Stranger

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Eu tava com tanta raiva do Miguel, eu só pensava em me vingar. "Como ele pode deixar uma mulher estranha ficar abraçando ele?" Aquilo realmente não tinha explicação.  A noite, eu e Kamila decidimos passear numa balada que tinha perto do centro da cidade. Seria um método de eu me vingar e dela se divertir... nós não costumávamos ir para lugares como esse...
Era nossa primeira vez na balada, fui até a casa dela por volta das 7:00 da noite, nós saímos às nove já que a mãe dela não se importava com nada...  O mais difícil realmente foi ir até lá, já que minha mãe não queria deixar eu dormir na casa dela, meu pai sim... então acabou que eu fui.

Assim que cheguei nós começamos a nos arrumar, tomamos banho juntas, arrumamos o cabelo da outra, fizemos cachinhos, nos maquiamos, colocamos nossas melhores roupas mais apertadas e curtas, e ficamos muito gostosas, tão gostosas quanto a Bianca,eu só pensava em tirar fotos pra colocar nos status para o filho da puta ver... Só faltava sair, mas a gente ficou com muita vergonha... Porque não era comum a gente sair com aquele tipo de vestimenta, ainda mais para a balada que a gente não conhecia ninguém, era um só nós duas no meio de um monte de gente estranha, mas já estávamos na chuva, prontas para nos molhar.

Ao chegar ficamos totalmente deslocadas, não tínhamos nenhum grupo social ali... Só tinhamos uma a outra. "Melhor que está sozinha" nós pensávamos,

-Eu sempre ouvi falar Camila que quando as pessoas bebem, ela se sentem mais soltas... Vamos beber algumas para sabe ficar soltinhas, conhecer a galera!

-Eu não acho uma boa ideia,  porque a gente não sabe quem tá aqui, entende? See tiver um estuprador, um assassino, sequestrador?

-Ah Camila por favor... Vamos lá vamos nos divertir, a gente saiu hoje para um lugar que a gente quase nunca vem! E vai ser legal se a gente aproveitar como todo mundo aproveita...

- Mel eu não sei não...

- Então eu vou beber sozinha e você cuida de mim, se por acaso eu conhecer gente nova, te levo comigo tá bom?

-Tá, mas por favor cuidado...

-Relaxa...

Eu bebi tanto, mas tanto que só os que eu me lembro foram bem mais de dez copos, eu bebi garrafas e mais garrafas, intercalando cada bebidas com uma ida ao banheiro, se não saísse pela uretra saia pela boca mesmo...

Eu apaguei...

Eu acordei em um lugar que eu não conhecia, de início olhei para a minha barriga pra ver se tinham me roubado algum órgão, eu esperava de coração que não.

Minha cabeça doía e meu corpo pesava, eu não sabia o que acontecia comigo e nem sabia o que tinha acontecido com Camila, eu levantei esperando achar alguma menina no quarto, torcendo pra que nada daquilo fosse sério e eu estivesse na casa de alguém e só não me lembrasse... Eu estava num quarto com suíte, era só o que eu sabia... Era com certeza uma casa barata de um bairro de quinta, fui até a porta, abri, e vi um corredor com várias outras portas iguais, "Não pode ser..." Eu estava nua, voltei e procurei minhas roupas, eu não achei.
A partir daí já me desesperei... E comecei a chorar no quarto em que eu estava...

-Que merda que merda que merda!

Achei uma camisola por lá, não era meu tamanho mas tudo bem, não achei meu celular, minha carteira e não sabia onde eu estava eu precisava ir até a rua pra procurar ajuda.

Mas antes, tinha que me certificar de onde eu estava, ao sair, eu infelizmente constatei, eu estava largada num motel...

Como eu iria explicar isso aos meus pais, quem que tinha me levado até ali? E por que eu não escutei a Kamila, ela me avisou do que poderia ter acontecer, mas por que ela não estava comigo, eu chorei enquanto saía dali escondendo meu rosto das pessoas que eram poucas mas que por ali estavam...

Eu tenho que achar uma delegacia, nem sei onde estou...

Era manhã, e a rua tinha muita gente, eu estava com muita vergonha descalça e de camisola andando pelos cantos tentando me esconder...

Decidi ficar num canto sombreado e sem movimento até mais tarde...

"Pelo menos aqui ninguém vai me olhar estranho" a noite eu procuro ajuda, e assim foi...

Eu queria relatar aqui que alguma doce senhora me abordou e me ajudou mas durante as mais de onze horas que fiquei ali sentada, chorando e tentando entender o que tinha acontecido, as pessoas só me olhavam com desprezo e estranhezas, como eu também sempre tinha olhado pra pessoas na minha situação...

Eu me senti um cachorro fedido e ferido que implora por ajuda e ninguém sequer o olha...

Perdida no meio dos meus próprios pensamentos, cochilos e choro, finalmente anoiteceu, assim que anoiteceu sai pela rua procurando a delegacia, nunca achei que seria tão difícil encontrar uma numa cidade que não era tão grande assim...

Mas eu não conseguia pedir ajuda a ninguém, eu fedia e aparentava uma mendiga, eu não queria incomodar e senti que ninguém se importava comigo por ali...

Acho que andei por mais umas duas horas, até que enfim encontrei a delegacia...

-Olá, eu não sei onde eu tô e quero encontrar minha família...

-Você está bêbada?

O policial que estava ali perguntou pra mim...

-Não, quer dizer não mais...

Ele não entendeu bem de início mas eu contei toda a história pra ele...

-Bom, eu vou checar a lista de desaparecidos e te devolver a sua família garota...

-Obrigada.

-Quer trocar as roupas? Imagino que estas estejam desconfortáveis...

-Estão, eu não tomo banho desde ontem...

Ele me guiou até o banheiro e me deu vestimentas, conversou com o delegado, e ele deixou que o mesmo cuidasse do meu caso...

-Tome estas roupas, fique a vontade...

Tomei um longo banho naquele pequeno banheiro, troquei as roupas e fui até ele, eram roupas dos próprios policiais que estavam ali, uma camisa branca e uma calça azul muito folgada com um cinto que nada deixava ela sair do meu corpo, eu ainda estava sem sutiã, mas fiquei todo tempo com os braços cruzados...

-Onde você mora?

Passei meu endereço pra ele...

-Vou te levar até sua casa.

-Ah meu deus meus pais vão me matar...

-Você não foi uma garota muito comportada não é?

Ele me fez rir...

-Nunca fui...

Nos olhamos e rimos...

Ele desceu do carro e explicou toda situação aos meus pais, eu também devia as minhas explicações e desculpas mas, pelo menos tudo aquilo havia acabado...

SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora