O ENEM chega para todos, os preparados e os desesperados. São dois finais de semana horrorosos. Os dois sábados seguintes passo na escola fazendo revisões num aulão que parece bem improvisado, e os domingos passo numa escola na zona sul da cidade, imerso em fórmulas, textos e uma redação que me tira o fôlego (mas que não parece lá tão difícil de ser feita como imaginei que seria).
Meu estado mental é um tópico à parte: passo essas duas semanas em uma espécie de negação junto da aceitação, algo que me deixa imune à outras emoções. Chorei tanto no começo que parece que fiquei anestesiado.
— Não há nada mais que eu possa fazer — é o que digo à psicóloga e ela concorda.
— Às vezes a gente tem que ter muita sabedoria para entender que algumas coisas não estão sujeitas à nossa mudança, e que não adianta sofrer por elas. — foi o que ela me aconselhou.
E não é que comecei a concordar com a Doutora Helena? Logo agora é que percebo o quanto essas sessões são importantes e válidas. Ainda dá pra aproveitar um pouquinho, mas sei que talvez eu precise de terapia é pra vida inteira, não só durante meu último ano do ensino médio.
***
Passado o ENEM, a escola anuncia a Feira de Ciências do colégio. Tudo bem que já sabíamos que ela seria logo depois das provas, e que na realidade não precisamos nos preocupar muito porque o projeto do terceiro ano inteiro já estava sendo construído na aula de robótica durante todo o segundo semestre.
O que eu não contava é que a feira seria bem no dia do meu aniversário.
Não que eu estivesse planejando uma festança nem nada — e com as coisas do jeito que estão, não há sinal de comemoração alguma na minha casa —, mas eu queria pelo menos aproveitar o dia fazendo exatamente o contrário do que faço sempre, que é ir à escola e me preocupar com o futuro.
Parece que não vai ser essa ano que vou conseguir.
— Ah, para de drama. A gente ainda pode aproveitar muito! — é a resposta que o Renan me dá quando resmungo. Ele executa um movimento com as sobrancelhas que me faz rir até a barriga doer.
As aulas não têm mais conteúdo depois do ENEM. É uma mistura de simulados e revisões que não valem muito nosso esforço, para ser bem sincero. Então dou o braço a torcer sempre que o Renan me chama para sair depois da aula — e ele faz isso todo dia, então todo dia estamos andando pela pracinha, ou no shopping, ou na sua casa.
Aliás, é estranho estar lá porque não sei como a família dele me vê. A mãe está quase sempre em casa, assistindo TV e conversando com a empregada. Nos cumprimentamos e o Renan logo me reboca pro quarto, fechando a porta. Vejo que ela não reclama, mas também não é como se fosse seu cenário ideal. Já a ouvi pedindo pro filho deixar a porta do quarto aberta, mas ele é teimoso e irredutível... Principalmente porque é seu mundo particular, e é com a porta fechada que podemos ficar à vontade, se é que me entende.
Não é como se nosso relacionamento tivesse dado uma guinada de uma hora pra outra depois da conversa sobre exclusividade, porém. Estamos indo devagar para nada dar errado — e também porque sabemos que não precisamos ir mais rápido. Temos tempo pra tudo. Ou pelo menos eu acho que temos... Até as paranoias de faculdade e fim de ano e de escola tomarem meus pensamentos.
Tento não tocar no assunto quando estamos juntos, contudo. Se fosse uma preocupação real, acho que o próprio Renan falaria.
Enfim, o fato é que essas semanas me fazem relaxar mais do que imaginei ser possível, e me deixam ficar menos preocupado com alguns detalhes da minha vida. Quando estou deitado na cama do Renan, ele meio dormindo, meio acordado sobre meu braço, as pernas sobre a minha, às vezes reclamando do calor ou da chuva que cai de repente... Não precisamos de conversas intermináveis. É assim que eu sinto paz.
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...