A escuridão profunda do ambiente fazia com que a umidade e o frio do lugar se intensificassem. O ar irrespirável temperado com um odor fétido era insuportável. Com a respiração entrecortada, forçando-se a não puxar muito ar para dentro dos pulmões, Janete apoiava as mãos no chão tentando se levantar, em vão, pois o piso escorregadio e viscoso atrapalhava seus movimentos.
Ela não fazia ideia de onde estava e nem de como fora parar ali. Resolveu ficar sentada por um tempo esperando sua visão se acostumar com a noite que lhe era imposta por aquele lugar. O silencio era absoluto e havia uma pressão estranha em seus ouvidos, como acontece nas maiores altitudes. Mas o sentimento de vazio que aquele local lhe proporcionava era uma tortura, pois não sabia se havia alguém a quem recorrer.
Onde estava ela não sabia, mas arrumaria um jeito de descobrir. Teria sido sequestrada? Mas se foi, por quem? Não fazia ideia. E na verdade, mesmo, isso pouco importava. O que queria e o que precisava era sair dali. Janete sempre foi uma lutadora, passou por maus momentos em sua vida e nenhum deles a fez esmorecer. Por um instante teve vontade de chorar. Por um rápido momento entristeceu-se. Sempre que algo de bom acontecia em sua vida, vinha uma rasteira para derrubá-la. Mas era teimosa e a coragem era uma de suas mais fortes características. Ergueu a cabeça e pensou que o melhor mesmo era esquecer quaisquer pensamentos e sentimentos tristes. E quem quer que tenha feito aquilo com ela, provavelmente deve ter sido algum psicopata, alguém desequilibrado. Ela precisava sair logo então. Precisava aproveitar que ainda estava intacta.
Os pensamentos fervilhavam em sua cabeça. Num impulso natural, passou uma das mãos pelo rosto. Foi aí que se lembrou de que estavam sujas, gosmentas por causa daquele negócio nojento que estava espalhado pelo chão. Suas narinas arderam, seu estômago embrulhou na hora e esfregou-as com força em sua roupa para limpá-las. Já estava ali há bastante tempo e resolveu aventurar-se pelo local, na tentativa de se libertar.
Por mais que forçasse sua visão, nada conseguia enxergar, a ausência de luz era total. Começou tateando lentamente ao redor de onde estava sentada. Ajoelhou-se com as mãos apoiadas no chão, procurando por algo que não sabia o que era. Aquela coisa pegajosa dava arrepios em Janete, mas precisava continuar, foi tateando e se arrastando, com medo de esbarrar em algo, sua imaginação fluía, pensando nos horrores mais profundos, mas como não podia enganar-se pelos pensamentos, resolveu se concentrar, prestando atenção em seus sentidos. Os maiores medos são gerados pela imaginação, Janete sempre pensava nas palavras ditas havia muitos anos por sua mãe. Mais do que nunca precisava tê-las em mente e focar na sua fuga.
Como ao redor não havia nada além do chão frio e daquela gosma, aquele muco abundante espalhado por toda a superfície, foi tomando coragem e resolveu movimentar-se mais para adiante, medindo, no entanto, cada um de seus movimentos. Foi engatinhando até o ponto em que percebeu que o chão foi ficando seco e menos escorregadio. Tentou erguer-se, foi levantando aos poucos até que sua cabeça tocou algo. Assustada, levantou os braços e alcançou o teto. Era baixinho e não podia comportá-la totalmente de pé. Janete media um metro e setenta, então a altura daquele lugar onde estava, deveria ser aproximadamente de um metro e cinquenta. Como não conseguiu levantar-se totalmente, precisou ficar com as costas curvadas, em uma posição incômoda e angustiante.
Continuou tateando às escuras quando encontrou uma parede lisa, fria, mas também coberta daquele líquido viscoso que parecia escorrer do alto. Resolveu então andar para a esquerda sem tirar as mãos da parede até que encontrasse uma saída. Notou que se encontrava em uma sala perfeitamente circular. O que intrigou Janete, no entanto é que não havia uma saída, as paredes que eram extremamente lisas ao toque formavam uma perfeita barreira contra sua fuga. Não havia uma brecha, uma ranhura sequer. Resolveu voltar ao chão. Tocando a junção do piso com a murada, reparou que na verdade não havia sinal de que ela tivesse sido construída sobre o piso. Ambos eram uma coisa só. Janete começou a se desesperar, sentou-se novamente e sentiu que a gosma estava aumentando de volume, ensopando suas roupas. Aquele troço devia estar brotando de algum lugar, saindo pelas paredes, não sabia dizer ao certo.
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ABDUÇÃO
Science FictionAo despertar no leito de um hospital, após semanas desaparecida, Janete não poderia imaginar que sua vida mudaria para sempre. Seus dias de estudante universitária no interior do Rio de Janeiro estavam contados. Agora ela era a futura mãe de um ser...