Dia 21 - Érique

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            Sabia que não teria mais jeito. Melissa me esperava na sala da minha casa. Meus pais estavam apreensivos com a situação entre nós dois. Mas apenas eles sabiam da verdade, para o restante da família, além de Hanna, o casamento continuava para o mesmo dia.

            Respirei fundo, encontrando forças e coragem de onde não mais encontrava, e caminhei a passos lentos, até onde ela estava.

            Linda, triste e abatida. Seu sofrimento era notável. Minha vontade era de simplesmente abraçá-la e não ver mais aquele seus rosto de anjo, tão angustiado.

            — Oi! – Ela disse timidamente, para o meu espanto. É como se voltássemos à primeira vez que nos conhecemos. Éramos dois desconhecidos novamente, e isso doeu. Não poderíamos ser isso depois de tudo o que já passamos.

            — Oi! – Respondi da mesma forma, surpreendendo a mim mesmo. Queria poder dizer mais, no entanto, as palavras pararam no meio da garganta.

            Suspirei lentamente e fui até a varanda. Ela me seguiu e continuamos a andar, em um silêncio sofrido. Ninguém ousava falar em nada. Era como se qualquer palavra dita, pudesse estragar ainda mais a situação.

            Paramos na casa da árvore, a nossa casa. Olhamos por um momento o estado em que ela estava. Tinha coisas para terminar e não havia ninguém por lá. Antes que Melissa pudesse perguntar algo, tomei a frente — O mandei embora!

            Ela não disse nada, apenas escutei a respiração tensa dela, tentando se manter firme. Virei e a encarei, esperando a sua reação. Com dificuldades ela me fitou, completamente desnorteada. Senti um soco com a intensidade do seu olhar. Havia tanto ali, nenhuma palavra seria capaz de expressar tudo aquilo. Lutei contra mim mesmo para não ir até lá e a tirar daquele sofrimento todo.

            — As coisas mudaram, Melissa – disse, com a voz trêmula.

            — Eu sei – ela sussurrou — Queria poder ter sido mais inteligente e não uma tola, boba e ingênua. Só peço que me perdoe, Érique. Jamais quis fazer isso.

            — Eu sei! – Foi a minha vez de concordar. Conhecia a ingenuidade dela, acreditando sempre na boa intenção das pessoas. Mas havia limite, e para mim, a falta de confiança por ela não ter me contado o ocorrido, foi como se tivesse colocado um muro entre nós.

            Talvez me arrependesse dessa decisão algum dia, mas naquele momento, por mais que a amasse, simplesmente não conseguia ir adiante. E só de pensar em todos os nossos sonhos desfeitos: a vontade de ser apenas dela, a Vitória, tudo isso me deixava no chão.

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