Camisa azul

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Ele chegou, o "tão esperado" dia do culto, não. Eu não desejava ir, nada contra Deus, mas às vezes o fã clube me incomoda, com tanta hipocrisia e procrastinação.

-Ei Mana!! Vem pra cá vim te buscar.

  Minha irmã buzinava da porta, enquanto eu bastante empolgada, saía vagarosamente do meu quarto em direção às cozinha, o meu plano era fazer ela ficar entediada e me deixar ali.

-Venha aqui garota adiante-se.

Eu finalmente saí da casa fechei a porta e por fim, decidi aceitar a ida ao culto. Afinal por que seria tão ruim não é mesmo?

-Então, animada?

Minha irmã tinha um senso de persistência invejável, se eu me esforçasse para as provas como ela havia esforçado-se para me levar a igreja, eu fecharia o ENEM.

-Mais ou menos.

-Por que garota?

-Não costumo sair muito de casa, ainda mais para ir à igreja irmãzinha.

Ela se concentrava na pista, mas não tirava sua concentração de mim.

-Sabe mana, a igreja até que é legal. Fora que é uma boa forma de passarmos um tempo juntas já que andamos tão afastadas.

-É pode ser. --Dei-a um sorriso falso.

Continuamos na estrada em direção a tão famosa igreja, não hei de criar expectativas pois já me decepcionei com a escola. Eu pensei.

-Chegamos!

Passaram-se alguns minutos desde o momento em que comecei a viajar na minha onda filosófica.

Eu era uma adolescente, fazer o quê.

Cheguei e sentei, não cumprimentei as pessoas nem tentei forçar simpatia para ninguém.

-Boa noite.

Meu jesus Cristíssimo...

-Boa. -- Havia parado ao meu lado um ser, que nem sei se era humanos porque Jesus Cristo do céu, como pode um rostinho tão angelical desses não ter caído daí de cima?

-Tem, alguém sentado aqui? --indagou.

-Bom, tem a minha irmã... Mas estes bancos aqui estão vazios.

-Ah sim, pode guardar um instante? Vou chamar minha mãe.

-Oh sim claro, nem precisa explicar moço.

Agora eu vejo quão idiota eu parecia, moço é como eu chamo o tio da padaria, não este Deus grego.

Ele não demorou a voltar graças a Deus, nunca me senti tão bem na igreja.

-Quando inicia-se o culto senhorita?

Por fora eu (espero) parecia calma, por dentro, me sentia igual o Remy do filme ratatouille enquanto sentia a "explosão de sabores em sua boca"

-Me chame de Mel, e não, eu não sei. Na verdade é a primeira vez que venho aqui, digamos que eu e o senhor Deus não estamos muito próximos

-Sei exatamente como é, eu só vim hoje porque me mudei pra cá recentemente, e estou com minha mãe.

-Estou surpresa, ainda mora com sua mãe?

-Não, só a acompanho.

-Estou entendendo.

-E você Mel, mora aqui mesmo?

-Ah sim, me mudei faz pouco tempo. Desculpa esqueci de perguntar seu nome...

-É Miguel...

-Prazer.

-Todo meu, Mel...

Sorrimos um para o outro, o culto iniciou-se.

O que para mim de nada serviu pois a única coisa que conseguia pensar era em como aquela camisa azul o caía bem, e como aqueles olhos de jabuticaba penetravam a minha alma, ele era muito lindo, forte e alto, "deve ser casado" eu pensei. Vou me aquietar aqui. Sabia que deveria abaixar meu fogo antes que ele se manifestasse em meio aos irmãos.

O culto estava um tédio, o que salvava a noite era o Miguel ao meu lado, até o nome é de anjo. Como pode?

A pregação? Era sobre Noé, e sua arca, que tinha tantos bichinhos bonitinhos, sim, eu comecei a viajar na idéia da arca de Noé, e o tanto que eu achava fofos os bichinhos, eu queria ter sido uma das filhas de Noé e ficar alisando os leõezinhos, já pensou? Como er...

-Meeel... --Minha irmã sussurrava-- acabou.

Eu imediatamente olhei pro lado e não vi o Miguel, moço da camisa azul, não vou negar que fiquei muito triste e incontente com o fato que o "boy magia" não estava mais lá.

Então saí, toda aquela gente conversando sem parar me incomodava, encostei num Ecosport freestyle vermelho estacionado ao lado da igreja, que como vocês já devem imaginar... Era do pastor.

Mais a frente uma Hilux prateada estava estacionada. Ao lado da igreja não havia quase ninguém, e como o carro da minha irmã estava parado ali perto, decidi que não era uma má opção à esperar ali.

-Mel. Olá de novo.

-Oi Miguel --Eu disse sorrindo sentada no batente lateral da igreja.

-Posso sentar aqui?

-Vá na fé... --Eu ri.

-O que achou do culto?

-Ah, nem vi metade.

-Nem eu.

Ele ria e a gente conversava como bons amigos, o chato é que era só isso, amizade, porque é óbvio que na minha cabeça virgem e fervente eu já tinha fantasiado inúmeras posições sexuais que nós poderíamos utilizar.

Mas, isso não vem ao caso.

-Tenho que levar minha mãe até a casa dela, se não já teria ido pra casa dormir. Você trabalha Mel?

-Ainda não, se puder ajudar com isso será de bom grado.

Ele riu.

Eu ri.

-Você é engraçada garota.

-E você é muito aleatório.

Melanie vamos!

Ecoou ao longe a voz de minha irmã.

-Bom tenho que ir, até mais Miguel.

-Sorte sua que já vai, vou esperar minha mãe, até a próxima Melanie.

-Mel! Me chame de Mel, moço.

-Certo, até mais Mel.

Entrando no carro da minha irmã, apenas observei enquanto a figura daquele moço sumia devido a distância, não nego que fiquei triste, pois queria vê-lo de novo, mesmo que só para rirmos juntos...

Mais uma vez.

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