Diferente do que foi durante Julho inteiro, Renan tem extrema dificuldade em se concentrar para estudar e é difícil manter nós dois focados o tempo todo. Ele desiste fácil das coisas quando o assunto é a escola, mas eu estou acostumado a enfiar a cara nos livros desde sempre, então fico um pouco nervoso quando ele não faz o mesmo.
Mesmo com esses pormenores, passamos umas três horas na biblioteca depois da aula — não sei quantas delas são efetivas, mas pelo menos tentei. Ele vai comigo até a pracinha ali perto, até o ponto do meu ônibus.
— Não fique bravo comigo... — ele murmura, chutando pedras e lixo no meio do caminho. Quando alcançamos o ponto, eu paro e suspiro.
— Não estou bravo com você.
Por que estaria?
Ele me olha, dá dois passos mais para perto de mim e... Eu engulo seco e desvio o olhar porque sinto que, se não estivéssemos num lugar tão público, ele me beijaria de novo. E sei que temos que nos despedir porque meu ônibus vai passar em menos de três minutos...
— Em que horário é sua prova? — pergunto, limpando a garganta.
— Primeiro... Infelizmente.
Ele faz um muxoxo triste e não sei exatamente o que comentar em seguida, mas somos quase que literalmente atropelados pelo ônibus, o que nos dá motivo para trocar umas risadas aleatórias e um "tchau" apressado. Renan ainda fica acenando do ponto até o veículo desaparecer na curva e seguir seu rumo.
Passo as quase duas horas do trajeto cheio de engarrafamentos tentando não pensar se eu teria tido coragem de beijá-lo na praça ou não.
Eu sei a resposta.
***
Repetimos a dose de estudos na terça-feira, Felipe também aparece como se tivesse sido chamado, e eu não vejo o tempo passar entre ajuda-los e cuidar para que meu próprio desempenho acadêmico não piore já naquele começo de semestre.
Chego cedo na manhã de quarta, mas é claro que o Renan está atrasado. É claro que não consigo vê-lo antes de entrar para a sala e antes dele fazer a prova. Vejo o Felipe, porém, e ele me diz que eu o ajudei muito nos estudos nos últimos dois dias. Dou um sorriso amarelo porque por um lado fico contente, mesmo tendo ressentimentos contra o Felipe, mas por outro vejo que meu primo está subindo as escadas e é hora de eu ocupar meu lugar silencioso dentro de sala.
Nós não trocamos uma palavra sequer desde o sábado anterior, desde a gritaria, desde a choradeira.
As cenas são como um filme desfocado na minha cabeça; às vezes fico pensando se realmente aconteceu, se realmente foi daquele jeito, se eu não imaginei... Mas é só senti-lo perto que meu corpo inteiro se incube da missão de me lembrar que sim, aconteceu, e eu sobrevivi uma vez, mas não sei como sobreviverei se acontecer de novo...
De qualquer forma, aquele dia já está bagunçado o suficiente. Os professores se atrapalham e se atrasam com a matéria, então não temos tempo de sair de sala durante os intervalos das aulas. Não consigo encontrar o Renan até a hora do almoço, quando ele aparece na porta da minha classe. Ele cumprimenta a Camila, que está saindo para almoçar com o Diego e o resto da sua trupe. Fico para trás porque não quero me enfiar no meio do grupo e fazer com que seja quase obrigatório que a Maria, o Luiz e o namorado dele me cumprimentem também. Afinal, nós mal trocamos olhares dentro de sala, nos evitamos mutuamente, mas sei que o Renan é bastante neutro nesse quesito, então espero que eles saiam para me levantar.
Renan não tem a mesma paciência e se enfia na sala atrás de mim, me pegando pelo braço e me puxando para a saída atrás do grupinho da Camila.
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...