O aniversário do Renan cairia na sexta, dia 26. Antes disso, porém, o foco ainda estava nos estudos. Os trabalhos da recuperação eram enormes e, enquanto eu o ajudava, percebia o quanto o meu ritmo estava defasado. Minha mente parecia mais seleta, menos aberta a receber informações que eu já considerava mais inúteis, digamos, pro futuro que eu queria. Não estava nos meus planos incluir biologia, química e física nele, então eu também tive que me forçar a absorver a matéria pela milésima vez. Era mesmo um milagre que eu não tivesse perdido média naquele bimestre ou ficado de recuperação também...
Na terça-feira anterior, o irmão do Renan foi busca-lo na escola. Estávamos indo de manhã, almoçando por lá e ficando até o meio da tarde quase todos os dias. Rogério saíra mais cedo do trabalho e ficara esperando no portão enquanto o irmão conversava com o professor de física sobre as notas de recuperação e tal. Como isso meio que não me dizia respeito, eu só esperei nas escadas para me despedir.
Então o Rogério se aproximou de mim, me cumprimentou e se sentou nos degraus ao meu lado. Seu carro estava parado bem em frente ao portão, um local proibido, diga-se de passagem. Ele não parecia ligar muito.
Só por aquele detalhe, fiquei imaginando o quanto ele e o Renan eram parecidos.
— Vamos fazer um jantar na sexta — Rogério disse, contemplando as rachaduras no granito dos degraus. — Pro aniversário do Renan.
Não soube entender o que a fala indicava, então fiquei só balançando a cabeça. Ele se virou pra mim em seguida:
— Você deveria ir. Acho que ele ia gostar... — como continuei em silêncio, Rogério levantou as sobrancelhas. — Vão ser só os parentes chatos como de costume, se tiver alguém que ele realmente goste aí sim vai ser uma comemoração de aniversário.
Sorri, um pouco sem graça.
— Obrigado pelo convite, mas acho que vou ter que deixar pra próxima...
Não tive muito que me explicar — contar que sair de noite sem a permissão dos meus pais era um saco, contar que pedir a permissão era um saco ainda maior — porque o Rogério só assentiu. Talvez ele não esperasse mesmo que eu aceitasse, sei lá.
Porém, o irmão mais velho do Renan ainda insistiu em outra coisa:
— Se não quiser ir lá em casa, no sábado vou levar ele na balada mais cara da cidade — ele deu uma piscadinha e riu com o canto da boca do jeitinho que o Renan fazia. — Consegui uns convites, um camarote pra gente, aí sim vai ser uma festa. Tem convite pra ti também, se tiver a fim.
Não tive tempo de pensar no que eu queria — ou deveria — responder, porque o próprio Renan apareceu, descendo os degraus de dois em dois. Rogério só teve tempo de cochichar dizendo que era uma surpresa antes que o irmão pulasse na nossa frente. Nos despedimos e eles ainda fizeram o favor de me dar carona até a pracinha, pra que eu pudesse pegar o ônibus de volta.
Renan e eu não nos falamos muito depois da festa do Carlos. Aliás, conversávamos sobre o que precisava ser conversado: matéria, escola, vestibular, férias... Nada muito além disso. Parecia que estávamos tomando cuidado para não cair na tentação de fazer piadas com duplo sentido — e isso me fez perceber o quanto o Renan usava delas, porque sua ausência tornava nossas conversas bem menos extensas, digamos.
Os olhares acabavam dizendo muito mais.
***
Na véspera do seu aniversário, nos encontramos na escola depois do almoço. Peguei o resto das minhas economias e saí de casa com a intenção de passar em algum lugar para comprar um presente, mas descobri que não fazia ideia do que poderia dar ao Renan. Eu tinha prometido que seria a sua recuperação, mas isso não deveria ser um presente de aniversário, né? Lembrei dos fones de ouvido também, mas ao mesmo tempo sabia que ele tinha pedido ao Sander a mesma coisa...
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...