Nosso segredinho...

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Eu não entendia como nem por que ele estava lá, mas estava. Novamente eu tive uma sensação estranha, o ar tinha sumido e por mais que eu tentasse não conseguia respirar, minhas mãos formigavam e meu corpo tremia. Igor se aproximou de mim assustado tentando me segurar mas as mãos dele no meu corpo só pioravam as coisas, deixei meu corpo derreter pela parede até alcançar o chão, abracei meus joelhos e continuei tentando respirar, minha avó em pânico ligou para os bombeiros que passaram algumas informações, depois de algum tempo eu acabei conseguindo voltar ao normal. Foi horrível, mas ao menos pude usar como desculpa para mandar Igor embora. Assim que fechei a porta minha vó me olhou com uma cara fechada como quem chama para uma conversa séria.
   -Valenthina, você me deve algumas explicações, não acha? - confirmei com a cabeça e me sentei no sofá ainda não recuperada completamente.
  Disse pra ela que eu não queria mais ver o Igor por ele havia me traído, e de certa forma havia mesmo. Ela entendeu e até ligou na portaria proibindo a entrada dele, sobre a crise de ansiedade disse que tinha sido um mau estar e que caso retornasse iríamos ao médico, ela concordou. Decidi tomar um banho quente, com a água molhando meu corpo meus pensamentos só aumentavam, tomei a decisão de que precisava esquecer o Igor pra poder começar do zero, precisava começar a decidir o que fazer com o vestibular que se aproximava e não tinha tempo pra garotos, isso incluía César. Sai do banho e fui me deitar, meu estômago doía e eu pensava se talvez eu merecesse comer ao menos alguma coisa, fui para cozinha e reuni tudo que eu mais gostava; bolachas (ou biscoitos) doces, salgadinhos, nuttela, brigadeiro, sorvete, batata frita e neggets. Depois de pegar tudo e perceber que minha avó havia ido trabalhar, liguei para a Livia e a convidei para assistir filme comigo, pra minha surpresa ela aceitou. Assistimos meu filme favorito e comemos tudo.
   -Thina, foi muito bom ver filme com você, mas meu irmão vai reclamar se voltar da academia e eu não estiver em casa, amanhã a gente se fala. - nos despedimos e ela saiu.
   Eu sabia o que ia acontecer assim que ela fechou a porta, eu tentei, escutei música, tentei não pensar, me segurei, mas assim que passei pelo espelho e me vi enorme... Eu precisei... E eu fiz. Antes que eu pudesse terminar senti alguém me olhando, era César.
   -Eu posso te explicar, não é o que você tá pensando. - foi o que eu disse enquanto limpava a boca e só conseguia pensar que meu corpo ainda estava absorvendo as calorias do que sobrou. Ele me olhava sem reagir. -Por favor, não fala pra minha vó, eu não faço isso sempre, só quando eu como demais, mas eu paro, eu juro que eu consigo parar, mas eu não preciso, é difícil eu me descontrolar, foi só hoje eu juro. - meus olhos estavam marejados, minha garganta doía, não sabia se era pelo vomito ou por segurar o choro.
   -Você forçou o vômito? Por que você faz isso!!!?- quando ele disse isso eu deixei todas as lágrimas caírem, eu percebi que ele não tinha me visto forçar nada, se eu tivesse dito que passei mau, ele teria acreditado. -Você é doente!!! Sua vó tem que saber disso!!! -ele pegou o celular e começou a teclar, eu estava desesperada e não sabia o que fazer, só conseguia pensar o quanto minha vó ficaria decepcionada.
-Não conta pra ela!!! Eu te imploro, eu vou parar!!! Eu faço o que você quiser!!! Ela vai me odiar!!!- ele parou e me olhou, se aproximou de mim e ajoelhou diante do meu corpo, que a essa altura já estava no chão aos prantos.
-A sua vó nunca te odiaria, ela te ama muito, mas você precisa parar com isso, você precisa ficar bem.- ele já não gritava mais, pegou minhas mãos e olhava nos meus olhos. - Você é linda, não importa o que te disseram, você é linda.- eu tentei me controlar mas foi inevitável abraçá-lo.
-Por favor, não conta pra ela, eu vou parar, eu juro que vou.- ele fez carinho nos meus cabelos e ficamos ali, sentados no chão do banheiro, abraçados, até pararmos de chorar.

Ele pediu que eu tomasse um banho e me arrumasse pois queria me levar pra sair, eu aceitei, afinal, eu precisava sair depois do que aconteceu. Coloquei até um vestido, me maquiei, eu prometi a mim mesma que ia tentar melhorar. Assim que apareci ele sorrio e se levantou pra me acompanhar, fomos no apartamento dele, ele se arrumou e mandou mensagem para minha vó, que obviamente deixou que eu saísse com ele.
-Você tá tão linda que eu realmente queria te levar em um restaurante chique com reserva e tudo que você tem direito, mas tudo que eu posso te fornecer por enquanto é um Mc, tudo bem? -eu ri, mau sabia ele o quão bem estava me fazendo.
-Se eu soubesse que estava saindo com um plebeu não teria vindo de princesa kkkkk- rimos e continuamos nosso caminho até o shopping conversando coisas sem muita importância. Desde o ocorrido, César não tocou no assunto, o que me deixava muito mais a vontade ao seu lado. Depois de darmos uma volta fomos comer, estávamos na fila discutindo qual era o melhor filme dos Velozes e Furiosos, até que passando os olhos, me deparo com Igor, atendendo o caixa em que estávamos na fila, nossos olhos se encontram e nos fitamos por longos segundos. César percebe que me desliguei e chama minha atenção tocando meu braço.
- Você conhece ele?- eu poderia negar, mas César não ia descansar até arrancar algo de mim.
-Sim... É um velho conhecido. - César era muito perceptivo, teve ter notado meu incômodo e não tocou mais no assunto. Se dependesse apenas dele teria ficado tudo bem, mas Igor não é assim, na hora de anotar nosso pedido ele me encarava fixamente sem nem tentar disfarçar, outros clientes olhavam incomodados com a indiscrição dele.
-Muito obrigado Valenthina, não volte nunca mais. - eu fiquei assustada, César segurou no meu braço me voltando pra realidade e me tirou da frente do caixa, mesmo que isso não diminuísse os olhares de Igor.
-Eu não ia falar nada, mas assim fica difícil né... De onde você conhece ele? - César parecia até sem jeito de me perguntar, mas ele devia saber.
-Ele é um ex namorado...- César assentiu com a cabeça e mudou de assunto, eu gostava da forma como ele se importava em me deixar confortável. Mas depois do que Igor fez eu sabia, o inferno estava só começando...

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