"Eu não sou mais uma criança!"
Repetia para mim mesmo diversas vezes naquela noite, assim como nas noites dos últimos dias, enquanto pensava nela.
Nos conhecemos desde crianças, quando nossas mães, que eram amigas desde a infância, nos tiveram no mesmo dia, no mesmo hospital e no mesmo ano. Eu era cinco minutos mais velho que ela, mas mesmo com a certidão de nascimento, ela insistia em dizer que era invenção minha.
Ela foi meu primeiro amor de infância, meu primeiro beijinho inocente atrás da porta aos seis anos. Foi minha primeira amiga, assim que entramos na escola juntos, faziamos trabalhos de artes e ciencias em duplas, entramos no vôlei e no teatro juntos.
Nosso primeiro beijo de verdade foi em baixo da árvore da casa dela, no quintal, enquanto trocávamos anéis de plástico e fazíamos um casamento de mentira. Tínhamos dez anos.
Aos quatorze, ela foi meu primeiro amor. Escrevi cartas me declarando, mandava flores e cantava tocando um violão desafinado na janela dela, suplicando que me desse uma chance de namorar e provar meu amor. Me vi perdidamente apaixonado quando ela disse que seu coração era meu quando nos casamos em baixo da árvore, próximo de onde eu ficava para cantar.
No colegio éramos o casal que todos sabiam que iam casar, ter filhos e serem felizes para sempre. Eu era jogador do time de futebol e ela líder de torcida. Todos gostavam de nós, todos sabiam que ela era minha e eu era dela, seríamos sempre nós.
A convidei para o baile da forma mais especial que pensei: Chamei o time de futebol para me ajudar e o Coral da escola para tocar enquanto eu cantava Skid Row - I remember you na janela dela, como fazia anos antes.
No baile, fomos rei e rainha, por unanimidade de votos de todo o Colégio. Ela estava linda num vestido azul bebê que combinava perfeitamente com seus olhos.
Nossa primeira vez foi em minha casa naquela noite. Também foi a primeira vez que trocamos o "te adoro" por "te amo".
Fomos para Yale juntos, ela medicina e eu direito, além de fazermos matérias sobre cultura juntos, e até mesmo nos períodos de provas, ela ia ao meu alojamento todas as noites para ficar comigo.
Nossa formatura foi quase na mesma semana, mas quando a vi pegar seu diploma na frente de todos, sendo aplaudida de pe por seus professores e colegas, eu soube que queria me casar de novo com ela, fazer o casamento dos nossos dez anos, ser legalizado. Ainda usávamos nossas alianças de plástico. Ela numa pulseira e eu numa corrente no pescoço.
A pedi em casamento naquela noite, e ela em lágrimas disse que sua resposta sempre seria sim.
Em dois meses, nos casamos em baixo da árvore de seu quintal, como quando crianças, mas agora com alianças que cabiam em nossos dedos e um padre oficializava nossos votos. Acabamos descobrindo que a árvore era uma castanheira, que acabamos plantando em nossa casa quando nos mudamos.
Descobri que ela falava dormindo, gostava de levantar durante a noite para comer e tinha preguiça de arrumar a cama, a qualquer hora do dia.
"Eu vou bagunçar mesmo, pra que arrumar?
Eu ria, e ela me contou que eu roncava de noite e tinha chulé, então eu colocava meus sapatos no quarto ao lado do nosso, para não incomodar. Acabei percebendo que eu tinha mesmo chulé, e impregnava todo o quarto de hóspedes.
Depois de três anos de casados, uma notícia maravilhosa: ela estava grávida, de um garotinho que nasceu poucos dias antes de nosso aniversário.
Caleb era esperto e ágil, minha miniatura que ela insistia em dizer que não tinha nada de mim. Mas no fundo ela sabia que nosso filho era a minha cara.
Cornélia veio três anos depois, a cópia fiel da mãe, então finalmente ela aceitou que Caleb era igual a mim, sem nada dela.
Quando Caleb arrumou sua primeira namorada aos quinze anos, ela chorou a noite inteira relembrando nossos catorze anos, quando iniciamos nosso namoro.
Quando Cornélia começou a namorar, aos dezesseis, eu chorei a noite toda e minha esposa me consolou, enquanto eu dizia que minha garotinha tinha crescido.
No casamento de Caleb, com a mesma namorada dos quinze anos, nós dois choramos, por ver nosso filho mostrando que aprendeu a amar com nossa história.
Cornélia casou cinco anos depois, na praia onde havia conhecido e se apaixonado por meu genro, que eu perseguia por me tirar minha menininha.
Chorei nos braços de minha esposa quando a vi ir para a sua lua de mel, então decidimos ter a nossa segunda noite de nupcias.
Nossas mães faleceram em datas próximas e nos apoiamos juntos. Nossos pais foram logo depois delas.
Choramos juntos, recebendo nossos filhos em nossa cama, todos numa família reunida.
Quando fizemos cinquenta anos, nossos filhos trouxeram os netos para comemorarmos. Os três pequeninos, Anna, Ben e Cody ouviam atentamente a história de nossa vida, desde nosso nascimento, ao namoro, formatura, casamento e filhos.
Foi quando pedi que casassemos outra vez, na mesma árvore que nos casamos nas outras duas vezes, e ela repetiu a mesma coisa:
"Minha resposta será sempre sim"Renovamos nossos votos na mesma árvore, onde olhei nossa família e amigos reunidos, vendo que em nossos cinquenta anos de vida, ela ainda era tudo para mim, e eu ainda a amava como minha primeira paixão da infância.
Agora, aos sessenta e três anos, ela estava numa cama de hospital, seu coração ja não aguentando como na juventude.
Eu chorava como uma criança, com medo de perder meu bem mais precioso, a minha vida.- Anahi, por favor, olhe para mim - A chamei, meu coração palpitou quando virou seus olhos azuis safira para me olhar.
- Sim Poncho? - Sua mão deslizou por meu rosto, a pulseira com o anel de plático ainda ali, e sua aliança reluzente em seu dedo.
- Eu a amo. Amo como amava aos seis anos e como amei a vida toda.
- Eu o amo desde que usávamos a mesma chupeta, e como amarei a vida toda - Soltamos uma risada, seu aparelho apitava num ritmo inconstante.
E eu soube que cada palavra era verdade. Eu a amaria para sempre, e ela a mim.
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OneShots - AyA
FanfictionHistórias curtas sobre Anahi e Alfonso. Eu mesma escrevo as histórias, as vezes saem menores, as vezes muito maiores; não ha uma regra - Histórias Fictícias - Qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência