♤VINTE E SEIS ♤

496 98 69
                                    

Eu sou o sol sobre o céu negro e as montanhas cinzas, sou aquela que queima a quilômetros de distância.

A primeira vez que tirei sangue de alguém eu tinha nove anos e estava na escola. Ouvi de um garoto que minha mãe era a vadia do rei Ulyel, todos riam de mim e para acabar com o falatório fiz o menino engolir a língua enquanto eu o esmurrava. Depois desse dia papai decidiu me ensinar como fazer justiça de outra maneira.

Agora, enquanto sinto o sangue jorrar de minhas mãos, penso que o líquido não passa do mar do oceano em tom escarlate. Papai me deu amor, mas mamãe me ensinou a ser uma máquina.

Recordo-me do momento que iniciamos a batalha, munição para todos os lados, mortes a torto e a direita. Antes procuramos lugares para ficar à espreita enquanto os soldados com infantaria negra invadiam as cidadelas, não encontraram ninguém para levar a prisão, isso os deixaram furiosos e nós à ponto de bala.

Quando estavam próximos o suficiente da guarda de Verano começamos nossa própria emboscada. Os primeiros foram pegos desprevenidos e morreram sem ao menos tirar uma vida, mas aqueles que estavam na reta guarda eram piores que os seres chamados de demônios. Eles sorriam ao tirar uma vida e comemoravam com um grito de guerra.

Então, quando chegou a minha vez, também não tive pena de passar a lâmina em suas gargantas e sentir o sangue quente sobre meus dedos. Eu me aliei a Valentin quando o vi trazer os príncipes para nosso lado, metade havia ido para Ulyere e os outros vieram para cá.

Desde que me vira ele não saiu do meu lado, vez ou outra o pegava me observando enquanto atirava em um novo inimigo. Estou sedenta e prefiro guerrear com facas. Não me achem cruel ou desumana, não é essa a minha intenção, apenas não concordo com o motivo para tudo isso. É até irônico, todas as vezes que ouço a palavra guerra apenas me recordo de coisas fúteis, o motivo disso tudo é fútil, pessoas que se prendem a uma necessidade inexistente de mais e mais poder.

Voltando a Valentin, sinto agora a sua sombra em minhas costas, é como se ele não lutasse apenas por seu povo, mas por mim também. Já passa da madrugada e enfim vencemos essa batalha, muitos soldados morreram e soube que um dos príncipes está ferido na enfermaria.

Deixamos os que findaram de patrulha e fomos em direção a Ulyere pegando a rota que segue de Haffínit e Prylea até o destino que desejamos. Felizmente, ao chegarmos em Haffínit, vemos que o reino está intocado com suas tropas preparadas para qualquer invasão. A realeza enviou alguns herdeiros menores e a mãe de Valentin para Eiwink e inviabilizaram todas as passagens para lá.

Seguindo viagem.

Um pressentimento ruim invade o meu âmago, sinto uma falta, uma perda sem sentido e fico quieta por um tempo. Cefeida em certo momento cruza suas mãos com as minhas e deita sua cabeça em meu ombro. Dessa vez, Príncipe Kendrick está dirigindo, solicitamos mais automóveis para não precisarmos roubar.

Encarando seus belos olhos sinto uma melancolia, uma angústia, e receio que isso não saía de sua mente. Assisti quando disparou a arma e acertou o ombro de um soldado inimigo, para mim isso não é nada, mas ela não tem a mesma mentalidade que eu. Beijo o topo de sua cabeça sentindo o novo aroma, trocara o alfazema por leite de rosas.

— Desejo tanto saber como Ângelo está. — Ouço sua voz baixa.

Procuro confortá-la.

— Ele sabe como se proteger, não se preocupe com ele, minha estrela.

Ela faz que sim e percebo que Valentin, que está em dirigindo outro veículo, acompanha o nosso.

— É que não o vejo desde que viemos para Dorinlea.

 👑 A PROMESSA REAL  👑 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora