Capítulo 8

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Aquela manhã de terça-feira estava deliciosa. Pela primeira vez em semanas Janete se sentia bem. Muito bem para dizer a verdade. Caminhava lentamente pelas ruas a caminho do hospital para a primeira consulta pré-natal. Por alguns instantes esvaziou sua mente por completo, queria apenas sentir a brisa leve e fria no rosto, o sol que teimava em aparecer por entre as nuvens e que aquecia seu corpo na medida certa. Caminhava, caminhava, observava as copas das árvores lá no alto, a luz do sol que entrava por elas formando belos desenhos que pareciam estrelas de brilho intenso escapulindo por entre as folhas.

Escutava os pássaros, o balançar dos galhos cheios das árvores, escutava a vida ao seu redor. De certa forma, não pôde deixar de pensar na vida que carregava. O que seria aquilo? O que seria aquele experimento? Sim, aquilo só podia ser um experimento científico. Não era burra, foi feito em seu corpo um cruzamento de raças. Mas que droga! Por que logo ela? Algum motivo existia, não podia ser assim, aleatório. Ou seria? Janete seria a cobaia da vez? Pode ser.

Enquanto caminhava, apesar de fazer esforço para filtrar seus pensamentos, inevitavelmente eles vinham como invasores. Pensava nos exames que faria. Quais seriam os resultados? Bem, quando estava internada, a saúde estava ótima e aquele ser já estava lá. Pequenino, é verdade, mas estava lá. Aquele parasita, que sugava suas forças, seu sangue, suas energias. Ele se alimentava dela. Isso era justo?

Pensou na ultrassonografia. O que apareceria? Um monstrinho de cabeça grande e olhos exagerados crescendo em seu útero? Apertou os olhos e balançou a cabeça para mandar aquela imagem para longe. Resolveu não pensar nisso agora, apenas aguardar os acontecimentos.

— Bom dia, posso ajudar?

A recepcionista do hospital dirigiu-se a Janete que aguardava no balcão de atendimento.

— Tenho consulta com o doutor Daniel. Não marquei hora, tem algum problema?

A recepcionista consultou o computador e pediu que Janete aguardasse alguns instantes. Momentos depois a moça a orientou para que ela se dirigisse à porta da sala dois, localizada no final do corredor. Em instantes o médico a atenderia. Janete agradeceu a atenção e encaminhou-se para o local.

O corredor branco estava silencioso. Algumas cadeiras enfileiradas estendiam-se ao longo daquele espaço no qual alguns pacientes aguardavam assistindo à televisão. Sentou-se de frente para a sala dois. A porta estava fechada e não vinha nenhum som lá de dentro. Na televisão passava um programa de culinária que ficou assistindo mecanicamente, sem assimilar direito as imagens vistas.

Estava frio e resolveu vestir um casaco quando a porta se abriu. Daniel apareceu, sorriu para Janete e fez sinal para que entrasse. Terminou de pôr o casaco, acompanhou o médico que esperou que Janete entrasse na sala e fechou a porta. O consultório tinha uma temperatura mais amena. Sentando-se de frente para a jovem, o médico conversou bastante para deixá-la mais à vontade.

— Fico feliz com sua visita, Janete. Isso significa que repensou sua decisão de interromper a gravidez. Você sabe que me preocupo com seu bem estar.

Janete sorriu para o médico ao ouvir tais palavras.

— Não vamos mais pensar nisso. Foi apenas um momento difícil pelo qual passei. Estou preocupada com o exame de hoje, se a criança é saudável, se estou saudável. O que será feito nessa consulta?

O jovem médico sorriu satisfeito com a pergunta de Janete. Explicou a ela que faria um exame ginecológico onde seria feito um "toque" para verificar o tamanho e o posicionamento do útero. Faria também um exame de ultrassom para registrar e acompanhar o desenvolvimento fetal. Ambos exames de rotina.

ABDUÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora