Uma carta para meu amor - Poncho

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"Eu tinha onze anos quando te conheci. Estava empolgado pela enorme fazenda que iríamos morar, e mais empolgado ainda por saber que havia outras crianças ali.
Maite chamava muita atenção, mesmo nova tinha traços finos e um sorrisinho meigo, mas você era uma gracinha, loirinha de olhos hipnotizantes. Lembro das suas bochechas coradas e da língua presa ao falar.
Seu pai sempre foi sorridente, nos recebeu da melhor forma e criou um laço de amizade com meu pai. Eu gostei dele de primeira.
Minha mãe se apaixonou por vocês duas na mesma hora em que as viu.
Eu só me apaixonei por você quando comecei a te ensinar a trabalhar na fazenda, a pedido de seu pai.
Você tinha dez anos quando te empurrava no balanço, enquanto me dizia que gostaria de ganhar dinheiro para ler livros, e eu contei que gostaria de ter minha fazenda. Naquela fase notei que já não tinha a língua tão presa quanto antes.

Quando fiz dezenove anos sua mãe quis pagar meus estudos, eu odiava pois sabia que o curso era caro e meus pais nao podiam pagar, mas sua mãe insistiu, e eu a adorava muito para negar por mais tempo.
Aquele dia no celeiro, enquanto alimentava o bezerro e te perguntei o que queria de presente, você soltou que queria um beijo meu. Sua língua antes presa, agora era bem afiada para uma garotinha de quase dezesseis anos.
Na sua festa eu tive a certeza de que queria me casar contigo, mas ainda não podia. Ainda era muito nova para mim e eu não tinha o que te oferecer para te sustentar. Apresentei minha namorada a família e a vocês, ela te adorou pois disse que te achava uma fofa e super simpática. Assumo que ja esperava por isso, sempre exalou simpatia por ai. As pulseiras que ela te deu, eu que comprei, achei a sua cara e soube que gostou.
Não consegui falar com você, não me imaginei chegando perto de ti sem poder tocar seus lábios ou te abraçar e roubar para mim. Entenda, eu não podia me aproximar sem querer te sequestar para participar da minha vida, sendo que eu ainda não tinha nada...

