A noite correu fria e silenciosa na casa de Janete e Isaura. O sono da jovem, como vinha acontecendo desde seu regresso, foi bastante agitado. Ela teve uma série de sonhos os mais variados e acordou por diversas vezes. Despertava assustada, com o coração aos pulos, ofegante. Às vezes lembrava-se de alguns momentos, de flashes, mas que não faziam sentido algum. Não se encaixavam com a realidade. Precisava acordar cedo, tinha marcado um atendimento com a psicóloga. Mas não conseguia se desvencilhar da tensão em que se encontrava. Como resultado, iniciou sua sexta-feira com uma leve dor de cabeça e com um péssimo humor. O relógio na cabeceira marcava sete horas. Sentiu ao longe o cheiro de café e de pão fresco. Isaura fazia questão de assar o pão e mimava Janete o máximo que podia, não somente para compensar a ausência dos pais da moça, mas também porque ela estava passando por um momento extremamente difícil e queria fazer com que se sentisse amada. Sabendo de tudo isso, esforçava-se ao máximo para manter uma aparência serena e natural já que não queria magoar nem preocupar quem estivesse ao seu redor.
Trocou de roupa e foi escovar os dentes. Isaura estava atarefada na cozinha.
— Já a mil por hora assim tão cedo Isaura? Não dorme não, velhinha?
Brincou Janete caminhando para tomar o café. Isaura colocou as mãos nas cadeiras.
— Cedo? Menina malcriada! Te paparico tanto e você reclama, pois sim.
Sentaram-se para tomar café bem humoradas. Janete tentava dar um tom suave a seus dias, procurava não transparecer o misto de sentimentos e conflitos pelos quais vinha passando, fazendo de tudo para não preocupar ainda mais sua amiga.
— Isaura, tenho que estar às dez horas na psicóloga. Sei lá, não gosto muito disso, soa a invasão de privacidade, sabe? Sempre achei que problemas sentimentais e psicológicos se resolvessem com um bom tanque de roupas pra lavar ou um livro interessante que ocupe a cabeça.
A idosa olhou torto desconfiando das intenções de Janete.
— Não diga isso, minha filha. Tenho certeza de que ela irá ajudar você. Seu caso é diferente, não pense assim. De mais a mais, vocês irão apenas conversar. E antes de sair, irei rezá-la filha, para que fique sempre protegida.
Janete sorriu. Apesar de tentar se esquivar do tratamento psicológico sabia que Isaura não lhe daria chance. Além disso, gostava muito das rezas da idosa e sentia-se protegida por elas. O dia estava frio e chuvoso, após o café Janete foi procurar um agasalho para ir ao consultório de Patrícia, depois pegou sua bolsa e foi ver Isaura.
— Estou pronta para sair. Vamos?
Isaura largou seus afazeres e dirigiu-se à varandinha dos fundos da casa seguida por Janete. A jovem sentou-se em um banco baixo e Isaura trouxe um copo com água fresca e um galho cheio de folhas verdes. A idosa rezava o Credo ao mesmo tempo em que passava o galho em torno de Janete que segurava o copo. Isaura começou a bocejar e a ficar trêmula. Após mais algumas orações e algumas palavras e frases de cunho religioso, pegou o copo com água e lançou o conteúdo no jardim.
— Filha, tem com uma energia muito pesada sobre você. Mas agora que a rezei, fico mais tranquila. Vá para sua consulta e que Deus esteja contigo.
Janete deu um beijo no rosto de Isaura e saiu.
Não levou mais que vinte minutos de caminhada e já estava no endereço escrito na folha de papel cor-de-rosa que a psicóloga lhe entregou. O consultório ficava em um belo sobrado no centro da cidade a poucos quarteirões da igreja. Era pintado de azul escuro com janelas e detalhes brancos e possuía um bem cuidado jardim na frente. No térreo estava estabelecido um consultório de fisioterapia e para chegar ao da psicóloga havia uma escada de ferro lateral também pintada de branco. Janete subiu os degraus com cuidado, pois estavam molhados e não queria escorregar. Tocou a pequena campainha localizada ao lado da porta de vidro, aguardou alguns instantes e escutou a chave.
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ABDUÇÃO
Science FictionAo despertar no leito de um hospital, após semanas desaparecida, Janete não poderia imaginar que sua vida mudaria para sempre. Seus dias de estudante universitária no interior do Rio de Janeiro estavam contados. Agora ela era a futura mãe de um ser...