As meninas todas colocam um moletom, jaqueta, algo do tipo sobre a blusa do uniforme. Se formos pegos matando aula, a direção vai ligar para os nossos pais e provavelmente nos dará uma advertência. Não posso nem pensar nessa possibilidade, porque, se meu pai fica sabendo, a advertência não vai ser só escrita ou falada...
Pablo já está naturalmente disfarçado, com sua roupa preta, mas nem eu, nem o Renan temos moletom. Joel dá a ideia de usarmos a blusa do uniforme ao avesso e, dando de ombros, a gente tira e vira a roupa no meio da rua mesmo — é a euforia falando, eu me pego justificando.
Sem muita originalidade, ficamos uma meia hora sentados na grama da pracinha ali perto. Depois subimos para o shopping, uns dez quarteirões acima. Passamos numa loja de departamento, compramos chocolates e biscoitos, fazemos aquela algazarra de adolescentes em grupinhos, e finalmente nos aquietamos num cantinho da praça de alimentação. A mesa que escolhemos é redonda, há três cadeiras e uma bancada de madeira acolchoada do outro lado servindo de assento. Juliana, Mariana e Joel ocupam as cadeiras. Renan, eu, Karina e Pablo ficamos espremidos do outro lado.
A conversa flui sem assunto principal, só se desenvolve sozinha, sabe? O pessoal está mais curioso em saber como anda a vida do Joel no outro colégio e ele conta com satisfação que é bem menos puxado que o nosso, que está conseguindo se sair bem e até fez amizades lá.
— Claro que não é nada comparado com as que eu tenho aqui — ele pisca para o Renan e este devolve o gesto, sorridente. —, mas o pessoal é gente boa. Ninguém ficou me fazendo pergunta sobre a mudança de escola ou sobre a muleta, por exemplo.
— Então você não contou pra eles? — a Mariana deixa escapar, mas seus olhos vacilam e acho que entende que foi uma pergunta idiota. — Desculpa, Joel, não queria-
— Tudo bem. — ele a interrompe, encolhendo os ombros. — Não contei porque não acho que faça diferença.
Vejo as cabeças assentindo em silêncio e o clima fica tenso de repente. O braço do Renan está sobre meu ombro, me puxando mais para perto para poder dar espaço pra Karina e o Pablo, então eu me viro pra ele e pergunto, tentando afastar um pouco a nuvem negra da mesa:
— Acho que vou comprar sorvete. Você quer de quê?
Estendo a pergunta pro resto da roda e, antes que eu me levante, a Mariana se oferece para ir comigo. Nós dois nos afastamos e, de algum modo, a mesa volta a conversar normalmente — ouço até a gargalhada do Renan quando entramos na fila da sorveteria.
Ao meu lado, ela suspira e cruza os braços.
— Nossa, eu só sei estragar o clima das coisas... — não sei bem o que comentar de volta, então ela só continua: — Já não basta todas as vezes que chego no meio de vocês e fico mais parecendo uma vela que uma companhia de fato.
Minha testa se vinca automaticamente.
— Como assim?
Ela me olha de lado por um tempo antes de responder.
— Todas as vezes que eu interrompi você e o Renan só essa semana. — ela faz uma pausa e meu estômago gela em antecipação. — Vocês são um casal, não são?
Em todas as minhas hipóteses, nunca pensei que uma colega de classe fosse me questionar tão abertamente algo do tipo. Fico tão assustado com a pergunta que dou um passo para trás, pisando no pé de outra pessoa que está na fila. Peço desculpas umas três vezes seguidas, me enrolando e sentindo meu rosto se contorcer e esquentar. Mariana segura meu braço me impedindo de cambalear e acertar outro pé no meio do caminho.
— Ai, Daniel, não precisa nem responder. Sua reação já diz tudo. — já estou suando quando ela continua: — Eu só reparei nisso há pouco tempo... E não é como se todo mundo soubesse, eu só... reparo demais nas.... nas coisas do Renan.
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...