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«...I'm what's inside of a box
full of empty...»

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" Olá Irmão!

Quando estiveres a ler isto significa que já não estou aí, ou espero não estar. Sinto muito por desejar que isto dê resultado, sinto muito por ser egoísta a este ponto.

Sinto-me perdida e covarde, talvez pela ideia geral de que isso é uma fuga, um não querer enfrentar os fatos e dar a volta por cima.

Eu morri por dentro. Por favor não te sintas culpado , não havia nada que poderias ter feito pra me ajudar.

Várias coisas me mataram aos poucos, consumiram minha vontade de tentar. As coisas muitas vezes dão errado e aquela história de que "Deus sabe o que faz" ajuda por um tempo, engana um pouco e faz com que tenhamos a esperança que um dia as coisas vão mudar, que vai para frente, mas às vezes não vai,então essa desculpa ficou tão vazia para mim quanto a existência de Deus, ou ele está em algum universo paralelo ou está muito alto lá em cima que meus soluços e gritos por clemência não o conseguem acordar.

Por dentro jaz o que outrora foi uma pessoa sonhadora, optimista e desafiadora. Acomodei-me com a dor pois lutar só a aumentava, parar de me debater poupou o mínimo para que eu tivesse uns poucos momentos de satisfação na minha vertiginosa queda rumo ao abismo que me encontro. Já não consigo dormir, pensar, sonhar, amar. Estou morta.

Não te culpo, culpo é os outros. Foi o momento, a situação, as feridas absorvidas ao longo de anos de humilhação, lutas, esforços, todos em vão.

Não quero que te lembres de mim como uma covarde, quero que te lembres de mim como alguém que teve coragem suficiente para assumir um facto e torná-lo finalmente físico. Alguém que resolveu dar um salto em meio a toda amargura e desespero, que abriu os braços e pulou daquele penhasco, fugindo dos zumbis que a circundavam, que também estavam mortos, sendo que ao contrário de mim, eles mentiam para si mesmos sobre isso.

Eles me julgavam, me prendiam pelos cabelos, me batiam, me deitavam a baixo, me faziam odiar a mim mesma. "Não serves para nada mesmo! Por que não vais logo e te matas?", eles diziam. Irónico, o que eu estou prestes a fazer agora? E tudo graças a estes e muitos mais comentários que eles faziam. Eles me julgavam desde a minha altura até à ponta dos meus cabelos.

Depois de ouvir tantas vezes coisas deste tipo, acabei por me convencer que eles tinham razão. E todos os dias, por mais que eu queira me esquecer, o meu cérebro repete as mesmas palavras deles para mim mesma. Como posso esquecer se eu ouço todos os dias as mesmas palavras?

Alguns meses depois do fim da escola tu deste-me a noticia que irias mudar-te para Seul, em parte eu estava feliz por ti. Mas por outro lado eu estava com medo e com raiva, medo de estar sozinha, e com raiva por me deixares. Mais uma vez eu fui egoísta não é?

Mas eu não disse nada e não contei como me sentia em relação à tua mudança. Passaram-se meses e tu não voltaste então as minhas esperanças de voltares para mim desapareceram. Eu estava realmente sozinha agora.

E tenho que ser sincera, a vida sem ti é extremamente aborrecida e sem cor. Ah como sinto a falta das tuas piadas, do teu sorriso, e do teu maldito aegyo que sempre me fazia mudar de ideias. Sinto me mal por não te poder ver uma última antes de ir... eu te amo tanto irmão...

A rotina era sempre a mesma, ir trabalhar, ver televisão e dormir. E foi assim durante um bom tempo. Eu me sentia sozinha, aborrecida e aos poucos comecei a ficar sem vontade de sair de casa de todo.

Inside my mind// kyhOnde histórias criam vida. Descubra agora