Chapter Two • [Sweet Voice]

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Kim tomava seu café adocicado enquanto via os fios de seus cabelos repartirem em diversas direções, assim como sua mente fazia. Sentiu o frio nos dedos, abriu e fechou as mãos na tentativa falha de tira-las da dormência, fechou os olhos e recostou-se no banco; suspirou.

Preciso de um passatempo novo, ficar nessa cafeteria está me matando, pensou o loiro.

Levantou do banco e largou algumas notas em tributo ao café, retirando-se do estabelecimento, fazendo a pequena — e irritante — sineta tocar. Baixou as mangas da blusa azul escuro que usava aquela manhã,(ele adorava muito tons de azul) gemeu por não mais sentir o clima agradável da cafeteria. Enquanto passeava na avenida lotada de rostos; Taehyung pensou em Hoseok. Lembrou de seus cabelos lisos repartidos e levemente pintados de preto vivente, e de seus braços machucados... Levantou a manga de sua blusa azul por segundos vendo suas cicatrizes;

Taehyung entendia.

Abaixou a cabeça e entrou em seu próprio universo, onde não havia ninguém exceto ele mesmo. Por um minuto, algo no seu subconsciente sussurrou a possível entrada de Hoseok no mesmo, afinal, seria legal ter alguém para compartilhar as mesmas infelizes coletâneas que a dor proporciona. Enquanto ainda pensava nisso, resgatou o aparelho celular em seu bolso, colocando os fones de ouvido no volume máximo; paz.

Os barulhos da cidade eram altos e agitados, pessoas se locomovendo com bastante pressa. Trens, carros, vendedores anunciando produtos; tudo uma completa loucura.
Nem em mil anos, Kim imaginava-se correndo para chegar rápido ao trabalho. Gostava de ter essa liberdade, apesar de saber que teria que se sustentar alguma hora, pois sua mãe não viveria por mais tempo além de dois meses.

Inclinou sua cabeça para cima fazendo com que as lágrimas voltassem para os olhos, era impossível não chorar ao lembrar daquela situação. Ele não poderia fazer nada para salva-la, isso o matava mais do que as próprias lâminas enferrujadas.

— Taehyung! — Gritou alguém em meio a turbulência suburbana.

Taehyung não havia ouvido e apenas seguiu caminho, mas algo inexplicável o fez olhar para o lado, como num impulso que ninguém entenderia. Piscou algumas vezes para limpar os olhos marejados e semicerrou-os para conseguir enxergar melhor, precisava urgente voltar a usar seus óculos.

— Taehyung! — O vulto voltou a gritar e dessa vez Kim o ouvia, ele reconheceria aquela voz mesmo que nunca tivesse ouvido.

O loiro acenou de volta e apenas viu o manchado rapaz atravessar a rua para encontrá-lo, chegando mais perto, Taehyung pode perceber que era Hoseok.

— Seok! — Exclamou o rapaz, feliz em ver o maior. — Desculpe mesmo por não ter prestado atenção é que... Estava muito concentrado nos fones de ouvido. — Apontou para o fio branco e sorriu envergonhado, deixando as bochechas corarem levemente.

Hoseok achou aquilo fofo.

— Eu também estava com os meus,— Jung levantou o objeto — porém, quando olhei para o outro lado da rua, encontrei alguém parecido com você e decidi chamar. O risco de passar vergonha era grande, mas eu tentei! — Sorriu divertido.

Taehyung sorriu quadrado para o maior e pôs uma das mãos no rosto para afastar os fios de cabelo que incomodavam suas pálpebras, fazendo Hoseok notar o quanto suas mãos eram enormes e cheias de veias.

— Hoseok. — Taehyung chamou.

— Oi. — O outro prontamente respondeu, tentando desviar os olhos das mãos do mais novo.

— Para onde você estava indo? Sabe, eu não quero te atrapalhar.

— Na verdade, — coçou a nuca — não estava indo a lugar nenhum, apenas dando um passeio. E você?

— Igualmente.

Hoseok olhou em volta e fitou uma pequena praça inacabada na parte baixa da cidade, teve uma ideia.

— Vem comigo. — Puxou o menor pelo braço e o levou por escada abaixo, animado.

Taehyung, mesmo sem entender nada, o seguiu.
Pararam em frente a um banco de pedras e Hoseok logo se sentou, fitando o menino. Logo depois dando espaço para o mesmo sentar-se ao seu lado. Taehyung sentou-se meio afoito, porém se sentiu confortável quando Hoseok lançou-lhe um sorriso.

O menor apenas se virou para frente e olhou os carros deslizarem pela pista rapidamente, os prédios tocando o céu e as crianças tomando sorvete enquanto brincavam no balanço de madeira, parecia antigo, mas elas estavam felizes.

Kim queria se lembrar de como era ser assim tão puramente feliz, talvez voltasse a descobrir um dia.

Hoseok pensava o mesmo.

— Kim Taehyung, huh? — Hoseok pronunciou-se.

— Mas como que...

Hoseok apontou para a sua capinha de celular, onde havia escrito seu nome com canetinha azul. Taehyung bateu na própria testa sentindo-se um tolo, fazendo com que Jung sorrisse.

— Jung Hoseok. — Disse, repentinamente.

— É um bonito nome. — Disse Taehyung, checando os olhos amendoados de Hoseok.

— Igualmente, Kim. — Sorriu.

Taehyung baixou a cabeça, intimidado. — Você é bastante sorridente não é mesmo, Jung? — Brincou.

— Eu tento. — Disse pondo uma das mãos na nuca.

Taehyung achava adorável quando ele tentava não parecer envergonhado.

— Você fica tão bonito quando está pensando, Kim. — Taehyung corou — Quando envergonha-se também.

Taehyung deu um tapa leve em Hoseok, fazendo os dois rirem.

Minutos depois, Taehyung agradeceu por sua visão ter sido falha mais uma vez dando o prazer ao menor de poder deliciar-se com a voz de Hoseok. Nunca agradeceu tanto por gostar de ouvir.

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