Capítulo 6 - Suas lentes

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Na terça-feira, Ino não dormiu, sua gata estava sobre seu travesseiro, os olhos atentos nela. Eram três da manhã, mas não dava para simplesmente dormir! Havia assinado o contrato com a agência no dia anterior, e Konan tinha lhe pedido que levasse algumas de suas roupas para fazer o primeiro ensaio fotográfico.

Agora, quais roupas???

Os vestidos estavam já na bolsa sobre a cama, mas... vestidos? Mordeu o lábio, indecisa. Possuía dois croppeds lindos que Sasuke e Sakura tinham lhe dado de presente, combinavam com a saia longa e solta que amava e lhe dava um ar hippie que achava bonito, mas... olhou-se no espelho. Seria ser sem noção levar aquelas roupas, as fotos precisavam ser bonitas, era sua primeira imagem, a famosa primeira impressão! Não podia ficar mostrando a barriga, não tinha corpo para aquilo, não agradaria, e ela precisava agradar, nunca teria aquela chance outra vez!

O coração batia dolorosamente com os pensamentos, embora sua racionalidade discordasse dos medos que eram materializados no reflexo do espelho. Encarar-se ali era como ver duas grandes sombras consigo, uma de cada lado, apoiadas em seus ombros a repetir tudo aquilo em que ela deveria evitar pensar.

Apertou as mãos com força, até que doesse e isso a fizesse desviar o olhar. Pegou a saia nas mãos e a jogou na bolsa junto com um dos croppeds, no fundo; não seria sua culpa se, por acaso, a equipe visse as roupas e, talvez, quem sabe, gostassem, não é? Não era como se ela fosse vestir apenas por levar, era?

Vestidos justos ainda estavam no armário, para levá-los teria que levar as cintas junto, e só de pensar em ficar tendo a cintura marcada, a barriga apertada... sem falar na respiração! Não conseguia nem respirar quando usava a cinta, odiava ter que vestir durante as apresentações de ballet e não queria ter que usar em seu dia a dia também.

Fechou a porta do guarda-roupa com força e abriu a parte dos acessórios. Ali seria mais fácil, pegou uma segunda mochila e colocou todos os anéis, brincos, lenços, boinas, chapéus, tudo. Estava animada e seu estômago dava voltas, Sasuke só acordaria às cinco, nem tinha como o amigo a ajudar a se acalmar.

Fechou as bolsas, decidida a se forçar a dormir mesmo que fosse um pouco. Teria aula no curso pré-vestibular às oito horas, depois deveria ir para a agência às duas da tarde e então aula de ballet à noite. Seria corrido, mas estava ansiosa para tudo.

Pela primeira vez, não perdeu a hora, logo no primeiro toque do despertador ela já se sentou na cama alheia ao miado descontente da gata por ser empurrada sem delicadeza. Correu para o banho, queria lavar o cabelo, deixá-lo secar naturalmente. Gostava daquele ânimo, da vontade de se arriscar e de encarar algo novo que lhe parecia promissor. Fazia tempo que não se sentia assim! O ballet era sua paixão, mas era como um romance conturbado em que várias pessoas se intrometiam para destruí-lo. Professores, rivalidades, pressão social, peso, padrões, eram como mãos que se esticavam para segurá-la para, não só impedir que avançasse, mas também puxá-la para trás, para o chão, para qualquer lugar longe dos holofotes e dos aplausos da plateia.

Entretanto... aquilo também era assustador, afinal, já diziam que, quanto maior a expectativa, maior a dor da decepção ao tombo, não? E isso ela definitivamente não queria, não saberia se conseguiria lidar com mais uma desilusão. Não era justo que tudo que almejasse fosse tão difícil, cercado de tantos preconceitos e barreiras. Quantos tapas a sociedade achava que ela aguentaria? Quantas vezes esperavam que ela fosse capaz de se erguer?

Sorrir era fácil, bastava usar os músculos corretos e enviar o comando, mas motivos para isso eram cada vez mais difíceis de se achar.

Carpe diem, Ino, carpe diem — repetiu em voz alta e com firmeza.

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