"Quando eu tinha cinco anos, o vi pela primeira vez, chegando na fazenda de meus pais enquanto eu e minha irmã Maitê espiávamos pela janela da casa.
Você tinha onze anos na época, mas ja era alto como seu pai, Marcos.
Sua mãe veio falar com a minha, ela tinha a voz doce e tinha as feições mais suaves que eu ja tinha visto.
- Anahi, Maitê, venham conhecer Ruth, ela e a família vão morar na casinha de caseiro aqui da fazenda.
Mamãe nos apresentou a ela e eu me apaixonei pela mulher que via. Cabelos negros e olhos verdes brilhantes, carregava um sorriso meigo e fazia a melhor comida do mundo.
Minha mãe não tinha muito tempo para mim, e Maitê já havia desistido de tentar chamar a atenção dela, então nos apegamos a Ruth como nossa segunda mãe.
No mesmo dia, ela nos apresentou a você. Vi seu olhar para Maitê, que ja tinha dez anos e emanava uma beleza surreal, morena de olhos âmbar, enquanto eu era loira, pálida. Meu único atrativo eram meus olhos, um misto de verde e ambar, uma mistura dos olhos de meus pais.
Mas eu tinha cinco anos, entendia sua atenção maior a Maitê, ela era perfeita, eu era completamente devota a ela também.
Seu pai também era amável como sua mãe, e conquistou papai ao se mostrar prestativo e de confiança nos dias em que se seguiram.
Mamãe viu em você o menino que queria ter tido, pagou seus estudos e eu via o quanto odiava isso, mas sei que hoje em dia é grato a ela, mesmo que não fale sobre.
Ruth cuidou de Maitê quando ela se tornou mocinha, tratou de falar sobre garotos e roupas íntimas com ela, mas não me permitia participar, pois era nova.
Quando entrei nessa fase, ela fez a mesma coisa comigo, e então entendi por que não pude participar daquela vez.
Eu estava com treze anos quando você completou dezenove anos e iniciou a faculdade local de ciências agrárias.
Você me disse uma vez quando empurrava meu balanço, que gostaria de ter uma fazenda e cuidar dela como sua, então entendi sua escolha do curso. Poderia colocar em prática o que aprendia e estaria em casa para ajudar seus pais.
Com catorze anos, eu ainda era uma garotinha esquisita, usava meus cabelos loiros em duas tranças e as meninas caçoavam de mim na saída da escola.
Você foi meu herói quando apareceu com o carro de papai para me buscar e deixou elas babando. Ninguém imaginaria que a esquisitinha teria um cara de vinte anos buscando ela na escola. Naquele dia me apaixonei por você. Minha primeira paixonite de adolescente.
Depois desse dia, fiz tudo o que pude para chamar sua atenção. Imitei Maitê nas roupas e jeitos, tudo o que ela fazia eu queria fazer. Eu sabia que ela te atraia, e nao era por mal, pois sei que ela sempre teve uma beleza invejável.
Era uma pena para você que ela preferia loiros ao invés de morenos.
Comecei a querer aprender a tirar o leite, plantar, marcar o gado e dar comida as galinhas.
Mamãe não gostava muito, mas papai adorava, imagina minha alegria quando pediu que você me ensinasse as coisas da fazenda?
Claro que vi seu descontentamento em ter que passar tardes e tardes comigo, mas eu estava feliz de mais para me importar.
Passamos dias juntos, você ria quando eu espirrava o leite da vaca em mim ou quando as galinhas me assustavam, mas eu gostava muito do seu sorriso, e não me importei que fosse rir de mim.No meu aniversário de dezesseis anos, eu ainda nutria aquela paixão por você, e quando me perguntou o que eu queria de aniversário enquanto eu alimentava o bezerro, eu não hesitei:
- Quero um beijo seu - Falei, orgulhosa por minha coragem.
- O que? Any, não posso te beijar.
- Por que não Poncho?Eu entendia que ainda era meio esquisita, talvez magra de mais e sem experiência nenhuma em beijo.
- Você tem dezesseis anos, eu tenho vinte e dois. É muito nova pra mim.
Claro, eu não pensava muito na diferença de idades, mas isso não era muito significativo pra mim, até você terminar sua resposta.
- Além disso eu namoro, ela vai vir na sua festa amanhã, pra conhecer meus pais e vocês.
Bom, eu não estava preparada para ouvir aquilo. Até então eu não cogitava que você conhecia outras pessoas que não eram nossos pais, eu e Maitê.
Lembro que terminei de alimentar o bezerro e corri para o quarto, onde Maitê me ouviu chorar por alguns minutos e sua mãe apareceu logo depois para ajudar.
Na festa, eu me sentia uma princesa, Maitê e sua mãe organizaram tudo, mamãe contratou os melhores decoradores e papai pagou tudo sem reclamar.
Você mal olhou pra mim naquele dia, sequer me desejou parabéns.
Sua namorada era bonita, aliás. Maitê falou que ela era um doce, e infelizmente, ela era mesmo. Ela me deu um conjunto de pulseiras que eu amei, me desejou feliz aniversário e disse que estava muito feliz em me conhecer.
Eu realmente queria que ela fosse uma péssima namorada, mas naquela noite Maitê conversou comigo e me fez ver que você merece as melhores coisas da vida, e se eu realmente te amasse, eu deveria te deixar viver e escolher o que era melhor pra você.
Então deixei.
