♤VINTE E OITO♤

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Não deixe que esse seja seu fim, acredite que pode haver dias melhores. Clame por ajuda, só basta um pedido de socorro e tudo ficará bem outra vez.

— Filha, está na hora! — Ouço papai de perto, ele não me deixa mais trancar a porta e depois do ocorrido minhas chaves ficam trancafiadas em seu aposento ou em seu bolso.

Ele solicitou que Dara viesse para cá ficar ao meu lado, mas nem isso eu permito. Quero ficar sozinha, viver no meu luto eterno.

— Tudo bem. — É a única resposta que dou.

Meu vestido é longo e preto, sem detalhes, sem pedrarias, apenas mangas longas e pregas na saia. Não ponho brincos, maquiagem, nenhum enfeite e meus cabelos estão presos em um coque sem adorno ao redor.

Seco o suor das mãos no vestido, enquanto sinto o tremor delas, o doutor informou que é normal por causa do estresse dos últimos dias e para ajudar na recuperação passou calmantes que jogo pela janela todas às vezes que Dara vem me dar.

Quero sentir tudo que tenho direito sem nenhuma droga no sangue. Encosto a porta ao sair e desço as escadas, todo esse processo é como entrar em águas profundas, cada vez me afogo mais e sinto menos a minha respiração sôfrega. Cefeida já está ao lado de meu pai, seu vestido negro tem algumas flores de renda de mesma cor, uma tiara de ônix sobre os cabelos, brincos e colar de mesmo material. Noto o olhar preocupado da minha irmã ao me inspecionar. Ultimamente não tenho me visto no espelho, quebrei todos eles ao chegar, quebro qualquer coisa que esteja próximo, é minha maneira de despejar minha raiva. É incontrolável, quase por instinto.

— O automóvel já os aguarda — diz Amélia ao verificar a porta pela quinta vez.

— Tenha uma boa noite, Amélia! — Papai deseja e saímos da casa.

Sinto o frio sobre minha pele não exposta e recordo do dia que quase morri de hipotermia, teria sido tudo mais fácil.

Não conheço o novo motorista, não dou boa noite ao adentrar o veículo e nem digo nada durante o trajeto. Ouço o bater dos pés de papai, seu nervosismo é presente, assim como o de minha irmã, e o meu desejo de que isso termine logo para que eu volte ao meu quarto.

Ao chegar à assembleia, noto que diversos veículos já estão na entrada. Desço junto com os demais e vamos andando para dentro do recinto. Tudo é branco, desde as paredes até o piso, a única coisa que difere são os assentos de estofado escuro. No caminho observo alguns quadros na parede e um modelo do mapa que vi em Prylea. Ao atravessar o corredor e chegar ao local da reunião, sinto um tremor forte, ver todos que estavam comigo é como veneno para meu corpo. Constato a minha necessidade de correr para fora do local, mas creio que mandariam papai me internar em alguma clínica psiquiátrica e aí seria demais para ele que sofre calado.

Algum desses últimos dias acordei na madrugada e ao passar por seu aposento ouvi seu choro contido, me encostei em sua porta e partilhei do seu choro, dormi ali mesmo sem me importar com a dor que sentiria no outro dia, só queria estar ali dizendo que ele poderia contar comigo para tudo, no entanto, nem o melhor fundidor do mundo poderia juntar meus cacos, os nossos cacos.

Ângelo se aproxima e abraça a minha irmã, faz um sinal com a cabeça para mim que finjo passar despercebido. Sentamos todos próximos e nos primeiros assentos. O rei Ulyel inicia o discurso homenageando aqueles que se foram e agradecendo a todos que lutaram bravamente, percebi quando a rainha Mallory voltou a sua atenção para mim e nossos olhos se encheram de lágrimas, a qualquer momento eu poderia desabar porque é isso que acontece quando não sabemos o que fazer, caímos no abismo sem termos como nos reerguer.

Em algum momento em que estou perdida em meus próprios pensamentos de derrota, reparo que o assento que estava vazio é ocupado, não olho para o lado, mas sei quem é o dono do perfume que exala em um aroma tão amadeirado.

— Mesmo que não queira falar com ninguém, que não esteja preparada por causa de toda a tristeza que passa nesse momento difícil, ainda estou aqui para ouvir o seu silêncio, apesar da dor e de como tudo aconteceu. Vou sempre estar aqui para te levantar, farei isso milhões de vezes se for possível, faço de tudo por você Jade, mesmo que não aceite, mesmo que no futuro você esteja com outra pessoa. — Sinto as mãos de Valentin tocarem as minhas, por impulso tento afastá-las e ele interrompe a tentativa.

No entanto, preciso de colo, um que eu não tema e que confie porque sei que jamais ele faria algo contra mim. Então, em um momento de distração ponho minha cabeça sobre seu ombro e me atento para o sorriso em sua face.

— Com o voto do rei Derek, as avaliações continuarão

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— Com o voto do rei Derek, as avaliações continuarão. Os príncipes que permanecem conosco se encontrarão amanhã à tarde para informar suas parceiras aos seus respectivos reinos. Todas as promessas e destinadas deverão apresentar-se daqui à duas semanas no Palácio de Prylea para saber a decisão final. — Respiro fundo, fecho os olhos e encosto minha cabeça no assento.

Mesmo que Derek dissesse que não, a maldita avaliação ainda continuaria, foram tantos votos em concordância que teria sido mais fácil perguntar de primeira quem não aprovava a ideia.

Levanto do meu lugar e saio do recinto sem aguardar os demais, é sufocante estar junto a todos. Como minha vida pode ter se tornado essa grande bola de neve? Não entendo o que fiz de mal para receber tudo isso. Acho que se alguém pudesse olhar dentro de mim sairia antes dos trinta segundos, veria que até meus anticorpos cansaram de lutar e as minhas células não vivem mais por mim.

Eu costumava ouvir que as derrotas da guerra eram para aqueles que jogavam as bombas, sujavam as suas mãos com mais vidas do que as que pretendiam tirar. Eu não joguei bombas, mas tirei a vida que deveria permanecer viva.

Chamo um motorista qualquer e solicito que me leve para casa, não observo o caminho, nada é mais novidade. Tudo se tornou um punhado a mais de pedra e tinta carmesim. Ao tocar a campainha de casa, Dara abre a porta apressadamente, não fala nada e apenas segura minhas mãos me arrastando para o quarto.

Na minha cama está uma caixa, um vinco se forma em minha testa e volto minha atenção para Dara em questionamento. Ela apenas estende a mão em direção ao objeto. Vou até ela e observo as bordas de fita rosa e o tom branco impregnado na madeira. Abro a caixa sentindo o cheiro cítrico, o mesmo que sentia nas boutiques que visitávamos. Avisto diversas cartas e ao observar o destinatário constato que todas são para mim e com datas desde o meu nascimento. Não tenho como continuar com isso, é maldade demais pensar que eu suportaria ver tudo sem sentir nada.

— Tire isso daqui, agora! — grito com Zedara e ela me encara assustada.

Ela caminha em passos acelerados em direção à caixa e a tira de minha cama, levando-a para o lugar que provavelmente encontrou.

Não é possível que depois de tudo eu só venha descobrir isso agora.

O que mamãe queria me dizer que não poderia ser dito em voz alta?

Os anos se amontoaram em imagens difusas em minha mente.

Eu preciso ler o conteúdo dessas cartas, ainda que não consiga realizar a tarefa agora.

Apoio as minhas costas no chão e sinto o frio do piso. É só de uma bolha que preciso para me esconder, uma bolha gigante e sem ar.

 👑 A PROMESSA REAL  👑 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora