Anjo de Algodão

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Pessoal, esse é o prólogo de uma história que estou escrevendo, a publicação não vai sair agora, mas desde já aviso que ano que vem começo a publicar.


- Poncho

Olhei o pátio, lotado de crianças correndo de um lado para o outro, umas nos brinquedos e outras jogando bola. Eu sabia o nome e sobrenome de todos ali, quem era bom no esporte, quem gostava de aprontar e quem eram os quietinhos. Provavelmente sabia mais deles do que de mim.
Mas tudo o que sabiam de mim, é que eu era um garoto franzino, com uma deficiência na perna e preso a cadeira de rodas.
Antes eu usava muletas, por me dar mais mobilidade, mas alguns dos garotos chutavam e me faziam cair, então a cadeira era mais segura.
Suspirei, olhando a garotinha nova da sala que brincava no balanço com uma rodinha de crianças em volta, apenas a observando. Havia chegado a menos de uma semana e já conquistou a todos, desde funcionários ate os alunos mais briguentos. Todos poderiam beijar o chão que ela pisava, onde passasse todos olhavam e cumprimentavam. Não era exagero de minha parte.
Anahi era linda, em todos os sentidos. Tinha cabelos cobre, com pequenos caracóis nas pontas que contornavam seu pescoço, o rosto parecia de uma boneca de porcelana, branquinha com as bochechas coradas pela corrida do balanço até o escorregador, deixando os olhos azul piscina mais evidentes. Era baixa para os 9 anos, mas linda.
Eu via que todos ofereciam os brinquedos em que estavam para ela brincar, e ela sorridente dizia que não. Uma fila de fieis seguidores andava onde quer que ela fosse, e eu adoraria estar la também.
Mas de acordo com Dylan, o garoto de 12 anos que parecia ter 15 de tão grande, eu havia sido expulso do pátio por ser "alejado", e graças a ele, as poucas crianças que ainda me cumprimentavam passaram a me ignorar, e quando se referiam a mim era sempre como "alejadinho" ao invés de "Poncho". Eu odiava isso.

Enquanto olhava as crianças brincando, Dylan empurrou uma garota da gangorra e ofereceu a Anahi, mas ela negou e ainda brigou pelo empurrão fazendo uma cara feia, para depois ajudar a garota a se levantar. Sorri, ela era fantástica, e eu era um garoto de 10 anos completamente apaixonado.
Subitamente ela olhou em minha direção. Acho que foi a primeira vez que ela me viu. E ela sorriu. Ela abriu aquele sorriso lindo e acenou a mão para mim - e eu só tinha certeza de que era para mim por que eu estava na entrada do corredor que dava ao pátio, e estava sozinho, como sempre.
Timidamente ergui minha mão e lancei um tchauzinho extremamente feliz por ter a atenção de alguém, e por esse alguém ser ela.
Um medo absurdo me veio quando ela seguiu andando em minha direção, sendo chamada algumas vezes, mas sem tirar os olhos de mim.
Não consegui encarar aqueles olhos tão azuis e acabei olhando para minhas próprias mãos, com os dedos entrelaçados em meu colo. Apenas vi seus sapatinhos pretos quando chegou em minha frente.
- Olá! O que faz aqui sozinho? - Ela quis saber.
- E-eu não p-posso entrar no pátio - Mexi os dedos freneticamente pelo nervosismo.
Anahi segurou meus dedos tão delicadamente que as mãos dela pareciam feitas de algodão.
- É propriedade da escola e você pode entrar quando quiser - Dito aquilo, a olhei, encarando aquelas duas piscinas em seus olhos com pequenas pintas num azul mais escuro.
Não era de se espantar que ate os olhos eram perfeitos.
- Dylan não me permite entrar - Assumi envergonhado.
- Dylan é um bobo - Desdenhou com a mão e sorriu mais uma vez para mim - Qual seu nome?
- Alfonso... Mas costumam me chamar de Poncho - Olhei novamente para seus pés, envergonhado.
- É um prazer Poncho, sou Anahi. Mas como somos amigos, pode me chamar de Any.
- Nos somos amigos? - Aquele fogo de esperança nasceu em mim. Eu teria uma amiga ali?
- É claro oras! Por que não?
- Bem - Falei desanimado, abrindo meus braços como se mostrasse a cadeira de rodas - Olha meu estado... Sou um inútil.
- É claro que não Poncho - Ela amansou a voz, calorosa, e mal pude conter um sorrisinho - Ninguém é inútil.
Dei de ombros, esperando que alguém brigasse por estarmos nos falando. Ela era perfeita, e eu um nada.
- Vem brincar comigo - Estendeu a mãozinha para mim e sorriu.
- Vão brigar comigo. E com você - Me abracei e encolhi no meu lugar.
- Ninguém briga comigo por fazer um amigo novo - Ela disse segura de si, me fazendo realmente acreditar que nada de ruim aconteceria.
- Venha, vamos pro pátio, e vamos nos divertir, só nos dois - Ela se colocou atrás de mim e empurrou minha cadeira até o pátio.
Assim que Dylan nos viu, me olhou de cara feia e começou a gritar comigo, mandando que eu deixasse Any em paz e fosse embora, mas ela prontamente brigou com ele, dizendo que se eu não pudesse brincar la, ela também não poderia. E claro, como todos amavam a garota que conheciam a apenas uma semana, Dylan não se opôs mais a minha presença ali.
E ali, minha amiga, minha única amiga, me defendeu pela primeira vez na minha vida.
E foi a primeira de muitas!

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