Capítulo 41

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Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!- Friedrich Nietzsche

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[...]

30 de novembro de 2006

-Menina Claire?

-Sim?- grito, pois estava ainda a ir em direção da voz com a Anne ao colo.

-O menino Kendall está cá e quer falar consigo.

-Okay.- cheguei ao pé da porta da entrada e vio.

-Oh! Olá, Claire.- ele cumprimenta passando a sua mão no cabelo parando na nuca para coçar. Ele estava nervoso?

-Olá, Kendall.

-Olá, tio.

-Oh, olá, boneca.- ele acenou a Anne.

-Vieste cá buscar as coisas?- pergunto-lhe. Ele assentiu. -Entra. Estão no fundo do quarto.- ele voltou assentir e subiu as escadas.

Eu coloquei a Anne no sofá sentada no meu colo. Ela brincava com os meus dedos, enquanto eu a olhava. Ouvi ele a descer as escadas com as suas coisas. Eu sempre gostei da sua atitude descontraída, mas desta vez estava-me a irritar. Será que ele já se esqueceu de mim? Eu ainda não consegui tirar-lo da minha cabeça é como fosse uma sombra sempre me a perseguir.

-Claire? Eu... tenho tido saudades tuas.- oh. Eu também tenho tido. Mas eu já fiz a minha escolha e ele não entra nela. Ele é passado. Agora tenho que concentrar na minha sobrinha. Na Anne.

-Já tens as tuas coisas?- ele assentiu. -Então já podes ir.- fui fria e cruel.

-Eu sei que também tens saudades minhas. Eu vejo-o nos teus olhos. Vejo a saudade, a mágoa, a tristeza...

-Eu não quero saber.- interrompi-o nunca olhando para ele.

-Eu vou viver para Alemanha com os meus pais. Parto em dois dias ao 12:45. Eu amo-te. Nunca te esqueças disso. Eu sei que tu no fundo ainda me amas. Adeus.

Ele saiu e ainda olhou para mim como ainda tivesse esperança que eu voltasse atrás com a minha decisão, mas acabou por fechar a porta. Uma lágrima saiu do olho.

-Poquê que a tia 'tá a jorar? [Porquê que a tia está a chorar?]

-Porque a tia ainda ama o tio.- outra lágrima sai involuntáriamente.

-E o tio?

-Ele também ama a tia.

-Endão poquê não vicam funtos? [Então porquê que não ficam juntos?]

-Porque a tua tia é totó.- rio-me.

-A tia é toto?- assenti. Ele riu-se com a sua mão na boca. -E o tio é toto?- neguei com a cabeça.

-Talvez seja só um pouco.- brinco com ela. Ela riu-se.

-Tio e tia totós.- ri-me com ela.

Eu estava a ser muito parva, porque eu sentia que isto não vai acabar assim. Eu ainda tenho esperanças que ele venha cá e me peça outra oportunidade. Eu daria-lhe sem pensar porque agora percebi que estou a ser totó como a minha sobrinha mo diz.

[...]

02 de dezembro de 2006

Neste dois dias, Kendall não aparecera. Ele deve ter posto mesmo na cabeça que me tinha que esquecer. Mas é injusto. Os livros sempre contaram que há uma final feliz. Mas parece que na minha história, um final feliz está muito longe. Como é que pude acabar com a minha felicidade de um momento para o outro. Ele contava comigo, confiava em mim. No entanto, eu estraguei tudo. Como fui capaz? Vou ao meu quarto e começo a arrumar as coisas. Eu não consigo ficar aqui sem fazer nada. Se ele vai embora, eu também vou, mas não para o mesmo destino. Começar do zero. Contruir uma nova vida com a minha sobrinha. Não quero ficar aqui nesta enorme casa com recordações que me vão fazer sofrer. Com essas recordações ia lembrar dos momentos em que eu e Kendall tivemos juntos. Eu não quero mágoa para o resto da minha vida. Eu não quero me lembrar que eu acabei tudo com o Kendall, por eu pôr a sua felicidade à frente da minha. Ele queria ir para Alemanha e eu "obriguei-o" a ir, a única coisa que o fazia ficar aqui na Suiça era eu e a Anne. E eu destrui a única hipótese. Se o arrependimento matasse, eu já estaria morta. Arrumo as coisas com uma certa fúria. Eu não quero que as coisas acabem assim. Abro as gavetas tiro tudo que estava lá e punha na mala. Vi a carta cor-de-rosa clarinha com o meu nome da minha mãe. Não sei o que aconteceu mas tive, finalmente, coragem para abrir-la. Abri com curiosidade. E comecei a ler-la. E só com a primeira palavra as lágrimas começaram a cair.

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