♤ VINTE E TRÊS ♤

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Era uma vez uma garota, que ao abrir os portões via o vasto horizonte lá fora. Ele sorria lhe desejando boa sorte.

Nos primeiros raios de sol pude ouvir o chegar dos automóveis. Agora os burburinhos são constantes, a agitação se torna presença, todas se preparando para o que vier acontecer. Eu assisto tudo sem dizer nada, apenas aguardando o momento certo para colocar em prática tudo que havia planejado no último mês.

Apesar de todas as suas afirmações, sei que Belle não está bem o suficiente para sofrer um novo trauma e temo não conseguir protegê-la. Dara, por toda a amizade que temos, se ofereceu para ficar em meu lugar, no entanto declinei a sua oferta já que sei como chegar a Limbell de forma rápida e segura. Não que eu esteja subestimando a sua inteligência, mas existem coisas dentro dos muros desses palácios que são mais familiares a mim do que a ela.

Enquanto ouço o arrulhar dos pombos, me visto para mais um dia de provações. O vento atravessa o vão do quarto e faz uma bagunça em meus cabelos, sigo para fechar a janela quando vejo Valentin e Derek conversarem próximo de um pomar. Me pego a espiá-los, me escondendo entre o véu das cortinas e sinto a intuição berrar em meu íntimo, algo mais forte que meus próprios sentidos, dizendo haver algo de errado na união desses dois. Contudo, sei que ao descobrir nada será como antes.

Talvez, sobre apenas as nossas migalhas ao final disso.

Ao adentrar a sala de recepção, percebo que as comunicações do dia já foram iniciadas pela rainha Stella.

— Quero que todas as moças estejam prontas para ir ao meu Palácio. Passaremos alguns dias nas comodidades de Limbell e amanhã teremos um baile de boas vindas, infelizmente as outras rainhas não poderão ir, estão engajadas com seus afazeres reais e não podem se ausentar de seus postos. — Um arrepio atravessa por minha coluna, pensar em estar em Limbell é como informar que irão me enviar para outra galáxia, no qual o meu porto seguro se faz ausente.

— Tem certeza que não irá conosco? — Cefeida já está pronta para a viagem e vim apenas me despedir, seu sorriso não chega seus olhos, suas vestes não são de coloração rosa como de costume e sim vermelho feito o símbolo da guerra

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— Tem certeza que não irá conosco? — Cefeida já está pronta para a viagem e vim apenas me despedir, seu sorriso não chega seus olhos, suas vestes não são de coloração rosa como de costume e sim vermelho feito o símbolo da guerra.

— Sabe que não posso, tenho que deixar Belle segura antes de partir. Prometi a ela que não iria antes de levá-la para um local no qual ela não corra perigo. — revelo e sinto o abraço de minha irmã junto ao aroma de lavanda em seus cabelos, retribuo o abraço e desejo que nada aconteça com ela. — Minha estrela, caso eu não chegue à tempo quero que fique em meu lugar na linha de frente. Sei que conseguirá, levará a nossa pequena guarda para Ralind, creio que lá as pessoas estarão  em desvantagem se comparado com Ulyere. Deixei tudo confirmado com a rainha Mallory, ela tentará expulsar as tropas de Limbell para concentrarmos em um só lugar.

Respiro fundo, sentindo aquele típico sinal de tristeza, como se precisasse apenas de um toque errado para que eu me debulhasse em lágrimas. Selo meus lábios no topo de sua cabeça e recordo de todos os passos que demos desde o dia que saímos de casa, imaginando que o nosso único problema seria um casamento indesejado.

A liberto de nosso abraço e saio de seu aposento sem uma despedida prévia, imagino não ser necessário, uma vez que nos veremos em breve. Refaço mentalmente o mapa que deverei seguir, as coordenadas que não posso esquecer, os caminhos que a muito tempo deixei de percorrer e que papai fez questão que eu recordasse em todo momento.

A mente humana guarda mais segredos do que pode suportar, são imensas paredes bloqueadoras aguardando apenas o momento certo para serem libertas. Paro na porta do fim do corredor e vejo todos partirem, não sei qual a desculpa dada por minha irmã, mas pelo visto fora certa.

O peso do mundo recai sobre as minhas costas e um tremor atinge os meus lábios.

Volto para meu aposento e Belle está sentada na cama, sua feição é neutra, não sei qual sentimento passa por seu interior, quais os seus questionamentos ou desejos; observo apenas uma jovem perdida em um caminho, um túnel escuro e frio, uma porta estreita e que não dá a lugar algum.

— Belle, precisamos ir. Todos já foram, essa é a nossa deixa — Ela meneia a cabeça em positiva, afirmando o que eu disse e observando os galhos balançaram ao resvelar da ventania.

— Por que ficou? Aqui não é um castelo, é um Palácio feito para cair. Com uma invasão não temos para onde correr — Sua voz soa receosa e compreendo os seus questionamentos, ela cruza os braços e balança o pé em nervosismo.

O vento continua forte e bagunça seus cachos, provavelmente ela abriu a janela para que corresse ar enquanto eu estava fora.

— Aqui tem cada pedaço dos reinos. Conheço esse lugar como se pertencesse a mim, cada saída ou esconderijo foi explorado por mim e meu pai. Porque os pais dele fizeram isso com ele e era seu dever fazer isso com seus filhos, o legado de nossa família é o de nos proteger para que nosso nome nunca seja extinto. — A vejo ficar intrigada e apenas pego a sua mão e a conduzo em direção à porta da biblioteca.

Ao passar pelos corredores não avisto ninguém, sei que deveria ser rápida e não desviar do meu caminho, mas preciso fazer algo antes de ir embora. Dou três toques em sua porta e a espero abrir. A rainha Mallory — ao destrancar a porta — sorri ao me ver, não aquele sorriso majestoso e sim um de cumplicidade ao saber de tudo que fiz pela garota ao lado.

Não consigo dizer as palavra que desejam escapar e apenas a abraço assim como me lembro, assim como fazia antes em todas às vezes que não recebia o abraço de minha mãe ao cair.

— Seja cuidadosa, não quero que se machuque! Ângelo também estará lá para te proteger. — Faço que sim ainda em seu ombro e a solto para seguir o meu caminho levando comigo o aroma das macadâmias e a lembrança de um lar seguro.

Adentro a biblioteca, não acendo as luzes já que não terei como apagar depois e aguardo meus olhos acostumarem com a falta de claridade. Seguro uma das mãos de Belle e a guio entre os corredores, a livrando das enormes estantes de livros.

O local continua com o odor forte de mofo e poeira, as cortinas não foram abertas e os tapetes não foram limpos, pois sinto uma camada arenosa sobre eles. O lugar é enorme e por isso demoramos um bom tempo para chegarmos à saída.

Puxo uma das alavancas enquanto com a outra mão pego um dos candelabros, acendo com isqueiro que trouxe e adentro o túnel encaixando a parede atrás de mim. A feição de Belle é surreal, nunca soube dessa parte e eu até entendo, fiquei assim quando papai me trouxe quando tinha nove anos.

É um caminho cravejado com safira negra em forma de flores de cerejeira, o efeito do lampejo do fogo com as pedras são deslumbrantes e distintas, a parte do túnel a seguir fica claro pelo reflexo e menos sombrio.

É uma caminhada longa, com várias escadas a descer e portas para se fechar; descobrir esse lugar com a quantidade de portas e saídas é quase impossível, só sabendo o caminho previamente para conseguir chegar com facilidade.

Na última parte, observo Belle ofegar e encostar-se na parede, estamos cansadas e não trouxemos nada para nos alimentar ou um agasalho para nos cobrir, estamos metros abaixo da biblioteca e o frio penetra a pele feito lâminas finas.

— Já estamos perto — digo para animá-la, só espero que eles a recebam bem e não impliquem com ela.

Ela busca ar para seus pulmões e inicia a nova caminhada. As gotas da infiltração já caem com mais frequência e sinto o arrepio — pelo frio de estar no subterrâneo — eriçar meus pelos mais uma vez. Respiro demasiadamente ao ver a claridade não mais de meu candelabro, deixo o objeto no chão no momento que enxergo com dificuldade por estar tanto tempo em uma situação de luminosidade baixa.

Volto a minha atenção à Belle que tem a boca escancarada e os olhos do mesmo modo. Sorrio, finalmente, por voltar a este lugar e saber que eles não sofrerão com o que virá acontecer.

Damos um passo à frente.

— Seja bem-vinda a Eiwink.

 👑 A PROMESSA REAL  👑 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora