Capítulo 4

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— Bom dia, dorminhoca!

Janete piscou os olhos algumas vezes e se esticou com preguiça na cama. Aborrecida, viu que ainda estava no quarto do hospital e a poltrona ao lado de seu leito estava ocupada por uma desconhecida.

— Desculpe, mas quem é você? Cadê a Isaura?

Com um largo sorriso, a mulher pegou um caderninho de capa cor-de-rosa que estava sobre a mesinha de medicamentos e sacou triunfante da bolsa uma caneta igualmente cor-de-rosa com plumas na ponta.

— Eu que peço desculpas por minha intromissão, fofinha. Sou Patrícia, psicóloga designada para cuidar especialmente de seu caso a pedido do doutor Daniel.

Janete sentou-se à beira da cama e analisou sua visitante por alguns instantes. A mulher parecia uma boneca "Barbie", com seus cabelos loiros perfeitamente lisos, seu nariz fino e sua roupa elegante. Seus gestos e a aparência sofisticada contrastavam com a simplicidade do lugar.

— Patrícia, não me leve a mal, mas está acontecendo algum engano aqui. Você está perdendo seu tempo. O que eu preciso é da minha casa, preciso da minha vida de volta. Do que eu menos necessito nesse momento é de uma psicóloga. E onde está Isaura?

A mulher colocou-se de pé e caminhou pelo quarto sacudindo as plumas de sua caneta para um lado e para o outro. Sorria e olhava para o alto escolhendo as palavras que usaria.

— Benzinho, é aí que você se engana. Seu caso é sério. Por acaso se lembra de algo que lhe aconteceu? Não. Sabe que está tendo convulsões enquanto dorme e que quando consegue ter um pouco de sono, ele é entremeado com seus gritos e pedidos de socorro? Também não. Você precisa de ajuda. Precisa se lembrar e arrancar de você o que está lhe fazendo mal. E Isaura foi uma das pessoas que mais pediram ajuda a Daniel.

Assombrada com o que acabara de ouvir, Janete parou, respirou fundo e ia esfregar o rosto com as mãos quando interrompeu seus movimentos para examiná-las com cuidado. Ficou olhando as mãos por um momento, uma sensação desagradável tomou conta dela. Sentiu que se fizesse aquilo, algo ruim lhe aconteceria. Seu rosto contorceu-se por um instante, parecia que havia algo em sua mente lhe dizendo para não fazer aquilo, mas não sabia o por quê. Finalmente, esfregou as mãos no rosto e voltou-se para Patrícia.

— Olha, a última coisa que quero é deixar Isaura preocupada. Farei esse acompanhamento psicológico, se é do gosto dela, para deixá-la mais tranquila, mas quero ir embora daqui agora. Eu volto se você quiser, a gente pode marcar alguma coisa, mas quero ir para minha casa.

— Feito.

Patrícia fez umas anotações em seu caderninho, arrancou uma folha e entregou para Janete.

— Meu endereço. Aguardo você amanhã às dez horas. Pode deixar que conversarei com Daniel para cuidar de sua alta, quero muito esse caso. Sabe, tenho um especial interesse em ajudar mulheres em sua condição. — Disse e saiu do quarto.

— Mulher doida.

Janete, mal-humorada, levantou-se da cama e procurou alguma roupa diferente daquele camisolão para vestir.

A psicóloga cruzou o corredor do hospital fazendo barulho.

— Daniel, ela concordou com o tratamento, mas quer sair daqui hoje. Acho que você deve dar alta para a garota. Ela está bem, não está? Não pode segurá-la aqui para sempre.

Patrícia bateu as pontas de seus sapatos de salto no chão. Daniel estava em seu consultório conferindo alguns medicamentos no armário e quase os deixou cair com o susto quando Patrícia abriu a porta tagarelando sem parar.

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