Parei de ajudar na fazenda e passei a ajudar mais em casa. Mamãe ficou feliz, me ensinou a fazer tricô e bordado, parecia ter mais tempo para mim e Maitê. Sua mãe me ensinou a fazer risoto, carnes, bolos e outras coisas gostosas. Você nunca me procurou, mal nos olhávamos, até que terminei a escola e você me disse "parabens" e foi embora da minha formatura.
Maitê saiu de casa pouco tempo depois, para ser a arquiteta que tanto queria.
Mamãe aceitou que eu saisse para fazer faculdade fora, meus pais ficaram felizes por que eu iria cursar letras. Não era o curso que eles queriam para mim, mas aceitaram super bem.
Você não veio a minha despedida. Você nao falou comigo no dia em que soube que eu iria embora, nem na semana que passou, nem no dia em que fui.
Eu tinha dezoito anos e um coração magoado, pronta para te esquecer.
Mas nos cinco anos que se passaram, eu nunca me esqueci do seu sorriso, nem de seus olhos verdes expressivos ou sua mania de comer os cantos dos dedos.
Aos vinte e um, tive meu primeiro namorado, dei meu primeiro beijo sem acreditar que não seria com você. Acabou não dando certo e terminamos, até que conheci Joe, meu segundo namorado e com quem tive minha primeira vez aos vinte e dois anos. Foi incrível, não posso negar, mas ele ainda não era você.
No ano seguinte escrevi meu primeiro livro, fez tanto sucesso que dois anos depois eu lancei a continuação.
Aos vinte e três anos, eu voltei a fazenda de meus pais, para o casamento de Maitê. Quando vi a maneira que Christian olhava para ela, eu soube que queria aquilo para mim. Mas você não estava lá, estava se qualificando para se tormar um fazendeiro melhor, fora do estado. Chegou no meio da cerimônia e saiu assim que acabou, não pude ao menos te ver, saber como estava ou se havia mudado.
Sua mãe disse que você estava muito angustiado naquele dia.
Na hora imaginei que gostasse de Maitê e não suportasse ve-la casar, mas desacreditei, pois nunca mostrou interesse nela, nem ela em você.
Viajei por mais dois anos, e só voltei pra casa aos vinte e cinco junto com Maitê, quando papai adoeceu.
Depois de sete anos, eu finalmente te vi, no enterro de meu pai.
Mesmo com o rosto inchado pelas lágrimas agarrada a minha mãe, eu te reconheci. Nunca me esqueceria de seus olhos.
Estava mordendo as laterais dos dedos, ao lado de seu pai.
Incrivelmente, você se aproximou de mim, quando sentei naquele balanço da fazenda, abaixou-se na minha frente e notei que estava tão alto que até ajoelhado parecia do meu tamanho sentada.
- Sinto muito pela sua perda Any - Você disse.
Sua mão tocou meu joelho, reparei sua voz rouca e percebi que você ainda mexia muito comigo.
Eu não respondi, e parecendo saber da minha dor, apenas me balançou por alguns minutos.
Nos dias seguintes, voltou a falar comigo. Colocou tulipas na minha janela, sabendo que eram minhas flores preferidas, trouxe chocolate quente para mim e mamãe, e soube que perguntou a Maitê se eu estava bem, quase todos os dias.
Até que me finalmente me chamou para jantar fora, comemos frutos do mar. Falamos de nossa história quando novos, falou que aos trinta e um anos você finalmente tinha sua fazenda e pretendia se casar e ter seus filhos.
Eu lembro de ter ficado muito brava por comentar em casamento com outra enquanto jantava comigo, ate que se ajoelhou na minha frente, mostrando uma caixinha de veludo com uma aliança fina e seis pedras pequenas.
Só então me explicou tudo o que havia acontecido e eu entendi que sempre me amou.
Agora, aos vinte e seis anos, estou no quarto vestida de noiva para me encontrar com você no altar, pronta para entregar minha vida a ti, pois meu coração já é seu ha muito tempo.
Eternamente sua, Anahi"Poncho terminou de ler a carta, guardou-a no paletó e saiu da casa, rumo ao espaço separado para o casamento. Maitê era uma das madrinhas, estonteante exibindo uma barriguinha de quatro meses de seu primeiro filho. Christian era seu padrinho, já estava pronto e lhe sorria a fim de passar confiança.
- Vamos filho, já esperou por ela muito tempo - Ruth lhe disse, segurando seu braço e guiando até o altar, onde esperava por sua futura esposa.
Anahi apareceu segundos depois, sendo levada por Marcos, ambos sorrindo e com lágrimas nos olhos.
Quando ela finalmente chegou perto do noivo, eles sorriam em cumplicidade e Poncho lhe sussurrou ao pé do ouvido:
- Depois vamos conversar sobre esse Joe. Me disse que sua primeira vez tinha sido apenas "legal".
Ela riu - É, foi legal mesmo.
- Vamos esclarecer isso depois - Ele brincou
- Teremos todo o tempo do mundo - Piscou, e ele sabia que teriam toda uma eternidade juntos.
O padre chamou a atenção dos dois, iniciando o casamento tão almejado por muitos ali...
VOCÊ ESTÁ LENDO
OneShots - AyA
FanfictionHistórias curtas sobre Anahi e Alfonso. Eu mesma escrevo as histórias, as vezes saem menores, as vezes muito maiores; não ha uma regra - Histórias Fictícias - Qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência