Como alunos do primeiro e do segundo ano, sempre assistíamos à Feira de Ciências com uma certa inveja do terceiro ano. Nossos trabalhos nunca foram tão legais ou apreciados — tá, tudo bem que no ano anterior nossas salas foram bem elogiadas. Construímos ecossistemas e brincamos com as forças magnéticas da terra numa bússola tamanho gigante, além de ter levantado discussões sobre outras fontes de energias renováveis, como a eólica. Nunca tive problema em fazer esses trabalhos porque a turma toda sempre pareceu bem empolgada de mostrar algo para os convidados que valesse a pena, já que a Feira é aberta ao pública e tal.
Mas, este ano, as duas turmas do terceiro se juntaram de maneira ainda mais harmônica e definitiva, eu diria. Depois da dinâmica do barbante, que já parece ter acontecido séculos atrás, a gente não percebeu o quanto estávamos unidos e o quanto isso facilitou nosso trabalho. Na sexta-feira anterior à Feira, porém, na nossa última aula de robótica do ano, o professor Tiago levantou essa questão ao nos mostrar o resultado do nosso esforço conjunto do segundo semestre.
Tínhamos conseguido montar um robô de um metro e meio, totalmente articulado e programável, com material reciclável e algumas pecinhas de Lego. E ele estava sendo exposto no pátio principal do colégio durante toda a Feira de Ciências, com direito a apresentações a cada uma hora e com toda a turma presente sendo aplaudida.
Até a diretora ficou boquiaberta com nosso feito, já que nenhuma outra turma tinha conseguido construir um robô tão grande e tão funcional quanto o nosso! Acredito que todo mundo estava sentindo aquela pontinha de orgulho, mesmo que não comentássemos sobre isso enquanto nos obrigávamos a explicar mecânica e eletrônica para quem quer que tivesse curiosidades sobre o robô — isso significa que fizemos isso pelo menos para todos os pais que estiveram presentes.
Menos os meus.
É. Meus pais não foram à Feira de Ciências do colégio, um evento que consideravam importante porque fazia parte da minha educação.
Confesso que fiquei tenso o dia todo, salvo em vários momentos de descontração e em que outras situações tomaram minha mente. Só percebi que eles não apareceriam quanto já estávamos no meio da tarde e eu sabia que não daria tempo de virem e voltarem antes do jantar...
Não demonstrei qualquer chateação com isso, contudo. Mantive o semblante de paisagem e segui em frente.
Todavia, o dia não teve saldo negativo, pelo contrário. Já começou com o Renan indo me buscar em casa, dizendo que de jeito nenhum ia me deixar ir de ônibus pra escola no meu aniversário. Ele levou suco, iogurte, pães de queijo e bolo para nosso café da manhã, coisa que o Rogério, nossa carona, não achou muito legal não.
— Se vocês derramarem qualquer coisa no banco do meu carro, vou fazer limparem com a língua!
Renan não se abalou e cochichou pra mim:
— Ele tá de mal humor por causa da ressaca — Rogério grunhiu alguma coisa no volante e nós dois nos encolhemos no banco de trás — E também porque meu pai pediu pra ele fazer sei lá o que hoje.
— E porque eu tô dando uma de motorista de taxi com vocês dois aí atrás! — o irmão mais velho do Renan grita para o retrovisor, fazendo-o rir.
Foi um café da manhã inusitado e cheio de palavrões, mas um dos melhores até então.
***
Não sei se alguém além do meu primo e do Renan sabem que é meu aniversário. Não comento muito sobre a data, e sei que meu único parente no colégio não vai dar a mínima para ela. Aliás, Carlos está se mantendo calado e arredio. Não conversa muito com ninguém, porque é só ele se evidenciar um pouco que alguém cita a coisa das drogas.
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...