimento.

— Garota?

Franziu o cenho.

— Sim, a Moon Byulyi, a garota desaparecida que teve os pais assassinados. Ela está aqui.

Se levantou quase de imediato, apoiando-se com as mãos na mesa, a expressão confusa e ao mesmo tempo incrédula. Ela tinha chegado ali por conta própria?

— Você disse... "quer dar seu depoimento"? Então ela não foi encontrada, veio aqui por livre e espontânea vontade?

— Sim, senhora.

Passou a mão pelos cabelos. Mal acreditava que tivesse sido tão fácil. Pensava que o caso tivesse sido televisionado de madrugada, será que ela tinha visto ou foi apenas coincidência que resolvera ir à delegacia no dia seguinte?

— Diga para levarem para a sala de interrogatório.

— Mas, Delegada, ela é menor de idade. Teria de haver um responsável legal por ela, não é?

— Considerando que os pais dela estão mortos, não há mais ninguém que seja o responsável legal dela. — Disse com rispidez — Ela tem dezesseis anos, e se está aqui porque quis, pode muito bem ser interrogada sozinha.

— Então estamos tratando-a como suspeita?

A mulher revirou os olhos, impaciente.

— Pare de fazer perguntas e faça o que eu mandei, por favor. — Suplicou, ao que o policial assentiu e após uma reverência, saiu da sala — Odeio ser grosseira.

Pouco tempo depois, o mesmo policial retornara a sua sala, dizendo que já estava tudo pronto. Então, o acompanhou pelos corredores até a sala.

Era bem cedo, então não havia movimentação, embora alguns policiais começassem a sair apressados em direção às viaturas para iniciar as patrulhas. Quando chegaram à sala, a Delegada Park indicou para o homem que ele podia se retirar.

Ao entrar, se deparou com mais três policiais que estavam no caso. Eles a cumprimentaram com um leve aceno de cabeça e ela retribuiu, ficando no meio dos dois e olhando através do vidro que dava visão para dentro da sala.

A garota se encontrava sentada à mesa, encarando um ponto fixo da sala. Mantinha as mãos enterradas no bolso da blusa e estava com capuz, mas ainda assim seu rosto era visível. Estava um pouco vermelho e não pôde deixar de notar seus olhos cansados, que por vezes iam se fechando, e nas profundas olheiras abaixo destes. Percebeu que, diferente das imagens que tinham, seus longos cabelos que outrora eram escuros, estavam loiros, embora meio desgrenhados e oleosos. Sua expressão era neutra, mas ao ver por baixo da mesa, notara que ela mexia os pés freneticamente em ansiedade.

runaway ➳ moonsunOnde histórias criam vida. Descubra agora