Você se afastou depois disso, Maitê me disse que estava chateada comigo por causa da minha namorada, mas eu só estava com ela por que precisava saciar meus desejos. Ela era minha amiga colorida, só queríamos sexo, esquecer os problemas e nada de compromissos, funcionou super bem até o dia que estávamos na cama e eu imaginei você no lugar dela, então me caiu a ficha: eu te amava e nunca conseguiria te substituir em meu coração.
Minha mãe falou que estava te ensinando a cozinhar, e que sua relação com sua mãe tinha melhorado bastante. Algumas vezes ela separou alguns pratos que te ensinava a fazer pra que eu pudesse provar. Comeria aquele risoto todos os dias se pudesse.
Eu estava começando a crescer no mercado, conseguia alguns trabalhos além da fazenda, achei que tudo ia bem e logo poderia te ter, mas eu estava enganado.
Mamãe me contou que você iria para fora, estudar letras. Me senti traído, justamente quando imaginei que teria tudo para te dar, e você ia embora. Passei aquela semana toda sem chegar perto nem mesmo de sua casa, vagava a noite toda pelos pastos imaginando porque iria me deixar.
Encontrei Maitê uma noite, ela chorava por causa de um cara e eu a consolei, acabei abrindo meu coração sobre você e o que sentia.
Não sei quantas vezes pediu conselhos a sua irmã, mas ela era a melhor pessoa para ouvir e apoiar. Percebi que eu estava sendo ingênuo, como poderia me sentir traído se nunca me abri, nunca te contei meus sentimentos e planos?
No dia seguinte queria chegar na porta de sua casa e me entregar de coração aberto, mas eu tinha uma proposta incrível para a fazenda que eu trabalhava por fora, queriam me passar a gerência por alguns meses e o dono me passaria as terras. Enquanto trabalhei la, não recebi salário, pois tinha um trato: eu trabalharia até que o valor fosse pago, e então as terras seriam minhas.
Eram perfeitas para nos dois, então eu não fui em sua despedida. Foi duro, eu sabia que não te veria por muito tempo, mas eu precisava conseguir a gerência para te dar tudo o que merecia.
Acho que a noite que partiu foi o dia mais vazio da minha vida. Vaguei pela fazenda durante algumas horas, chorei como um menino, não dormi por uns três dias e minha mãe insistiu que deveria te ligar. Mas eu sabia que não podia dizer nada, por que estava seguindo seu sonho e eu só atrapalharia.
Aceitei esperar. Passei cinco anos da minha vida esperando você, juntei dinheiro, a fazenda que trabalhei agora era minha e eu me mudei pra la. Estive a ponto de te ligar por várias noites, sonhava acordado com o dia que te veria.
Quando Maitê me disse que iria se casar, fiquei muito feliz, mas eu havia iniciado uma especialização que me custaria umas semanas de viagem, contratei meu primeiro caseiro. Paguei seu salário apenas com o lucro de uma parte de minha fazenda e ainda me sobrou um bocado.
Sai para me especializar, mas tinha tanto anseio em te ver que voltei no pretexto do casamento. Descobri que meu caseiro havia me roubado muito, novamente, eu tinha apenas alguns ectares de terra e sem dinheiro para te sustentar.
Me odiei por ser um idiota, mas me odiei mais ainda quando te vi, linda no casamento de sua irmã. Infelizmente, me doía o coração não poder te ter.
Fui embora chorando, espero que minha mãe não tenha te falado sobre isso.
Por sorte eu tinha dinheiro para a passagem e terminei o curso, apliquei tudo o que aprendi e comecei a ganhar novamente.
Trabalhei como um condenado, arrumei pessoas de confiança, ninguém me passaria a perna outra vez! Enfiei minha cabeça em tudo o que podia me fazer crescer no mercado e mal vi dois anos se passarem, ate que mamãe me ligou avisando sobre seu pai.
Eu amava seu pai, era muito grato ao homem incrível que ele era. Fui ao enterro, sua aliança de noivado estava em meu bolso desde que você fez dezesseis anos.
Fiquei nervoso ao pensar que talvez não coubesse em seu dedo.
Quando te vi chorando abraçada a sua mãe, eu nao tinha dúvidas de que nao esperaria nem mesmo um dia a mais, sem que fosse minha. Mas eu tinha que ir com calma.
Esperei que estivesse sozinha, no balanço. Te acolhi, me reaproximei, peguei as tulipas que plantava em minha fazenda, próximo a janela do quarto que eu queria dividir com você e coloquei em sua janela.
Segui Maitê todos os dias, atazanando-a perguntando sobre você, até que ela me perguntou por que eu ainda não havia te chamado pra sair.
Chamei naquela noite. Te levei para um restaurante de frutos do mar, perguntei sobre cada passo seu, o que fez por todos os sete anos que não esteve comigo, e resolvi me abrir.
Te contei meus planos para casar e ter filhos, contei com orgulho o que construí com o tempo, e você ficou brava, achou que eu estava caçoando.
Então aquela era a hora, te mostrar o anel com seis pedras que comprei  atrás, quando nossos seis anos de diferença ainda nos atrapalhavam.
Você chorou, e quase chorei junto.
Agora, estou me arrumando para o nosso dia. Para o dia mais feliz da minha vida, o dia em que vou finalmente te chamar de minha e ver que todo o esforço que fiz valeu a pena só por saber que nada mais me impediria de te amar todos os dias.
Com amor eterno, seu Alfonso"

- Any, seque as lágrimas! Vai borrar a maquiagem! - Maitê reclamou com a irmã, mas sorrindo, pois era a única pessoa que sabia do sofrimento daqueles dois seres.
- Não posso evitar, ele escreve tão bonitinho - Anahi chorou mais uma vez e Maitê riu pegando um lenço.
- É o seu grande dia. Ele vai estar todo bonitão só pra você - Piscou e se afastou, acariciando sua barriga protuberante de grávida.
Anahi tocou-a imaginando a criança linda que sairia, e se perguntou quando ela teria os dela com Alfonso.
- Vai ter sua vez. Agora vai se casar! - A irma brincou, lendo seus pensamentos e a ajudou com a maquiagem.
Assim que saiu, seu foco era totalmente em Alfonso, esperando-a no altar como sempre quis, usando terno e uma tulipa na lapela.
Deus, amava aquele homem!

Quando ela finalmente chegou perto do noivo, eles sorriam em cumplicidade e Poncho lhe sussurrou ao pé do ouvido:
- Depois vamos conversar sobre esse Joe. Me disse que sua primeira vez tinha sido apenas "legal".
Ela riu - É, foi legal mesmo.
- Vamos esclarecer isso depois - Ele brincou
- Teremos todo o tempo do mundo - Piscou, e ele sabia que teriam toda uma eternidade juntos.
O padre chamou a atenção dos dois, iniciando o casamento tão almejado por muitos ali...

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