♤ QUATRO ♤

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Como sonhar estando de olhos abertos? Como viver com as possibilidades assombrando nossos imaturos pensamentos?

— Querida instrutora, conheço a senhorita Haas. São amigos desde a infância e eles sabem que não podem ter envolvimento nenhum.— defende a rainha que também sorri para nós, um sorriso que não chega aos olhos. — Não sabe, crianças?— questiona com uma leve alteração de voz. Eu e Ângelo nos olhamos ao mesmo tempo e respondemos em uníssono.

— Sim, Vossa Majestade Serena.

Sue nos observa como quem quer nos fuzilar, embora saiba que deva deixar as broncas para um outro momento. Levantamos de nossos assentos e partimos para a saída, tão rápido quanto chegamos.

— Senhorita, Haas?— chama Sue e paro na soleira da porta, porém não volto o meu olhar para ela. — Sua nova governanta a aguarda junto à sua irmã.— completa e assinto saindo em disparada.

Procuro meu nome nas portas e vejo que por sorte estou no mesmo corredor que minha irmã. Ao adentrar o cômodo vejo as duas, uma impaciente por não saber do meu paradeiro e a outra confusa por não entender o motivo da governanta ter tanta pressa em me conhecer.

— Senhorita Haas, me chamo Zedara. A partir de hoje toda e qualquer situação em que se meter será passada para mim e levarei imediatamente o seu problema a Vossa Majestade que Reina Serena. Suas roupas serão escolhidas por mim, assim como suas joias, penteados de cabelo, convites para encontros reais e festejos. Serei sua mãe neste palácio!— me comunica e ponho minha mão sobre a têmpora em sinal de dor de cabeça.

— Oh céus! Saiba que nem mesmo a minha mãe detém esse cuidado comigo, acredito que não terá tanto trabalho assim. Se quiser pode sentir-se dispensada, querida.— digo e Zedara põe a mão sobre o peito fingindo um mini infarto.

Olhando bem para ela sei que não chega nem perto da idade da minha mãe. Suas vestimentas escuras, seus cabelos amarrados em uma poupa bem apertada e sua face emburrada é o que faz ela aparentar uma jovem rabugenta.

— E por favor, neste ambiente tem duas jovens Haas, me chame apenas de Jade para que não haja confusão com a mais nova.— ironizo e a vejo respirar fundo olhando para os olhos melosos de minha irmã que não para de nos observar.

— Tudo bem, agora acredito que a outra senhorita Haas deva ir para seu aposento e nos deixar a sós. Tenho que lhe dar sermões por seu mau comportamento, criança.— fala e Cefeida não aguarda uma nova ordem, a vejo sair do quarto feito fumaça. Quando a porta é fechada, nos jogamos na cama e damos risada do nosso pequeno teatro.

— Não pensei que ela cairia nessa. Foi muito bem como uma governanta ríspida.— elogio ao sentir que poderíamos parar de rir sem ter um novo ataque de risos.

— É para isso que nascemos, minha amiga. Esqueceu que meu povo é de artistas?— recorda Zedara e me pego a notar suas características: os seus belos olhos negros que brilham como pérolas de mesmo tom, os fios de cabelos também enegrecidos e a pele tom de oliva, o que me dá um contraste de sua beleza admirável.

— Dara, quanto tempo que não nos vemos! Pensei que a sua mãe havia conseguido algo para você em outro palácio.— revelo e a vejo virar seu corpo em minha direção e apoiar-se sobre o braço enquanto dá um estalo com a língua.

— Atrizes inexperientes não são contratadas facilmente. Pediram que fizesse a honra de trabalhar no palácio enquanto não consigo nada. Por sorte, mamãe foi quem organizou os quartos e viu seu nome, o que me deu a oportunidade de solicitar o encaminhamento para seu aposento, embora esperávamos lhe ver aqui ano passado.— pondera e miro o meu olhar para o lençol que está sobre a cama e os detalhes estampados do meu reino para lembrar a quem devo lealdade.

— Depois da pequena confusão que me meti, mamãe considerou melhor ficar mais um ano no casulo e ser avaliada no mesmo momento que Cefeida. Sei que ela espera a minha volta para casa, não entendo a razão para essa perda de tempo.— confesso.

— Falando em Cefeida, como ela está bela. Arranjará um bom partido com toda a certeza.— assegura com confiança. Ponho um fio solto atrás da orelha e faço que sim meneando a cabeça, mesmo respondendo logo em seguida.

— Sim, só penso que ela está nova para isso. Eu mesma me considero imatura para o matrimônio, tenho que dar um jeito de voltar para casa sem uma coroa no dedo.— asseguro e a vejo franzir cenho.

— Por que não aproveita a oportunidade? Sabe que de qualquer maneira terá que se casar um dia, melhor agora que poderá construir uma vida estável com alguém da realeza. Acostumar-se com a realidade de ser uma esposa.— aconselha e sinto o vinco surgir sobre a minha testa com desapontamento.

— Só casarei se encontrar alguém que ame, não por ser uma simples promessa. E se nenhum príncipe me encantar, devo me casar sem ter algum sentimento?— indago e Zedara parece ponderar por um momento.

— Sei de um que te encantara antigamente, seus sentimentos mudaram para com ele?

Fecho meus olhos em uma tentativa de fingir indiferença, embora sinto que esse assunto será pauta por muito tempo.

— A confusão mudou tudo, aliás, ele jamais seria meu destinado. O que tínhamos era apenas coisas de criança. Duas crianças bobas e que não entendiam nada sobre o mundo que viviam.— asseguro e a vejo fazer de conta que acredita.

— Não se apegue aos detalhes, minha amiga.— aconselha e novamente faço que sim meneando a cabeça. Mudo de posição em tempo de ver o sol se pondo, o brilho entrando pela janela e refletindo em meus cabelos castanhos. Primeiro dia longe de casa, quem diria...

Durante o início da noite solicitei a Zedara que trouxesse meu jantar para o quarto e pedi porções extras para que jantasse comigo

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Durante o início da noite solicitei a Zedara que trouxesse meu jantar para o quarto e pedi porções extras para que jantasse comigo. Cefeida não quis se juntar a nós, preferiu conhecer as outras promessas e os pretendentes. Sei que ela não passou tanto tempo no palácio como eu e sua curiosidade é perdoada. Nas primeiras vezes que vim aqui fiquei tão maravilhada que papai precisou fazer ameaças para me levar para casa. Também desejaria estar aproveitando a estadia, mas não pretendo passar a noite ouvido seja lá o que o príncipe Valentin tenha para me contar. Sempre foi um dos príncipes distantes e quanto mais tempo longe dele, maior será o seu desejo de cortejar uma outra promessa.

Agora, aproveito a companhia de minha amiga para desfazer a minha pequena mala, pois o toque de recolher se aproxima. Porém, com a falta de sono, aproveito para ler um livro. Como meu quarto é imenso, convido Dara para se alojar comigo e deixar os quartos dos fundos. Sei que lá também é confortável, no entanto todos os dias seria necessário que acordasse cedo para realizar tarefas que podem ser poupadas e, assim, ela aceitou prontamente. Com tudo em seu devido lugar e todas as persianas fechadas, sinto meu corpo enfim pesar sobre o mais macio dos colchões e o sono inavir meus pensamentos conturbados. Tenho uma noite turbulenta, que envolve sonhos com príncipes magoados e rainhas impertinentes.

 Tenho uma noite turbulenta, que envolve sonhos com príncipes magoados e rainhas impertinentes

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 👑 A PROMESSA REAL  👑 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora