Nunca vou esquecer da primeira vez em que a vi. Confesso que não foi a melhor maneira de nos conhecermos, e na verdade, nós já nos conhecíamos, pelo menos de vista, das vezes em que fui acompanhado com meu pai comprar sorvete. Mas nunca dei bola para ela.
Isso é até estranho!
Entretanto, naquele dia em que fui buscar sorvete sozinho para um bando de familiares sedentos, ao olhá-la, algo me intrigou.
Sabia que havia ocorrido um assalto dias atrás, mas nunca imaginei que Melissa desconfiaria de mim. Confesso que comprar 50 potes de sorvete era demais, talvez para ela até estranho, e foi ai que começou a desconfiança.
Ela olhava para mim com certa resistência e percebi a vulnerabilidade estampada em sua face. Aquele seu jeitinho todo meigo, apesar da situação, me deixou, pela primeira vez, encantado.
— Érique! Érique! – Escutei uma voz conhecida ao longe. E só quando a dona da voz me deu um cutucão em meu ombro, voltei para a realidade.
— Está sonhando acordado? – Melissa perguntou seriamente, me encarando.
— Sim! – dei um sorriso sincero e a peguei pela cintura, roubando um demorado beijo. Como gostava de fazer isso com ela. Ver suas bochechas coradas sempre que fazia isso, me deixava com o orgulho lá em cima. Era apenas mais uma afirmação do que sentia por mim.
— Seu doido, não faça mais isso! – Ela disse com dificuldade, tentando recobrar o fôlego. Não dava para saber se ela estava rindo ou séria. Era uma mistura indecifrável e até atraente — Escutou? – Ela olhou-me com ternura enquanto tentava se manter firme. E antes que pudesse responder algo, ela virou as costas e saiu de perto de mim. A única coisa que consegui escutar foi “Ainda bem que o casamento está chegando!”.
O que dizer com isso? Ela estava totalmente certa. Sou um homem das antigas, compromisso é compromisso, e o lance de se manter puro até o casamento, fazia parte disso. Confesso que as últimas semanas estão sendo irresistíveis. Ficar perto dela está sendo sofrido. De repente, nossos beijos se tornaram algo cada vez mais convidativo para outras coisas, então, evitávamos o máximo ficar sozinhos, e ainda assim, tinhamos que ser muito forte. Realmente, ainda bem que o casamento está chegando!
Fui atrás de Melissa, consciente de não poder beijá-la. Precisávamos resolver sobre a ideia de morarmos na casa da árvore. Ainda estou custando a acreditar que ela aceitou a minha sugestão. Até onde entendo de mulheres, elas querem uma casa ou apartamento muito bem conservados. Tem que ser do melhor! Querem elegância e também praticidade. Tudo isso em um pacote só. Estava esquecendo de apenas um detalhe, Melissa não era como as outras.
Quando finalmente a encontrei, ela estava com um caderno na mão, fazendo várias anotações. Estava tão concentrada que nem percebeu a minha presença. Fui me aproximando dela, pensando em surpreendê-la novamente, mas no exato momento em que quase coloquei a mão em sua cintura, ela começou a subir na casa da árvore, e só então percebeu que estava lá.
— O que você tem hoje? Acho melhor parar se sonhar acordado, se não, vamos terminar essa reforma só daqui a um ano e tenho certeza de que não é isso que você quer, certo? – No final ela abriu um sorriso sarcástico, me encarando por alguns segundos.
OK!
Levantei minhas mãos em sinal de rendição e subi as escadas com ela. Precisava focar na nossa futura casa, só então os dias e as horas iriam passar rápido. Afinal, um mês para reformar uma casa e preparar um casamento, não é para qualquer um.
Quem foi que deu a ideia de fazer isso tudo em apenas 30 dias? Ah sim, nós dois. E isso aconteceu, assim que percebemos a afinidade que a pequena Vitória tinha pela gente.
Melissa se encantou pela Vivi (apelido carinhoso da Vitória) no primeiro momento em que a viu. Não sei dizer o que houve, apenas percebi que ela tem uma ligação muito forte com a bebê. Talvez fosse pelo diário da Hanna. Nunca vi alguém se sentir tão tocado por uma história de uma pessoa que nem chegou a conhecer. Parecia haver algo misterioso entre tudo isso. Realmente, acho que é um mistério de Deus, como Melissa anda dizendo.
Vitória acabou se apegando à mim e a Melissa, ficaria complicado ela na sua casa e eu aqui, quando a bebê queria estar perto dela também. Então, como já queríamos nos casar mesmo, juntamos o útil ao agradável e aqui estamos, tentando fazer um casamento e a reforma de uma casa da árvore em apenas um mês. Me diz, isso é possível? Só com a misericórdia de Deus mesmo.
Fim de semana eu e Melissa juntamos nossas famílias para começar um multirão. Primeiramente e urgentemente, precisávamos tirar aquele mato para abrir caminho da casa dos meus pais para a nossa futura casa, só assim teríamos condições de poder mexer nela. Ainda estou pensando o que vamos fazer com ela. Morar de aluguel estava fora de cogitação. Precisava de alguém que entendesse mais do assunto: reforma.
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Conto "Confia em mim".
Short StoryApenas 30 dias para tornar o sonho de Érique e Melissa em realidade. Mas, quando tudo parece estar se acertando, o inesperado acontece e Érique toma uma decisão que afetará profundamente a todos. Será que essa decisão será definitiva? O casal co...