As consequências da dinâmica do barbante são quase que imediatas. Quando estamos saindo da sala B para voltar para a nossa, vejo a Natália e o Carlos discutindo sobre o que ela falou de "entrar para a família". Os dentes do meu primo estão trincados e os punhos, cerrados. Natália perde a paciência e o empurra, deixando-o ainda mais nervoso.
No dia seguinte, quando entro na sala de aula, percebo que ela tomou a carteira à minha direita, e que o William está com a cabeça deitada sobre a sua, do meu lado esquerdo. Não sei qual dos dois me causa mais espanto, então fico um minuto de pé observando até a sala começar a encher.
No meio da aula de biologia é que percebo que a dinâmica pode definitivamente ter mudado o rumo das coisas, porque de repente a Natália se vira pra mim e diz:
— Dani, pode me emprestar suas anotações da matéria da semana passada? Eu e a Isa vamos estudar na hora do almoço. Te devolvo ainda hoje, pode ser?
Pisco e demoro mais que o normal pra responder, mas digo que sim. Isadora me agradece baixinho atrás da carteira da Nat e, mais atrás na mesma fileira, meu primo está de braços cruzados sobre o peito inchado e orgulhoso, com cara de poucos amigos, como sempre. Ele percebe a movimentação das duas, eu sei, mas sua atitude é defensiva: só ignora. Por enquanto.
O modo como Renan me trata também muda. Ele está mais próximo, mais visivelmente carinhoso. No intervalo do almoço, ainda no dia seguinte, por exemplo, encontro a Karina sentada ao lado do Pablo no chão do terceiro andar. Os dois conversam e gesticulam muito, e noto a Juliana encostada no batente da porta conversando com o Renan. Ele me chama, me pega pelo braço, me puxa e me abraça por trás, colocando o queixo no meu ombro. Sinto meu coração se acelerar imediatamente, mas me forço a relaxar e me deixo escorregar no seu peito porque ninguém parece interessado no que nós dois fazemos.
Acho que isso é o máximo que vamos conseguir nesse colégio, e já estou surpreso com a felicidade que o gesto me traz e com a naturalidade com que o aceito.
Mas daí Renan e Juliana continuam conversando alguma coisa que eu não presto muita atenção até a Mariana aparecer. Ela me lança um olhar que temporariamente classifico como esquisito, e abraça a amiga de lado. Felipe aparece do nada de dentro da sala e se enfia no meio das meninas, hora ou outra comentando alguma coisa que sugere abertura pra mim e pro Renan falarmos com ele também.
Nós nos entreolhamos, mas conversar com o Felipe sabendo que ele estará sempre do lado do meu primo, e ainda com aquela pontinha de consciência me repetindo o que houve com eles e o Joel... é no mínimo desconfortável. Então seguimos cada um pro seu lado, mas sem muita animosidade.
As pessoas parecem mais amáveis de modo geral. Hora ou outra a Camila chega perto de mim na sala, conversamos bobagens e, quando menos noto, a Maria já está por perto, o Diego também e o resto todo da trupe. Eles estão próximos demais, parecem querer me incluir às vezes. Sinto uma onda de pânico com a ideia, mas não faço muito além de seguir em frente... Até o Luiz aparecer à tiracolo.
Tenho certeza absoluta de que algo vai muito fora dos eixos entre ele e o William quando, sem querer, presencio uma discussão. É na quarta-feira, depois da minha sessão com a psicóloga. Volto para a sala pra pegar dinheiro pro lanche e acabo interrompendo um momento dos dois. Luiz está sentado sobre a carteira e William, de braços cruzados, anda de um lado pro outro na sua frente. É ele quem me vê à porta, petrificado. Os dois abaixam o olhar, mas não sei se é minha deixa para entrar ou para virar as costas e fugir dali de vez.
Respiro fundo e, sem me atrever a passar perto, entro apressado e saio antes que cause mais problemas. Ouço a voz dos dois mais baixa quando passo pela entrada, mas definitivamente não estão conversando amigavelmente. Desço as escadas até o primeiro andar, me obrigando a tirar a cena da cabeça, e encontro Renan conversando animadamente com a Mariana em frente à secretaria. Como tem se tornado costume, ele me puxa e passa o braço pelo meu ombro, me encaixando perto de si.
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...