♤DOZE♤

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O dia de ontem não será igual a hoje e nem o amanhã similar ao depois…

Com o passar dos dias olhares recaíram sobre mim. Deixei de ser uma simples promessa e me tornei a destinada de um herdeiro ao trono, ainda por cima o mais cobiçado de toda Sandelle. Não vou mentir, me sinto incomodada com todos os mimos e regalias que são oferecidos apenas por isso. Ainda bem que as informações são confidenciais e ninguém, além da realeza, tem ciência sobre o que se passa nos muros do palácio. O sigilo só será quebrado no final da avaliação, quando as promessas e destinadas forem escolhidas.

Entediada, com toda situação, decidi escalar uma colina, alta o suficiente para conseguir observar toda Sandelle. Avisto as pequenas galerias e butiques que visitava quando criança, recordo que todas detinham algum tipo de agonizante convidativo: com fragrâncias florais, amadeiradas ou cítricas. Me recordo do tempo que tinha seis anos e tentaram invadir o reino em busca de roubar um documento que quebrava a interação entre os reinos, caso algum deles tentasse algo. O rei Ulyel solicitou que a família Haas permanecesse no castelo até o momento que o perigo fosse extinto. Cefeida tinha apenas quatro anos e passava maior parte do tempo com as governantas e eu sempre estava livre para brincar com Ângelo, enquanto a rainha cuidava dos mais novos. Às vezes ela nos chamava para contar histórias sobre Sandelle e sua criação, nos dizia sobre a imensidão do planeta e a parte que fora tomado por água. Passei anos morando com a realeza e creio que, por conta disso, somos tão próximos.

Quando mamãe não estava por perto, Mallory me chamava para ficar em seu aposento por um tempo, me comparava com seus filhos homens e dizia o quanto que era diferente a criação de uma menina. Ela sentia falta de uma princesa para cuidar e mimar, às vezes fazia e refazia tranças em meus cabelos e ficava comigo no quarto até que adormecesse, coisa que mamãe nunca fez mesmo sabendo do medo que eu tinha em dormir no quarto que estava. Quando cheguei a uma certa idade, a rainha fizera questão que eu tivesse o mesmo tratamento que seus filhos e isso inclui as regalias de ser uma princesa. Mamãe sempre aproveitou dessa regalia para incluir tais coisas a minha irmã e as benfeitorias da rainha deixaram de ser somente para mim, mas, por amor a Cefeida, nunca me importei. Com o tempo, me tornei ingrata e deixei de visitá-la, pois não imaginava como seria se continuasse sendo sua protegida. O que teria agora se houvesse abandonado a minha família para morar com Mallory? Era algo que eu não possuía resposta.

Derek entrou para o grupo poucos anos depois, Cefeida nessa época falava feito um papagaio e dizia aos quatro ventos que Ângelo era o menino mais belo de toda Sandelle. Eu apenas ria, imaginando ser algo de criança, até vê-la crescer com o mesmo pensamento e sentimentos bem mais profundos. Posso dizer que aquele período fora o melhor de minha vida. Eu poderia ser apenas uma criança, sem a obrigação de usar vestidos bufantes e pensar em casamentos reais.

Quando papai disse que voltaríamos para casa, imaginei que fosse a nossa, mas, na verdade, era bem diferente do antigo e simples lar que tínhamos.

Recordo-me nesse mesmo período que sentava nos enormes estofados e balançava os meus pequenos pés, enquanto mamãe escolhia um novo vestido de seda. Sempre fora assim, até o momento que resolveu me contar sobre o meu destino, o início da preparação para ser uma Promessa Real. Ela dizia que para ser uma promessa era necessário fazer parte de uma família importante para realeza e que deveríamos ser gratos por ter esse benefício — nós somos importantes por proteger o reino de possíveis ataques e perigos. — ela argumentava. Ela também me explicou que cada Príncipe Da Coroa, sobrinhos da rainha, ao completar vinte anos tinha o direito a ter sua promessa, isso garantia que a união não fosse realizada com uma família menos favorecida, os chamados plebeus. Já os Príncipes De Sangue, filhos reais e herdeiros aparentes, só tinham direito a sua destinada depois de estarem pronto para assumir o trono.

Se fôssemos pensar na peculiaridade de cada reino, poderia dizer que Ulyere é distinto dos outros por causa de seu povo. Somos mais acolhedores que os demais, facilitamos a entrada de todos em nossa terra, gostamos de experimentar coisas novas e tentar sempre conviver em união com os nossos irmãos. Haffínit é o reino da alegria, festejam o ano inteiro e as datas comemorativas são motivos a mais para festejar. Eles não são pessoas desagradáveis, são gentis, no entanto preferem a presença daqueles que vivem em Dorinlea. Abeiron é o reino mais voltado para pesquisa, as pessoas são fechadas e centradas apenas em trabalho e trabalho, o máximo que ouvirá delas durante uma conversa são as cordialidades normais como: bom dia, boa tarde, boa noite e obrigado(a). Dorinlea é o reino mais florido e a quilômetros, antes de sua fronteira, pode ser sentido o aroma das lavandas. As pessoas são de uma diversidade surpreendente, amam falar de plantações e animais, porém não suportam a ideia de viver nas cidades mais urbanizadas. O campo foi feito para eles. Limbell é majestoso, sua pompa é admirada por todos, no entanto posso dizer que prefiro ir para os outros reinos a ter que passar um tempo junto a Stella Maris. Depois da morte do Rei Heitor, ela se tornou uma mulher amarga e impiedosa para com seus filhos, e isso, é claro, não é tão diferente para com o seu povo. Ouvimos sobre sua rigidez e burocracia, as maravilhas se tornaram enfadonhas e desinteressantes depois de seu reinado solitário.

Ainda na colina, após divagar sobre tudo que nos rege, sinto a brisa fresca beijar minha face, enquanto meus fios esvoaçam em um embaraçar descontrolado. Olhando para baixo posso ver um imenso mar de pedras, conheço as partes rasas e seguras, em casos de saltos para possíveis fugas. Imagino como seria pular e nadar até a costa, sentir a liberdade sobre os braços, como ter as asas dos pássaros. Abro meus braços. Eu pularia se fosse possível, se não tivesse meu pai e minha irmã, talvez eu fizesse esse ato de coragem…

Se não fosse pelo perfume dos lírios ou pela beleza das grandes e pomposas hortênsias, pelo beijo dado pelo vento em minha face, eu arriscaria. Se pular for igual a me tirar a oportunidade de ver o sol brilhar novamente ou admirar a lua me dando boa noite junto as estrelas, eu, com toda certeza, jamais me tiraria esse privilégio.

É engraçado… Às vezes não damos valor as pequenas coisas da vida, como os velhos tempos, as lembranças antigas, os sonhos que passamos tanto tempo planejando e largamos para que outra pessoa realize em nosso lugar.

Respiro fundo, dou meia volta e inicio o meu caminho para o Palácio, imaginando que todos os pequenos seres invisíveis que estão aqui batem palmas pelo meu ato de coragem. Eu sou uma Haas, sou filha dos meus pais e eles me educaram assim. Preciso ser forte para que todos, depois de mim, também tenham forças.

Faço um coque em meus cabelos embaraçados, pelo movimento constante da ventania, e elevo meu vestido para que não fique preso em alguma das ervas que costumam crescer de forma trançada. Avisto meu lar temporário, a tempo de me ver ainda criança correndo pelo jardim, procurando as cigarras que cantavam para atrair as fêmeas. Sinto meu peito subir e descer mais rápido, por conta dos meus batimentos acelerados e toda a ansiedade que me apavora.

Gostaria de saber onde aquela criança está agora. O que sentiria se soubesse que seu maior medo está se tornando real? Eu vejo tudo ruir sobre meus pés… Percebo algumas gotas furtivas caírem de meus olhos, as seco rapidamente para que ninguém perceba, e me dou a desculpa de que é somente saudades de casa. Apenas isso e nada mais que isso.

 Apenas isso e nada mais que isso

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 👑 A PROMESSA REAL  👑 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora