Meus medos são minha força

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Minha mãe disse que quando nasci, com 53 centímetros e quase três quilos e meio, não pode deixar de me dar o nome de meu pai, Alfonso Herrera.
Ela dizia que quando eu ainda estava em sua barriga, sabia que eu seria forte como ele, corajoso, sincero e com um coração grande como o seu. Ao todo, ela não se enganou. Eu realmente sou tudo isso e talvez um pouco mais, sem querer me gabar, é claro.
Sou o mais novo de cinco filhos, com diferenças de três anos entre cada filho, o que era bem engraçado de se imaginar e impossível acreditar que nenhuma das gestações foram planejadas. Mas meus pais eram bem desatentos mesmo, como quando Alana, a primogênita, subiu no telhado quando tinha treze anos para resgatar um gato, e eles só viram quando ela caiu no meio da horta no quintal da casa. Ela ficou bem, a propósito. Não quebrou nada e agora se acha uma super heroína, se tornou bombeira, onde conheceu seu marido Robin e se casou há seis anos. O gato também ficou bem.
Rose, a segunda mais velha, cursou gastronomia depois de ter superado o medo de cozinhar - este medo surgiu depois que meus pais super desatentos a deixaram cozinhar seu miojo sozinha aos seis anos e derramou a água quente toda em sua perna esquerda. Rose tinha seu próprio restaurante e um dia, um homem resolveu reclamar de seu bife invadindo sua cozinha, depois de quase uma hora de discussão, ele a chamou para sair e hoje estão casados, há quatro anos.
Allison era a filha do meio, a única que havia puxado os cabelos escuros e introspecção de minha mãe. A personalidade fechada, mas muito amável a fez gostar de ler, tanto que quando tinha oito anos, ainda era baixinha de mais para pegar os livros em cima da estante da mini biblioteca de mamãe, os únicos que ainda não havia lido. Super esperta, subiu na estante e caiu com tudo no chão, levanto o movel enorme com ela. Por sorte papai resolveu verificar e a tirou antes que sufocasse. Olha só que coincidência, cursou letras na faculdade e quer ser escritora. Não sei se pelo acidente ou pelo prazer que tinha antes.
Ranny era de longe a mais enérgica da casa, sabia que nossas noites de festas seriam incríveis se ela estivesse la. Quando ela tinha quinze anos, roubou de um sexshop, foi presa por uma noite e quando saiu decidiu que queria ser, Adivinha? Ladra!
Ok, isso foi uma brincadeira. Ela agora era policial na nossa bela Portland, Maine, e nesse exato momento se enchia dos biscoitos amanteigados de Rose ainda mornos.
Competiamos para ver quem ganhava, e a julgar pela diferença tamanho, era óbvio que eu ganhava mais uma vez. Ranny tinha um metro e sessenta e oito, e eu, um metro e noventa.
- Alfonso é um ogro, não pode competir com ele Ranny - Allana riu avaliando suas cartas enquanto jogávamos poker.
- Um dia vou ganhar de você - Ranny jurou com o rosto quase verde depois de tantos biscoitos.
Olhei minhas irmãs, as A's e as R's, de Alfonso pai e Ruth, super criativos. Eu era muito grato por ter muitas irmãs, por que me ensinaram tudo o que precisava sobre mulheres e sobre a vida, duas coisas muito importantes para mim.
Todas as minhas irmãs superaram seus medos e fizeram deles sua fortaleza, seu sustento e sua felicidade. Eu amava a força delas, amava o que elas eram e amava tudo o que me ensinavam. Desde a proteção de Allana, as melhores receitas de Rose, os livros de Alisson e os golpes certeiros de Ranny. Além de grandes dicas com mulheres claro!
Eu amava mulheres, em todas as suas formas e jeitos. Quando completei dezessete anos iniciei a faculdade e fui morar sozinho, numa beliche.
Meus pais eram liberais, então nao ligaram quando seu filho adolescente saiu de casa e começou uma faculdade super cedo, assim, nunca tive problemas com permissões.
- Boa noite pra vocês deusas, eu vou pra casa - Anunciei, jogando um straight flush em cima da mesa e ouvi os gemidos de quatro derrotadas.
- Ele rouba - Murmurou Allana pronta para afogar as mágoas nos biscoitos de Rose.
- Escovem os dentes antes de dormir - Apontei e sai.

Acho que falei tanto de minhas irmãs, que esqueci de falar um pouco mais de mim não é?
Prazer, sou Alfonso Herrera, cirurgião dentista, 27 anos, solteiro e morto de sono.
Trabalhei algumas horas a mais no dia anterior, agora teria que dormir mais cedo para o dia de amanhã. Havia marcado três pacientes, uma criança que me dava bastante trabalho, uma senhora que demorava horrores para me deixar trabalhar e uma adulta nova que precisava extrair os sisos.
Como meu consultório era muito procurado, contratei dois estudantes de odontologia que faziam os primeiros exames e depois passavam os detalhes para mim, mas sempre era eu quem fazia as cirurgias principais.
A senhorinha precisava fazer um tratamento de canal, um dos assistentes tirou fotos, com a permissão dela para que eu tivesse uma ideia melhor do que precisava fazer, também recebi as da outra moça que viria.
Eu sempre reparava a boca das pessoas, não apenas nos dentes, mas no maxilar, a forma dos lábios e o sorriso.
A senhorinha tinha uma boa arcada dentária, mas descuidou muito dos dentes de trás, já a moça tinha a boca mais bonita que eu ja tinha visto. Do modo profissional claro. Dentes branquissimos, bem alinhados e sem sinais de aparelho dentário.
Sonhei com aquela boca durante a noite.

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