Cloridrato de Amitriptilina para acalmar. Fluoxetina para eliminar os pensamentos ruins e induzir uma falsa felicidade. Um braço marcado por agulhas que penetravam a epiderme de hora em hora. E no final, nada daquilo ajudava. Os dias eram resumidos em esperar o tempo passar. Uma contagem regressiva e desesperada até o fim do dia. Pior do que ter que conviver com a própria desgraça, era estar naquele lugar. Aquilo de longe não estava ajudando em nada. Era melhor ser morto de vez do que vegetar a maior parte do tempo por estar dopado até o limite por remédios.
Will não se surpreenderia se fosse arrastado até uma sala e fizessem uma lobotomia nele. Mesmo que ele próprio não pudesse sair dessa situação deplorável e auto depreciativa, qualquer um podia enxergar que um tratamento químico a base de medicamentos para a depressão e auto extermínio não era adequado.
Essa clínica era o sonho de qualquer drogado, pois a maior parte do tempo você estaria voando pelas nuvens com unicórnios de chifres coloridos trotando pelo arco íris em busca do caldeirão cheio moedas douradas que se escondia no final do infinito.
Houve oscilação na lâmpada do teto. Talvez quem a colocou não tenha o feito corretamente. Os lábios ligeiramente ressecados moviam-se cuspindo palavras com certa graciosidade, assim esperado de uma bela dama no auge dos vinte anos. De certo modo o nervosismo que ela exalava o atraía para seu âmbito com suavidade. Em anos, aquela garota foi a primeira que o tratou com tanta cordialidade e mesmo assim, ele não conseguia nem sequer retribuir com palavras.
Clarice, por outro lado, já estava desistindo. Havia oferecido o arquivo detalhado com fotos e laudos das vítimas, implorando para o lado moral do homem a sua frente. E no fundo, ela estava com raiva. Era egoísta da parte dele não querer ajudar. Ele sabia muito bem que pessoas estavam morrendo e que poderia impedir se quisesse.
Era decepcionante ter se empenhado e colocado toda a sua atenção naquele encontro, pois, o mínimo que esperava era obter sucesso. Sem a colaboração de Graham as investigações não iriam avançar. Todos que tentaram traçar um perfil psicológico ou reconstituir as cenas falharam miseravelmente. E infelizmente, todos sabiam que William Graham tinha uma capacidade brilhante e assustadora de entender a mente dos criminosos.
E aqueles olhos, mais profundos do que qualquer oceano, refletiam uma mente desorientada. Para muitos, William Graham poderia muito bem ser considerado um homem acabado por conta de sua aparência. Mas Starling conseguiu sim extrair uma beleza dali, mesmo com inúmeras cicatrizes e o físico prejudicado. Um tipo de beleza que poucos conseguem captar. Cachos desalinhados sobre o rosto. Apesar de todas aquelas marcas, Clarice achou o homem bonito. Ele só estava muito maltratado.
Se ele estivesse arrumado e com o cabelo um pouco mais curto, com certeza seria o tipo de homem que faria o seu frágil coração palpitar.
Em algum momento a de cabelos acobreados parou de insistir e pensou no que fazer. Sua única opção era ir embora e encarar um Jack Crawford furioso e desiludido. Entretanto, fora surpreendida ao ouvir a voz de William pela primeira vez.
— É passional.
Ele, notando o espanto da garota, apenas continuou a falar.
— Sabe o que é um crime passional, não é ? Motivado por uma emoção doentia, ou amor. — O timbre estava um pouco rouco e grave por conta do desuso da voz por longo período, e incômodo pela garganta machucada. — Você me disse que ele sempre deixa rosas na cena do crime, ele está se desculpando. Não é a primeira vez que eu vejo um assassino usar esse tipo de método. Seja lá o que ele estiver tentando dizer com isso, é um tanto quanto metafórico. Vermelho para alguns transmite a sensação de paixão.
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The Broken Teacup
FanficWill Graham sempre foi um castelo de cartas inacabado esperando ser demolido a qualquer momento. Ele só não esperava que o psiquiatra canibal viria a criar gosto por derrubar as cartas, aguardando que fossem reconstruídas para serem levadas ao chão...