Recomeço

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Eu ajoelhei e chorei, ele se sentou perto de mim e me abraçou. Parecia errado, não é certo eu fazer mal a alguém que me ama tanto, que precisa tanto ficar bem. Eu precisava tomar uma decisão e foi o que eu fiz.
   -Eu preciso ir, não me procura mais, não liga, não!!!- levantei e fui pro quarto, sequei meu rosto e segurei as lágrimas até minha garganta doer, juntei minhas coisas, me vesti e sai. Ele ainda estava no chão, da mesma forma que eu deixei.
    Eu não queria, mas pra fazer ele feliz eu precisava melhorar, precisava ser o suficiente pra ele e eu me esforçaria ao máximo. Liguei pra minha avó e pedi pra encontrá-la mais cedo, ela disse que tudo bem e pediu para mim ir ao condomínio que ela mora, me chamou um táxi e pediu que eu esperasse. Alguns minutos depois o táxi chegou, levou uma meia hora até chegarmos no condomínio. Não era um condomínio super chique nem cheio de mansões, era um condomínio de classe média, composto por 3 prédios, um azul, um marrom e outro bege, todos de 20 andares. Eu sai do táxi e logo o porteiro saiu para pagar, pergunto se eu precisava de ajuda e disse que não, ele me mostrou que era só pegar o elevador no prédio azul, subir até o 14º andar e entrar na segunda porta. Eu estava no hall do elevador e meu celular começou a tocar, Igor, eu desliguei e fiquei olhando para o celular, percebi que o elevador estava chegando e fiquei na porta, ainda olhando para o telefone. Quando a porta se abriu eu entrei e por falta de atenção eu esbarrei em alguém.
   -Foi mal.- os dois disseram juntos. Sorrimos e ele seguiu, um menino que aparentava ser um pouco mais velho, cabelos loiros escuros, olhos castanhos, corpo esguio. Subi e entrai na casa da minha avó.
  -Oi vovó, quanto tempo. - eu a abracei e ela retribui com ainda mais força.
  - Também senti falta da minha netinha predileta. -e rimos, sou a única neta dela. -fiz um lanche, quer comer?- a ideia de comer me causava arrepios depois do que passei horas atrás, mas eu precisava melhorar para poder voltar pro Igor.
   - Talvez um pouco... - eu precisava me forçar a isso "ele precisa que eu seja melhor", era isso que eu me repetia o tempo todo.
   Ela me fez um café e um sanduíche, tentei comer, mas só engoli dois pedaços e já me sentia horrível.
   -Obrigada vovó, mas vamos logo ao ponto. - ela sorriu e se sentou comigo na mesa.
   - Quer que eu seja direta? Quero que venha morar comigo. -eu sorri, meio forçado, mas sorri. Ela era boa, mesmo que eu preferisse ficar sozinha talvez precisasse de apoio para melhorar.
  -Quando posso trazer minhas coisas?- pude ver seu semblante se iluminar, quem sabe só pelo fato de não ter que viver mais tão sozinha.
  -Eu posso contratar alguém para buscar amanhã mesmo. Venha ver seu quarto. - Levantamos e ela me levou até um quarto com as paredes brancas, um guarda roupa grande em uma das paredes, uma cama de casal com um edredom florido e travesseiros combinando, logo abaixo de uma janela com uma vista pra grande parte da cidade cinza. Ao lado da cama um criado mudo parecido com o guarda roupa e em outra parece uma cômoda igualmente parecida.
   -Esse era o quarto de hóspedes, mas agora é seu, podemos mudar as cores e até a cama se você sentir que é grande demais.
   -Está ótimo, só colando minhas coisas já ficará melhor. -ela encostou no batente da porta calculando cada um dos meus movimentos.
   - Eu vou te deixar sozinha, preciso encontrar umas amigas e resolver algumas coisas. Fica a vontade, se quiser descer e conhecer o condomínio, não sei, mas faça o que sentir vontade e se for sair me deixa um bilhete. -eu assenti com a cabeça e pedi que fechasse a porta. Eu deitei e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, eu quis gritar, quis morrer. Mas eu só fiquei deitada e esperei que as lágrimas parassem, acabei pegando no sono. Acordei algumas horas depois, me levantei, lavei o rosto e decidi descer para conhecer melhor o lugar.
   Haviam muitos jardins, uma quadra onde várias crianças brincavam, um parquinho, salões de festas, uma piscina e um salão com vários jogos. Eu sentei em um banco na frente do parquinho e fiquei olhando os pais brincarem com seus filhos, senti uma gota de saudade...
   -É... Oi...- senti alguém se sentando do meu lado e quando me virei era o menino do elevador.
   -Oi. -disse em tom baixo mas sei que ele escutou.
   - Minha irmãzinha pediu que eu viesse falar com você, eu não sei dizer não pra ela, e caso contrário eu sei que ela viria. - voltei os olhos pra parquinho e no balanço havia uma linda garotinha dos cabelos loiros e cacheados, ela sorrio pra mim e eu percebi que ela estava sem os dois dentes da frente, não me contive.
   -Só não deixa ela saber que você está rindo das janelinhas dela kkkk- eu concordei com a cabeça. - Você é nova aqui né? Nunca te vi antes.- eu novamente concordei com a cabeça, ele me olhou estranho e eu pensei estar sendo arrogante por quase não falar, mas ele que havia puxado assunto com uma estranha.
   -Me mudei hoje pra cá.
   -Tem irmãos?
   -Não, sou filha única. - estava me esforçando para sorrir.
   -eu tenho duas irmãs, são um tormento kkkkk- forcei uma risada e senti meu celular vibrando.
  -Com licença. - levantei e fui atender, era minha avó me avisando que chegou  e perguntando se estava tudo bem, disse que estava no parquinho do condomínio e depois subiria. Quando voltei ele não estava mais lá, nem a garotinha das janelas. Comecei a andar entre os prédios, senti tonturas e decidi subir.  Entrei e minha vó estava sentada assistindo um filme, tirei os sapatos e sentei com ela. Parecia que ela sabia que eu não estava bem, me abraçou e me fez cafuné, a muito tempo alguém não cuidava de mim. Eu senti algo dentro de mim, um calor no peito, parecia um abraço na alma. Eu fechei os olhos e me permite ficar ali sentindo o amor que transbordou dela em mim. O filme acabou e já estava escuro, ela sussurrou no meu ouvido se eu queria dormir no sofá, fiz que sim com a cabeça, mesmo de olhos fechados.

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