Capítulo 7

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O jardim do prédio principal da Universidade Rural enchia os olhos de Janete. O pequeno lago criado artificialmente era cercado de canteiros repletos de verde, com palmeiras espalhadas nas laterais que davam ao local um charme inigualável. Podia ficar horas admirando aquela água transparente recheada de peixes de diversas espécies coloridas e vistosas. O chão revestido de pedras brilhantes com aspecto rústico era belíssimo e fazia questão de passar por ali todos os dias para apreciá-lo. Caminhava lentamente sobre as pedras, estudava seu desenho, suas ondulações. Fazia-lhe muito bem.

Os corredores movimentados e repletos de estudantes do prédio de Letras possuíam algo de especial que estimulava sua vontade de ensinar, de estudar, de pesquisar. A universidade tinha um encanto único para Janete. Adorava aquilo.

Dirigia-se para a sala da professora Maria da Conceição a fim de iniciar seu trabalho substituindo-a junto a suas turmas de Linguística. O longo corredor de paredes brancas que a levaria a seu destino comportava também a biblioteca. Precisava passar lá mais tarde. Deu três batidas na porta e entrou no gabinete da professora.

— Como você é pontual, Janete. Acho que já disse isso a você, não? Venha, venha que o trabalho é muito. Não vou te dar folga querida.

Maria da Conceição abraçou-a conduzindo-a para uma cadeira de madeira com assento de tecido colorido. A professora sentou-se em uma ampla poltrona preta de couro acolchoada e ficou olhando para Janete sorrindo sem dizer nada. Elas ficaram durante alguns segundos olhando ao redor, se entreolharam e finalmente Maria da Conceição tomou a palavra.

— Janete, sinceramente não sei o que dizer sobre o que te aconteceu. Eu soube pela secretaria o que houve por alto, por ouvir falar. Papo de corredor sabe? As pessoas comentam sabe? Apesar de gostar muito de você e de termos uma amizade, quis respeitar sua privacidade. Você sempre foi tão reservada.

Janete percebeu o desconforto da professora. Ela sempre foi discreta e de poucos amigos mesmo. Fazer o quê?

— Professora, não precisa dizer nada, estou superando. Tenho acompanhamento psicológico e esse trabalho aqui vai me ajudar ainda mais. Não comentar nada é melhor pra mim, tudo bem?

— Certo, se é assim, fico tranquila. Vamos acabar com esse blá, blá, blá senão vou terminar chorando. Apesar de ser professora de Linguística, quando o assunto é sério, quando é pra valer, não sou muito boa com as palavras. É melhor adiantar o que temos que fazer, pois tenho muito que passar para você.

A professora sentia-se aliviada em terminar aquela conversa, tais assuntos eram de certa forma desconfortáveis para ela.

— Em primeiro lugar, quero que fique com esse laptop. Tenho outro novinho e posso deixar este aqui com você já que vai trabalhar para mim. Aqui está o modem para que você se conecte à internet. Todas as disciplinas que leciono estão nele catalogadas. Tem dezenas de arquivos, você terá tudo aí e se quiser algo mais é só pesquisar.

Era a vez de Janete ficar em situação embaraçosa.

— Professora, não precisa disso não. Eu posso vir aqui para a universidade, consigo ficar na biblioteca pesquisando. Isso não será necessário mesmo. Eu me viro.

Maria da Conceição levantou-se e caminhou pela sala. Pegou alguns livros pesados e colocou sobre a mesa. Recolheu calhamaços de papel que estavam sobre uma prateleira e colocou-os ao lado dos livros. Olhou triunfante para Janete.

— E então? O que prefere? Carregar esse monte de tranqueira ou essa maquininha que vou deixar com você? Sem contar que você está grávida. Como vai carregar todo esse peso, não tem como dizer não.

ABDUÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora