Capítulo 5

266 17 0
                                    

A noite correu fria e silenciosa na casa de Janete e Isaura. O sono da jovem, como vinha acontecendo desde seu regresso, foi bastante agitado. Ela teve uma série de sonhos os mais variados e acordou por diversas vezes. Despertava assustada, com o coração aos pulos, ofegante. Às vezes lembrava-se de alguns momentos, de flashes, mas que não faziam sentido algum. Não se encaixavam com a realidade. Precisava acordar cedo, tinha marcado um atendimento com a psicóloga. Mas não conseguia se desvencilhar da tensão em que se encontrava. Como resultado, iniciou sua sexta-feira com uma leve dor de cabeça e com um péssimo humor. O relógio na cabeceira marcava sete horas. Sentiu ao longe o cheiro de café e de pão fresco. Isaura fazia questão de assar o pão e mimava Janete o máximo que podia, não somente para compensar a ausência dos pais da moça, mas também porque ela estava passando por um momento extremamente difícil e queria fazer com que se sentisse amada. Sabendo de tudo isso, esforçava-se ao máximo para manter uma aparência serena e natural já que não queria magoar nem preocupar quem estivesse ao seu redor.

Trocou de roupa e foi escovar os dentes. Isaura estava atarefada na cozinha.

— Já a mil por hora assim tão cedo Isaura? Não dorme não, velhinha?

Brincou Janete caminhando para tomar o café. Isaura colocou as mãos nas cadeiras.

— Cedo? Menina malcriada! Te paparico tanto e você reclama, pois sim.

Sentaram-se para tomar café bem humoradas. Janete tentava dar um tom suave a seus dias, procurava não transparecer o misto de sentimentos e conflitos pelos quais vinha passando, fazendo de tudo para não preocupar ainda mais sua amiga.

— Isaura, tenho que estar às dez horas na psicóloga. Sei lá, não gosto muito disso, soa a invasão de privacidade, sabe? Sempre achei que problemas sentimentais e psicológicos se resolvessem com um bom tanque de roupas pra lavar ou um livro interessante que ocupe a cabeça.

A idosa olhou torto desconfiando das intenções de Janete.

— Não diga isso, minha filha. Tenho certeza de que ela irá ajudar você. Seu caso é diferente, não pense assim. De mais a mais, vocês irão apenas conversar. E antes de sair, irei rezá-la filha, para que fique sempre protegida.

Janete sorriu. Apesar de tentar se esquivar do tratamento psicológico sabia que Isaura não lhe daria chance. Além disso, gostava muito das rezas da idosa e sentia-se protegida por elas. O dia estava frio e chuvoso, após o café Janete foi procurar um agasalho para ir ao consultório de Patrícia, depois pegou sua bolsa e foi ver Isaura.

— Estou pronta para sair. Vamos?

Isaura largou seus afazeres e dirigiu-se à varandinha dos fundos da casa seguida por Janete. A jovem sentou-se em um banco baixo e Isaura trouxe um copo com água fresca e um galho cheio de folhas verdes. A idosa rezava o Credo ao mesmo tempo em que passava o galho em torno de Janete que segurava o copo. Isaura começou a bocejar e a ficar trêmula. Após mais algumas orações e algumas palavras e frases de cunho religioso, pegou o copo com água e lançou o conteúdo no jardim.

— Filha, tem com uma energia muito pesada sobre você. Mas agora que a rezei, fico mais tranquila. Vá para sua consulta e que Deus esteja contigo.

Janete deu um beijo no rosto de Isaura e saiu.

Não levou mais que vinte minutos de caminhada e já estava no endereço escrito na folha de papel cor-de-rosa que a psicóloga lhe entregou. O consultório ficava em um belo sobrado no centro da cidade a poucos quarteirões da igreja. Era pintado de azul escuro com janelas e detalhes brancos e possuía um bem cuidado jardim na frente. No térreo estava estabelecido um consultório de fisioterapia e para chegar ao da psicóloga havia uma escada de ferro lateral também pintada de branco. Janete subiu os degraus com cuidado, pois estavam molhados e não queria escorregar. Tocou a pequena campainha localizada ao lado da porta de vidro, aguardou alguns instantes e escutou a chave.

ABDUÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora